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Os Doidos Preços do Conteúdo

15 anos atrás

Uma das perguntas freqüentes que escuto tem a ver com blogueiros iniciantes perguntando a seu Mestre e Inspiração (eu) quanto cobrar por um texto. A resposta mais honesta que poderia dar é "não sei", mas isso afetaria minha reputação como uma das maiores mentes criativas da Internet brasileira. <== está na Internet, é verdade.

Em teoria precificação é simples, mas também em teoria comunismo funciona. Deveríamos calcular o tempo que determinado texto levaria para ser composto, o grau de expertise necessário para produzir o texto e o custo dessa expertise, um fator considerando a demanda,a uma margem de lucro e mais uns penduricalhos.

Perfeito, certo? Não funciona assim. Tanto que os Sindicatos de Jornalismo publicam tabelas de referência para trabalhos de redação. (se alguém obedece é outra história). No final o valor da obra é custo de produção + margem da editora + margem do autor (simplificando, e a última é sempre menor).

Problema: Vejam as preços para as diversas versões do livro "I Am America and So Can You", de Stephen Colbert, no site da Amazon.com:

A edição mais barata, paperback (ou brochura) custa US$10,87. A mais cara, capa dura, custa US$17,81. Isso dá uma diferença entre elas de US$6,94.

Assumindo que a versão em papel mais barata ainda é mais cara de se produzir do que uma versão digital, cujo custo de armazenamento, impressão e distribuição são inexistentes, onde a "produção" pode ser feita sob demanda, e não há necessidade de imobilizar verba em estoques, a digital deveria ser em conta.

Expliquem a versão para Kindle custar US$14,84, ou U$3,97 a mais que a impressa.

Agora o download da versão em áudiobook. É a versão lida do livro, normalmente pelo autor. Envolve estúdio, edição, masterização, etc, etc. U$14,98. US$4,11 a mais que a versão papel (correto), mas apenas US$0,14 mais cara que uma versão kindle, que  é basicamente texto.

Piorando: Áudio CD, US$16,49. US$1,51 a mais que a versão de download. Em grande escala um custo de replicação de um CD ser de US$1,51 é um absurdo.

Terminamos com os preços mais caros e mais baratos sendo de livros em papel. O eletrônico, que viria para cortar custos, aumentar a margem dos autores, agilizar as vendas, livrar o mundo das cáries e colocar a Luciana Vendramini nos Trending Topics do Twitter não rolou.

O Kindle é muito legal, mas eu não consigo ver nada além de ganância para justificar esses números. E não, não aceito que estejam amortizando os investimentos. Se montassem uma gráfica e tentassem vender livros mais caros no começo, quebrariam.

Nosso Futuro Digital na literatura está sofrendo do mesmo problema que o nosso Futuro Digital na Internet Mobile: Estamos reféns de gente gananciosa demais para ver o quanto lucrariam com preços decentes.

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