Emanuel Laguna 9 anos atrás
No que tange a botânica, o único experimento que fiz foi plantar feijões em algodão e, pouco depois, pegar um frasco de margarina vazio, colocar-lhe pedras no fundo e preenchê-lo com terra para ver novas plantinhas se desenvolverem melhor que no algodão. Se não me engano, um dos pés chegou a florescer após uns três meses. O problema foi que a criança aqui na época não chegou a cuidar tão bem das plantas após aparecer a primeira vagem e nem sei que fim levou isso: provavelmente virou adubo num lixão.
O pequeno Manel mal sabia que, caso colocasse o conjunto dentro de uma garrafa de vidro, provavelmente esses pés de feijão estariam vivos até hoje: o inglês David Latimer plantou um pequeno jardim numa garrafa de 38 litros em 1960 e regou tais plantas uma última vez em 1972, isso antes de selá-la hermeticamente para um pequeno experimento que continua vivo até hoje, pouco mais de 53 anos depois.
Nos últimos 40 anos, as plantas ornamentais do gênero Tradescantia têm preenchido o interior desse garrafão redondo exibindo uma folhagem bem saudável sem nenhuma intervenção externa, necessitando apenas ficar perto da janela: um ambiente fechado desses não pode ficar diretamente exposto ao sol, pois acabaria cozinhando as plantas. Dependendo das plantas, cozinhá-las talvez não seja ruim, if you know what I mean.
Enfim, a planta original cresceu e se multiplicou, dando origem a várias mudas: como o conjunto tinha acesso à luz natural, continuou realizando a fotossíntese. Parte da água na garrafa é consumida pela planta e sai do vegetal na forma de vapor, que condensa e retorna para o fundo numa versão em miniatura do ciclo da água: outro ciclo ocorre quando uma folha morre, cai e é decomposta por bactérias, deixando nutrientes para mais folhas crescerem.
Parece mas não, não é aquela plantinha que faz “cigarrinho de artista” (Crédito: Dailymail UK)
O que o senhor Latimer fez foi um experimento científico simples chamado terrário, um viveiro fechado que permite aos botânicos estudar o delicado equilíbrio da natureza e como esse pequeno ecossistema prosperaria (ou não). O interessante de conter esse viveiro numa garrafa de vidro seria a facilidade de montar algo assim: basta misturar plantas, terra com algum adubo e umidade, deixando tudo isso num ambiente minimamente ensolarado.
Uma planta da mesma família (Commelinaceae) dessa Tradescantia do terrário quarentão, a Tradescantia pallida var. purpurea, é encontrada com facilidade em canteiros e jardins da cidade de São Paulo e já foi tema de estudo, servindo de monitor biológico para a genotoxicidade das radiações ionizantes. Pobres plantinhas, não são tão fofinhas quanto beagles.