Carlos Cardoso 7 anos atrás
A Índia é uma Belíndia. Em explico. Belíndia é uma metáfora criada por Edmar Bacha em 1974 para descrever o Brasil, um país com uma autoimagem, uma estrutura tributária e uma elite que se acha a Bélgica, mas uma realidade sócio-econômica da Índia.
Isso, claro, em 1974. Hoje a Índia tem vários Prêmios Nobel na gaveta, um programa espacial invejável e uma desigualdade social que lembra a Índia de 1974, ou o Brasil de 2016. A situação é mais complicada por causa de um sistema de castas e tradições religiosas profundas, você tira o sujeito da bosta mas não tira a bosta do sujeito, literalmente.
Como vacas são sagradas por lá, e não são abatidas ou impedidas de circular livremente, um subproduto abundante (com trocadilho) é bosta, que a população mais pobre aprendeu a utilizar das mais variadas formas. Misturada com palha, amassada em forma de discos e seca ao sol, a bosta de vaca vira combustível para fogueiras, material de construção, incenso e muito, muito provavelmente o frisbee mais deprimente com o qual uma criança já brincou.
Nas grandes cidades há menos disponibilidade de bosta mas o pessoal ainda gosta de se lembrar da infância no interior, e como onde há demanda há oferta, vários sites como eBay e Amazon começaram a vender… bosta de vaca.
Há quem compre para queimar como incenso e rezar, outros para sentir um calorzinho gostoso e um cheiro dos velhos tempos, e a moda pegou. Há bosta para todos os gostos, sites locais de ecocômerce como o ShopClues apresentam uma linha completa, 106 produtos, nunca vi tanta bosta junta desde a linha de celulares android de menos de US$50 daquele site xing-ling.
Não deixa de ser uma bela lição de otimismo. Enquanto muita gente prefere ficar reclamando da crise, de que não dá sorte, que tá ruim pra todo mundo, enquanto o sujeito prefere reclamar que está na merda, há gente ganhando dinheiro vendendo bosta.
Fonte: AP News.