Ronaldo Gogoni 9 anos atrás
Uma regra básica: não é porque você pode ou tem permissão para fazer tal coisa que isso é certo. A Microsoft por exemplo vive criticando o Google com sua campanha Scroogled, já que a gigante de Mountain View pode e coleta dados de todos os seus usuários e os vende a empresas, seus verdadeiros clientes. Só que Redmond acabou de experimentar de seu próprio veneno.
O caso todo envolve Alex Klbkalo, o ex-funcionário da Microsoft que foi preso por vazar informações sigilosas da empresa como cópias de versões beta, screenshots e atualizações não lançadas do Windows 8 para um blogueiro francês. Ele inclusive teria enviado o SDK do Microsoft Activation Server, programa que caso sofresse engenharia reversa permitiria que um hacker criasse métodos para burlar a ativação do Windows, tornando a vida dos pirateiros mais simples. O grande problema se deve a como a Microsoft conseguiu ter acesso à provas cruciais que levaram ao enjaulamento de Kibkalo: ela de fato invadiu a conta do Hotmail do blogueiro, onde encontrou as mensagens comprometedoras.
Veja bem, isso não é de fato ilegal: os Termos de Serviço do Outlook.com deixam bem claro que a Microsoft tem o direito de acessar a conta do usuário e analisar o conteúdo de sua caixa de mensagens, mas ser legal não quer dizer que é moral. Principalmente ao admitir que faz algo do qual acusa o Google veementemente. Na prática todo mundo faz isso, mas deve imperar a máxima da Mulher de César: não basta ser honesta, tem que parecer honesta.
A empresa agora promete que vai rever sua política de privacidade, no que ela chamou "ordem judicial simulada": como a justiça dos Estados Unidos não dispõe de mecanismos que exijam de uma empresa um mandado para acessar seus próprios dados (juridicamente os e-mails não são seus, mas do provedor do serviço), então a própria equipe jurídica da Microsoft atuará como um júri prviado, que determinará se é certo vasculhar essa ou aquela conta. Parece estranho visto que é uma decisão interna da própria Microsoft, mas é melhor do que nada. Ainda assim a decisão será submetida a um juiz externo que dará seu parecer, já que não possui poder para legislar sobre esses casos.
Para concluir a Microsoft promete publicar um relatório de transparência a cada dois anos, que detalharão o número de buscas realizadas e quantos usuários tiveram suas contas reviradas. Ainda que não seja o cenário ideal, é melhor um posicionamento oficial do que simplesmente dar de ombros e continuar a fazer a mesma coisa, que é o jeito Google de fazer as coisas.
Fonte: The Verge.