Carlos Cardoso 9 anos atrás
Nos últimos tempos o mundo está vivendo uma mini-guerra fria. Décadas de relações com a Rússia estão indo pro ralo. É uma pena. Durante a Crise dos Mísseis de Cuba, enquanto Magneto ficava de papagaiada na praia, submarinos russos estiveram a minutos de lançar torpedos nucleares nos porta-aviões americanos. De lá pra cá surgiu toda uma rede de cooperação e amizade, com missões espaciais, McDonald's em Moscow, solidariedade em 11/9 e em Beslan, e muito mais.
Agora, em busca de bicho-papão para culpar a situação de seu país, que economicamente vem abaixo do Brasil em termos de PIB, Putin reinventa uma disputa ocidente/oriente que não faz mais sentido. Pior, está apelando para políticas expansionistas, como a palhaçada que foi a invasão-fantasma da Ucrânia, quando centenas de tropas e blindados surgiram do nada, tornando os rebeldes separatistas da Criméia uma das maiores forças militares do mundo.
Como resultado a ONU mandou várias cartas bem ríspidas e a OTAN usou seu poderio para… impor sanções, bem sérias, como congelar contas de indivíduos e impedir que viagem para os EUA. A parte ruim é que entre os que sofreram sanções está Natalia Poklonskaya, Promotora-Chefe da Criméia, que anexou o coração da Internet:
Do lado espacial a situação também não está boa: sobrou pro Brasil e tem gente preocupada com a situação dos astronautas na Estação Espacial. No meio disso alguém lembrou que os motores dos foguetes que a United Space Alliance usa para lançar satélites para o Governo dos EUA, são feitos na Rússia.
Elon Musk, que é o Tony Stark no horário do expediente, entrou na Justiça para embarreirar a compra desses motores, alegando que além dos lançamentos da ULA serem caríssimos, a dependência tecnológica para algo estratégico como lançamento de satélites militares era algo não-desejável. A Justiça comprou a idéia de Musk e embarreirou o uso dos motores russos RD-180.
Os gigantes da aviação que formam a ULA estavam preparando um contra-ataque fenomenal, com sua horda de advogados, mas agora não será mais preciso.
Informa o Russia Today que Moscow baniu o uso (sendo realista, a venda) de motores RD-180 para os EUA. Isso significa que quando o estoque acabar, em dois anos, não haverá NADA para impulsionar os foguetes Atlas. Pior, o desenvolvimento de um motor desses come uns 5 anos.
Dmitry Rogozin, primeiro-ministro, czar da área de defesa e indústria espacial da Rússia disse que também vão fechar 11 Estações GPS em território russo, usadas para calibração dos satélites, aumentando a precisão das informações de geoposicionamento. Não é nenhum fim do mundo, mas causa incômodo.
Elon Musk deve ter tirado o dia pra celebrar. Provavelmente fechou as portas da SpaceX depois que o carregamento de champã e Bala 12 foi entregue, e falou “todo mundo pelado!”. O que é bem menos interessante do que parece, em engenharia. Agora a SpaceX e a Orbital Sciences são as únicas alternativas nacionais.
Mesmo que a crise se resolva em menos de dois anos, o mal já está feito. Globalização é legal mas de vez em quando morde a mão que a alimenta.