Gilson Lorenti 5 anos e meio atrás
Esse é um caso interessante. Vamos pensar. A maior parte das fotografias utilizadas em publicidade sofrem uma enorme carga de edição de imagem na pós-produção. Mas, isso não é de hoje. Desde que a fotografia surgiu existem maneiras de adulterar e modificar as imagens para que elas se encaixem às necessidades publicitárias. Tanto que a maior parte da ferramentas básicas do Photoshop foram inspiradas em ferramentas existentes nos laboratórios de revelação fotográfica. Porém, a meu ver, as coisas atingiram níveis absurdos. Já participei de alguns cursos de edição onde o profissional (famoso) mostrava algumas fotos que foram capas de revista comparando o antes e o depois da edição. A pessoa que surge na foto finalizada, muitas vezes, não possui nenhuma semelhança com a pessoa de verdade. Deixa de ser foto para se transformar em ilustração. Se você não acredita, então é só lembrar do caso Suzana Vieira.
Por conta dessa realidade, e do fato de adolescentes estarem se espelhando em um padrão de beleza que só existe no mundo dos pixels, alguns países do mundo evoluído começaram a pensar em leis que tem por objetivo avisar às pessoas quais fotos possuem manipulação e quais não possuem. Pode parecer frescura, mas é um caso de saúde pública. A bulimia é real e um problema muito grave.
Pois agora estamos vendo alguns efeitos práticos. No dia 01 de outubro entra em vigor, na França, a legislação que obriga qualquer peça publicitária a avisar ao consumidor quais fotos possuem intervenção via software para diminuição de peso (qualquer imagem de pessoa que possuir diminuição de medidas) ou aumento de atributos (como seios e nádegas). Quem infringir a lei estará sujeito a multas de até € 37.500. Infelizmente a lei não pegou pesado com outros atributos e pensou apenas na questão do peso. Você ainda pode mudar a forma do nariz, olhos, cor do cabelo ou deixar a pele com aparência de veludo. Se a legislação fosse abrangente neste nível iria inviabilizar totalmente a publicidade da indústria dos cosméticos.
O primeiro efeito da legislação francesa é que a Getty Images enviou um e-mail para todos os seus colaboradores dizendo que imagens que contenham as edições que a lei francesa está proibindo não serão mais aceitas no portfólio da empresa e nem no iStock.
Como o e-mail foi enviado para todos os colaboradores, a lei francesa afetou a política mundial da empresa. Ou seja, independente da imagem ser vendida ou não para a frança, eles proibiram todo o envio de fotos com as alterações proibidas em todo o serviço. Eles também não avisaram o que vai acontecer com as fotos que já estão no acervo e violam a nova regra. Lembrando que o Getty Images possui mais de 80 milhões de fotos em seus arquivos.
Sinceramente, essa lei é necessária simplesmente pelo fato de pessoas não conseguirem identificar o que é realidade e o que é fantasia no mundo da fotografia publicitária. Nós que trabalhamos com fotografia conseguimos identificar uma foto manipulada no primeiro olhar. Mas, existem pessoas que realmente acreditam que a Suzana Vieira possuí o corpo representado na foto acima. Essas pessoas precisam ser avisadas que o mundo é cruel e a perfeição não existe.