Carlos Cardoso 6 anos atrás
Vida de astronauta não é fácil. e nem digo de astronauta brasileiro, que tem que fugir dos cobradores nos corredores da NASA pois o país deu calote no carnê da ISS. Mesmo os com as contas em dia sofrem. Você tem que usar fraldas, dormir num armário. doar amostras até ficar sem nenhuma e é sondado em orifícios que nem sabia que tinha.
Um dia típico começa 06:00 e termina 21:30. Com 2,5 h no meio disso de exercícios obrigatórios. A culpa é dos custos. Manter uma pessoa na ISS custa US$ 7,5 milhões por dia. Estima-se que se uma empresa quiser contratar um astronauta para um trabalho específico seria cobrado um homem/hora de US$ 1 milhão.
Por isso na ISS os sujeitos trabalham até sábado, mas já foi pior, e chegou ao ponto em que os astronautas precisaram apelar para um recurso popular desde o tempo da Lisístrata: a greve.
Era 1973, a missão: Skylab, a mini-estação espacial lançada com o último Saturno V, reaproveitado depois que as missões Apolo finais foram canceladas. O Skylab estava cheio de problemas, por pouco a missão não se perdeu e grande parte do tempo de vida da estação foi gasto… mantendo ela viva. Por isso as pesquisas científicas foram prejudicadas. O jeito? Apertar o cronograma e espremer as horas dos astronautas.
Foram 84 dias 1 hora e 16 minutos onde Gerald P. Carr, Edward G. Gibson e William R. Pogue trabalharam sem parar. Exceto quando pararam. Uma das reclamações era que o cronograma da NASA era tão apertado que eles não conseguiam tempo nem para… olhar pela janela.
Como disse Gerald Carr, comandante da Missão:
“Em terra eu não acho que esperariam que a gente trabalhasse 16 horas por dia por 85 dias, então eu realmente não vejo porque deveríamos sequer tentar isso aqui em cima.”
A NASA discordou, e quando o cronograma começou a atrasar a ordem foi para usar o horário das refeições.
Mais que a carga horária o que irritava os astronautas era o microgerenciamento. Cada passo era coreografado e especificado, não havia margem de manobra, espaço para iniciativa individual. Lembre-se, a NASA especifica quantas voltas cada parafuso deve ser apertado. Os astronautas eram tratados da mesma forma.
Até o dia em que eles cansaram de reclamar. Os três, para o desespero da NASA decidiram tirar um dia de folga, no que se tornou a primeira e única greve/motim no espaço. O controle da missão entrou em desespero, mas não havia NADA que pudessem fazer.
Eles aproveitaram o tempo para relaxar. Ed Gibson, que era astrofísico passou o dia no Observatório Solar, fazendo ciência sem seguir as tabelinhas da NASA que diziam quantas fotos deveria fazer e em que momento.
Depois de um dia e percebendo que não podiam fazer NADA, a NASA cedeu, e concedeu aos grevistas suas reivindicações, incluindo mudar algo que só pode ter sido idéia de nerds sedentários: as horas de exercício eram imediatamente após as refeições.
Hoje astronautas não trabalham com horários mais tão puxados e não são mais tratados como robôs. Folgam nos domingos, aos sábados fazem meia jornada e suas tarefas não são definidas minuto a minuto. A ISS tem luxos e eles até assistem filmes. Tá certo que é Gravity…