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Homem preso por roubar eletricidade para abastecer seu carro elétrico

O caso é ridículo: sujeito foi em cana por enfiar o plugue do carro elétrico na tomada da escola sem pedir licença. Mas será que não há uma cultura da Lei de Gerson, oculta no meio disso? E quando a tomada de cortesia virar uma exigência? Quem paga a conta? Leia e (não) descubra.

10 anos atrás

anelectricca

O Nissan Leaf é um carro elétrico feito para quem quer pagar preço de BMW 320i, mas como está salvando o planeta, em troca recebe um hatchback compacto com performance de Fiat Uno. Mesmo assim os usuários estão satisfeitos, pois raramente vão muito longe, então entre o trabalho na mercearia natureba e as reuniões do Greenpeace no fim da rua, os cento e poucos quilômetros de autonomia do Leaf não são problema.

Mesmo assim a gente nunca sabe quando vai precisar dos últimos watts, então qualquer oportunidade de recarregar o bicho deve ser aproveitada. Imagine que seu carro tem no lugar do tanque uma garrafa de Coca-Cola, gasolina seja muito barato mas você só pode colocar de conta-gotas.

Por isso um tal de Kaveh Kamooneh, de Atlanta resolveu aproveitar. Foi levar o filho na escola, pra uma aula de tênis, quando reparou na parede da escola uma tomada dando mole. Puxou o cabo de chupeta, espetou e ficou vendo a energia entrar.

Só que quem viu também foi um policial, que deu uma bela enquadrada, dizendo que espetar o carro na tomada da escola era roubo de energia. Kaveh tentou negociar, mas como não tem o bom e velho jeitinho brasileiro, foi enquadrado.

11 dias depois dois policiais bateram na porta de Kaveh e o prenderam. Ele passou 15 h no xilindró, bem mais que os 20 min que seu carro permaneceu conectado na tomada, roubando o equivalente a US$ 0,05 de energia.

Segundo afirma Kaveh, seu carro chupa 1 kWh da tomada. Pros padrões americanos é pouco, no Brasil equivale a um ar-condicionado, então se você quer comprar um desses para economizar, esqueça. O Nissan Leaf puxa na verdade 1,4 kWh de tomadas comuns, recarregando o equivalente a 8 km de autonomia por hora. Imagine um ar-condicionado ligado no talo todo dia umas 10 horas. Inverno e verão.

O preço médio de 1 kWh nos EUA é de R$ 0,29. No Brasil valores de R$ 0,40 ou superiores são comuns.

O caso do gringo entretanto não é só uma questão de custo, é bem mais complicado. Sim, era uma escola pública, mas temos o direito de sair monopolizando tomadas assim? A prisão em si foi ridícula, um exagero sem-tamanho, culpa de um guardinha com delírios de grandeza, mas fica a dúvida: essa cortesia durará quanto?

Lembro dos vídeos dos brasileiros espertões indo pegar refil de refrigerante na lanchonete e enchendo garrafões de 5 L. Um local ecologicamente consciente que disponibilize uma tomada para carros elétricos começará a ouvir reclamações, quando eles se popularizarem. Mais e mais motoristas vão querer tomadas, e logo de um ar-condicionado o sujeito passará a ter o equivalente a 5, 6. E ninguém quer pagar por isso afinal é… cortesia.

Legalmente, é um imbroglio. Você não pode revender gasolina e não pode revender eletricidade. A rigor não pode revender nem internet, por isso quem disponibiliza, o faz de graça, mas qual o incentivo, quando o custo é muito alto?

O grande e ainda insolúvel problema dos carros elétricos é a autonomia. Eu sei que no papel é lindo, mas no mundo real esqueça de deixar o bicho recarregando uma noite, e bem-vindo de volta ao busão. A Tesla está tentando amenizar isso construindo postos de recarga pelo país, mas os motoristas precisam entender que começar uma nova indústria do zero É complicado, custa caro e precisam fazer a parte deles também.

Isso significa PAGAR por eletricidade, mostrar que querem salvar o planeta com seus bolsos, e que os comerciantes, escolas, parques que colaborarem com estações de recarga serão recompensados. Kaveh Kamooneh podia PELO MENOS ter perguntado se podia usar a tomada da escola.

Afinal, a regra é clara: chupeta de graça é um privilégio, não um direito.

Fonte: GG.

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