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Apple esqueceu dos 15 anos do iPod: a linha subiu no telhado?

Depois de não mais reportar vendas e remover aba do site oficial, Apple ignora 15 anos do iPod; a linha de players de música chegou ao fim da estrada?

7 anos e meio atrás

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A Apple não tem mais como disfarçar: a linha iPod, outrora o orgulho da companhia é um zumbi. Evidências vinham sendo deixadas aqui e ali, mas o completo silêncio de Cupertino diante dos 15 anos do gadget completados ontem deixaram na cara que a maçã não mais dá a mínima para seus players de música.

E sendo franco, ela está certa em fazê-lo.

Em 2001 o mercado da música era muito diferente de hoje: não havia uma forma de consumo digital centralizado, as gravadoras caiam matando em qualquer software de compartilhamento que aparecesse (Napster por exemplo) ou de fabricantes de MP3 Players, sendo que o pioneiro Rio PMP-300 só havia dado as caras três anos antes. Haviam soluções de várias companhias, entre elas a Sony (o que levou a um caso hilário onde a companhia japonesa processou a si mesma).

O processo era exclusivamente manual: ripar CDs para MP3 (ou baixar da internet), conectar o player no computador e subir os arquivos. Comprar músicas diretamente na internet? Absurdo, nenhuma gravadora apostaria no formato que estavam dispostas a atomizar. Isso até Steve Jobs, que já estava de saco cheio de vender computadores resolver que queria fazer algo diferente. Ele detestava as ofertas disponíveis e por conta disso resolveu ele próprio (com a ajuda de Tony Fadell e Jony Ive) projetar um produto que nasceria como uma solução completa: hardware e plataforma de distribuição de conteúdo.

Assim, num evento especial realizado no dia 23 de outubro de 2001 Jobs apresentou a primeira versão do iPod Classic, junto com o iTunes.

https://www.youtube.com/watch?v=SYMTy6fchiQ

EverySteveJobsVideo — Steve Jobs introduces Original iPod - Apple Special Event (2001)

A gente costuma dizer que o iPhone foi uma revolução no mercado de telefonia, mas sendo sincero ela se limita aos fabricantes que migraram dos teclados QWERTY para as telas touch (você não, BlackBerry). O iPad foi a mesma coisa, o conceito de “slate” era bem diferente até o tablet dar as caras. Mas no caso do iPod o impacto foi numa escala muito maior.

O gadget sozinho viabilizou a distribuição digital de música, que foi estendida para outros formatos (filmes, séries, games, you name it). As gravadoras e artistas viram no iPod e no iTunes uma chance de recuperar parte das perdas com a pirataria, quando Jobs bateu o pé e provou que um dispositivo simples e uma plataforma confiável seriam mais do que suficientes para convencer o consumidor a gastar dinheiro com música novamente (o mantra de Gabe Newell: pirataria se combate com bons preços e serviços). Com o tempo o iPod se tornou sinônimo de MP3 e quase todos os concorrentes desapareceram, à exceção da Sony que ainda mantém viva a linha Walkman.

A Click Wheel do modelo clássico se tornou um ícone. O iPod em si representou uma liberdade de compra e consumo de mídia enorme, você deixou de precisar comprar um álbum inteiro para ouvir só uma música de que gostava. E quando todo mundo entendeu isso, o dinheiro começou a entrar.

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Bono e Jobs: salvando o mundo um iPod por vez

O iPod evoluiu bastante nesses 15 anos, se desdobrando em vários modelos (Classic, Nano, o finado Video, Shuffle, Touch) e vendeu horrores em todo o planeta, só que em 2007 o iPhone chegou. A Apple, que agora gozava de uma saúde financeira invejável graças à família de players de música resolveu entrar de cabeça na telefonia, mais uma vez mudando paradigmas inclusive no que dizia respeito ao consumo de mídia.

Embora os 160 GB do iPod Classic fossem suculentos era óbvio que muita gente preferia carregar um aparelho ao invés de dois. O iPhone já fazia tudo que os modelos mais poderosos faziam e com o tempo, começou a canibalizar o mercado não só deles como também do Nano e do Shuffle, os iPods “de entrada” (convenhamos que um aparelho com 2 GB de armazenamento, sem tela e que custa R$ 399 não é exatamente acessível. O Nano por R$ 1.199 então…). Conclusão, a Apple mudou o foco para o iPhone, o iPad e a linha legada Mac, além da Apple TV.

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Cadê?

Nos últimos tempos vimos os resultados desse abandono da linha iPod: o Classic foi descontinuado em 2014, não só por não mais existirem peças como era imperativo aniquilar a porta de 30 pinos, e remodelá-lo não valia a pena. Os novos produtos não são mais anunciados em eventos. Em janeiro de 2015 a Apple anunciou que deixaria de informar os números de venda da linha. Hoje o site oficial não mais destaca os iPods, é preciso rolar a página e ir até o rodapé na seção “Descobrir e Comprar”. E é o último item de hardware listado, seguido apenas pelo link para os acessórios.

Ontem o iPod completou 15 anos. Normalmente a Apple costumava soltar um comunicado à imprensa, ou dar um destaque ao gadget em seu site. Este ano, nada. Nem um tweet, nem uma campanha na iTunes Store. Completo silêncio. É como se ele sequer existisse e a bem da verdade, é por aí mesmo: hoje mais de 50% do lucro da Apple vem do iPhone, com o restante preenchido por Mac, iPad e outros. No frigir dos ovos os iPods dão ponto de audiência, ninguém mais está tão propenso a adquirir um iPod Touch quando pode ter a mesma coisa com um iPhone, com a vantagem deste ter conexão de dados 4G (porque ninguém mais faz ligações de voz).

Não chega a ser surpresa portanto. Por mais que os iPods ainda fascinem muita gente, gastar energia com uma linha legada que tem menos participação de mercado do que o “hobby” de outrora Apple TV é coisa para a Sony com a linha Walkman. Embora nada aponte para que num futuro próximo Cupertino descontinue os gadgets para consumo de música, é bem provável que no momento em que não for mais vantajoso para a empresa mantê-los é o que acontecerá. Portanto, se você ainda pretende adquirir um iPod para sua coleção é melhor correr.

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