Meio Bit » Arquivo » Ciência » Avião da Malásia no meio do jogo de espiões

Avião da Malásia no meio do jogo de espiões

Nessa história toda do avião desaparecido da Malásia, onde entram satélites e outras peças de tecnologia? Será que tantos anos espionando não renderam tecnologia que pode ser útil agora? A resposta é sim, mas também é “sim mas não vão usar”. O motivo? Ninguém mostra as cartas antes da hora.

10 anos atrás

Soviet-Spy-Ship

Navio-Espião soviético em Cuba, 1971. Comunistas não acreditam em Zarcão.

Em um dos vários incidentes curiosos da Guerra Fria, nos Anos 70 os soviéticos distribuíram fotos da Área 51, nome dado por ufeiros para as instalações em Groom Lake, Nevada. Era uma base aérea nas margens de um enorme lago seco, usada para testes de equipamentos e aviões altamente secretos, como o SR-71.

Por anos a própria existência da base era segredo. Ela sequer constava nos mapas, e sobrevoar a região sem autorização era punido com no mínimo perda da licença de piloto. As imagens divulgadas pelos russos foram as primeiras que os cidadãos americanos viram, o que causou bastante embaraço para o governo, mas também forneceu dados vitais sobre as capacidades dos satélites do inimigo. 

Não quer dizer que aquelas eram as capacidades totais. Ninguém em sã consciência acredita que o zoom máximo foi usado. Esse tipo de informação é altamente secreto. Nos EUA mesmo ver uma foto de satélite militar de reconhecimento sem autorização é caso de 20 anos de cadeia. Sem condicional.

Sempre vemos vídeos de caças e helicópteros em combate. Desde a Guerra do Golfo era normal qualquer telejornal passar cenas de bombas inteligentes acertando alvos, mas você acha mesmo que aquela resolução porca de Atari é o que os pilotos vêem?

Os vídeos são artificialmente degradados, bem como as imagens de satélites. Hoje os comerciais conseguem resolução de 1 m/pixel. Você duvida que o Pentágono consiga imagens bem melhores faz tempo?

Agora, com a busca do 777 do vôo MH-370 os países estão vivendo um dilema. Todo mundo quer ajudar. Há uma frota internacional varrendo o oceano. Só a China mobilizou 21 satélites para a tarefa. Isso diminui a vida útil deles, pois implica em alterar a órbita, queimando combustível. Mas também implica em mostrar ao mundo a real capacidade do seu equipamento.

Como resultado a primeira imagem de destroços, divulgada pelo Governo chinês foi oriunda de uma confusão burocrática. Alguma agência querendo mostrar serviço pegou sem autorização uma imagem de outra agência, soltou, navios e aviões foram deslocados e no final não era nada relacionado com o acidente.

china_sat_images_0

Piora. O Governo da Malásia sabia, pelo menos uma semana antes que o avião continuou voando por horas, mas não avisou ninguém, deixando que as equipes fizessem buscas no lugar errado. O motivo? Não queriam divulgar informações obtidas de radares militares, inclusive da Tailândia.

Estamos vendo um esforço internacional de resgate com mais de 20 países, nenhum deles disposto a abrir mão de seus segredos militares. A situação é tão ridícula que a Malásia diz que no segundo e no terceiro dia um satélite estava participando das buscas, mas não diz de qual país é o satélite. Como nenhum pinguim foi morto, não é brasileiro.

Agora a Austrália diz que localizou destroços, uns 3.000 km da costa de Perth. Um deles com 24 m de comprimento.

hobejetos

As autoridades estão MUITO cautelosas, explicam que pode não ser nada, que só saberão quando aviões e navios acharem os tais objetos. É bem possível que sejam containers. Entre 2.000 e 10 mil são perdidos anualmente, o que dá uma idéia do tamanho do comércio marítimo internacional. Um container pode flutuar por mais de 2 meses, por dezenas de milhares de quilômetros.

O pior é que a grande resposta já é do conhecimento pelo menos dos EUA, Rússia e China. Todos eles possuem satélites com capacidade de identificar visualmente  os destroços, e determinar se são containers ou não. Só que não podem e não vão fazer isso.

Na 2ª Guerra, mesmo depois que os ingleses decifraram as comunicações alemães e sabiam tudo que eles conversavam, tropas caíram em emboscadas, foram enviadas para batalhas onde o inimigo estava muito mais bem-armado e atacaram alvos que já não eram importantes. Isso tudo para que Berlim não desconfiasse que suas comunicações estavam sendo interceptadas. É uma decisão horrível mas tinha que ser feito.

Nenhum lado vai admitir que tem satélites fazendo reconhecimento visual automático e visualizando o mar em resolução multiespectral sub-metro. No máximo vão dar a dica, mostrando o milagre mas escondendo o santo, talvez até despistando dizendo que outro país — tipo a Austrália — localizou o avião.

É ridículo, eu sei, mas é assim que a Comunidade de Inteligência trabalha.

Leia também:

Leia mais sobre: , , , , .

relacionados


Comentários