Ronaldo Gogoni 10 anos atrás
Não é só no Brasil, mas dengue e malária ainda são problemas de saúde pública mundial, principalmente nos últimos anos em que os países em desenvolvimento estão se urbanizando cada vez mais. No caso da malária, a doença transmitida por mosquitos do gênero Anopheles mata de um a dois milhões de pessoas por ano em todo o planeta. Por mais que as campanhas de combate aos mosquitos tanto da malária quanto de dengue sejam repetidas todo ano, não adianta muito quando a população não faz sua parte. Pombas, o Rio de Janeiro tem surtos de dengue todo verão!
Porém duas equipes distintas em momentos e lugares diferentes propuseram uma abordagem diferente, apesar de idêntica: infectar o vetor de modo que ele não consiga transmitir a doença.
O micro-organismo em questão é a bactéria Wolbachia, capaz de tornar seus hospedeiros resistentes a certas patogenias, além de reduzir o ciclo de vida dos mesmos. Ela infecta cerca de 76% de todas as espécies de insetos da Terra, mas convenientemente (para os mosquitos) não os transmissores de dengue e malária.
A ideia era contaminar os mosquitos e garantir que a Wolbachia fosse transmitida através das gerações. Após quatro anos de pesquisa com nosso velho conhecido Aedes aegypti, uma equipe de cientistas australianos conseguiram garantir que a bactéria fosse replicada de geração em geração, onde ela faz um verdadeiro estrago: de modo a garantir sua sobrevivência, ela destrói toda uma geração de ovos não infectados ao invadir uma fêmea, a fim de se replicar quando ela se acasala com um macho também contaminado. A experiência deu tão certo que foi repetida no Vietnã.
Mas os mosquitos da malária são diferentes: por vinte anos tentativas de infectar o Anopheles stephensi, espécie que ocorre no sul da Ásia foram infrutíferas. Agora pesquisadores da Universidade de Michigan liderados pelo Dr. Zhiyong-Xi dizem que não só conseguiram como mantiveram a contaminação por 34 gerações. A cada geração a fêmea repassa a Wolbachia com 100% de incidência. Em testes, ao infectar apenas 5% das fêmeas, todos estavam contaminados em apenas oito gerações. Claro, para garantir a taxa é preciso infectar o dobro de machos para evitar acasalamentos entre casais sadios. O resultado da pesquisa foi publicado na Science.
O desafio da equipe agora é verificar se o A. gambiae, responsável pela maior parte das infecções por malária da África, se comporta da mesma maneira. Espero realmente que vá para frente, tudo para nos livrarmos desses mosquitos chatos!
UPDATE: graças a links compartilhados nos comentários vimos que o projeto realizado na Austrália foi importado para o Brasil e está sendo conduzido em conjunto com a Fundação Oswaldo Cruz. A expectativa é de soltar os mosquitos contaminados com o Wolbachia já no ano que vem. 🙂
Fonte: Science via Ars Technica.