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Hollywood foi superada: pagers explosivos de Israel

Hollywood não chega aos pés da realidade quando se trata de planos mirabolantes de Israel. Desta vez foi entregar aos terroristas do Hezbollah pagers explosivos!

17/09/2024 às 21:52

Hoje Hollywood foi humilhada. Em uma operação mirabolante que colocaria no chinelo qualquer Missão Impossível, Israel (sejamos honestos, foi Israel) atacou simultaneamente milhares de membros do Hezbollah, a organização terrorista que controla o Líbano.

Boom! (Crédito: Flux)

O ataque foi sincronizado, detonando os pagers que os terroristas usavam para se comunicar.

Mas Cardoso, por que pagers?

Eu explico, pequeno gafanhoto.

Israel é muito bom em guerra eletrônica, já usaram celulares para guiar mísseis, e interceptam tudo que é comunicação em redes públicas feitas pelo povo do Hezbollah, Hamas, etc. Como não é muito inteligente dar ao inimigo sua localização de bandeja, o Hezbollah teve a brilhante idéia de mandar seus homens pararem de usar celular, trocando o equipamento por pagers.

Ao contrário do celular, o pager é 100% passivo (ui!) e não transmite nada (existe pager que envia mensagens, mas não vamos complicar). Uma mensagem de pager se resume a uma ID do aparelho e uma mensagem curta de texto, a transmissão usa um protocolo chamado FLEX, patenteado pela Motorola.

Um pager vintage da Motorola (Crédito: Wikimedia Commons)

Transmitido na faixa de 900MHz e com potência de 1kw, os sinais de pager costumam chegar em lugares onde o sinal de celular não alcança, como áreas subterrâneas, interior de prédios etc. Por isso eles foram muito populares entre profissionais de saúde, era garantia de que seriam localizados.

Uma mensagem do Chefão do Hezbollah para um agente com a mensagem “me liga” não tem como ser rastreada por Israel, pois a mensagem é enviada de uma central da operadora de pager. Mesmo que a operadora esteja comprometida, não há como saber onde o agente está, ou se ele respondeu a mensagem.

Pagers Explosivos?

A internet está em polvorosa especulando sobre como Israel teria explodido os pagers. Tem gente dizendo que “hackearam” os pagers para provocar um superaquecimento da bateria, mas isso é basicamente impossível.

O que seria um dos pagers detonados (Crédito: reprodução internet)

Pagers não são inteligentes o bastante para serem hackeados. Não há update de firmware OTA (over the air), o protocolo é simples demais para isso.

Os vídeos também não corroboram a hipótese de aquecimento de bateria. É claramente uma explosão, e uma bateria Li-Ion superaquecida pega fogo, mas não explode.

Os pagers explodindo simultaneamente também não favorecem a ideia. Baterias em estágios diferentes de carga se comportariam de forma variada, as detonações foram muito precisas.

Há gente dizendo que Israel injetou Pentaerythritol Tetranitrate (PETN), um explosivo poderoso nas baterias, e provocou um aquecimento que detonou a carga, mas a temperatura de detonação do PETN é de 4.230 °C, e uma bateria aquecida não chega nem perto disso.

Também há pouco espaço em uma bateria para algo ser “injetado”. E o pequeno detalhe que o modelo utilizado pelo Hezbollah usa pilha-palito, não baterias de Lítio.

Relatos falam de que alguns pagers foram examinados e continham entre 10g e 20g de explosivos, o que condiz com os vídeos.

Cenário Possível

Aparentemente Israel invadiu a cadeia de produção dos pagers, depois de descobrir que o Hezbollah havia encomendado um lote bem grande do AP-900, da Gold-Apollo, de Taiwan.

Em algum momento esse lote de pagers foi alterado, recebeu a carga explosiva e foi devolvido ao estoque. Isso por si só já é um feito de espionagem que coloca no chinelo a maioria dos filmes, mas há um problema: Como detonar os pagers?

Em teoria seria possível criar um receptor de rádio para isso, mas exigiria um transmissor potente nas várias regiões do Líbano onde o Hezbollah opera, e ocuparia muito espaço. Minha hipótese é que Israel, fazendo jus às piadas, decidiu economizar e usar o hardware do próprio pager.

Protocolo Promíscuo

Um pager não recebe só as mensagens destinadas a si mesmo. O protocolo (FLEX, POCSAG etc) diz que o hardware irá receber todas as mensagens, identificar o destinatário e só gravar as destinadas àquele pager, mas lá nos Anos 90 a gente já modificada nossos pagers para receber TODAS as mensagens da rede.

Microcontrolador programável HT66F002 (Crédito: Reprodução Internet)

Um simples microcontrolador de alguns centavos, como o HT66F002 pode ser programado para monitorar os sinais que o pager recebe continuamente, identificar uma seqüência de texto específica “0-0-0-destruct-0”, “say goodnight, Gracie”, ou qualquer outra frase que você sabe que não será enviada aleatoriamente por alguém, e quando identificada a frase, enviar um sinal para o detonador ligado ao explosivo.

Um microcontrolador desses consome energia em quantidade desprezível, e seu tamanho é mínimo. Nenhum usuário perceberia algo diferente no pager.

Como segurança, Israel poderia até ter atrelado a detonação à mensagem E ao ID de um pager específico. Assim para que todos explodissem, a mensagem com o texto XXX seria enviada para o pager YYY, uma segunda camada de proteção contra detonações acidentais.

Esse cenário é 100% hipotético, mas explica como seria possível detonar os pagers.

Compensou o investimento, uma operação mirabolante para matar oito ou nove candangos? Matemática e financeiramente, não, mas psicologicamente foi um 11 de setembro para o Hezbollah, Israel demonstrou que eles não estão seguros, em lugar nenhum, nem com seus pagers.

Todo equipamento eletrônico do Hezbollah agora será vistoriado minuciosamente, o que causará transtornos, atrasos e problemas logísticos. Provavelmente voltarão a usar celulares, já que é tudo arriscado do mesmo jeito.

Quando os detalhes irão emergir? Talvez nunca, mas uma certeza é que veremos essa ideia ser usada em séries e filmes, e alguém irá reclamar dizendo que é mentira de Hollywood. E estará certo, pois como bem disse Tom Clancy, a ficção precisa fazer sentido, a realidade, não.

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