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Josh Sawyer e a autocobrança oriunda do sucesso

Mesmo com uma carreira brilhante, Josh Sawyer declarou que não conseguiria entregar um RPG que conquistasse um grande público, como fez o Baldur's Gate 3

14/08/2024 às 10:00

Após mais de 20 anos de carreira, Josh Sawyer conseguiu eternizar seu nome na indústria, tornando-se uma pessoa muito importante quando se trata de RPGs ocidentais. Mesmo assim, o game designer não tem escondido uma certa decepção com o seu último trabalho no gênero e voltou a questionar se possui capacidade para entregar um título que consiga alcançar um público mais amplo.

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

A primeira vez que vi Josh Sawyer lamentar as vendas do Pillars of Eternity II: Deadfire foi em 2019, quando ele publicou um desabafo em seu blog pessoal. Naquela ocasião, o diretor falou sobre a dificuldade em entender por que a continuação de um título aclamado — e que também foi bem avaliada — registrou vendas relativamente baixas.

Segundo Sawyer, nunca ficou muito claro os motivos que levaram as pessoas a não gostarem tanto daquele jogo. Por isso, a sua sensação foi de que, no fim das contas, talvez ele e sua equipe apenas não tenham conseguido entregar o que o público queria.

Incertezas a parte, desde então o brilhante game designer lançou apenas um título, o Pentiment, que mesmo tendo recebido muitos elogios, pertence a um estilo bem diferente de tudo o que ele já havia criado. Será então que Josh Sawyer desistiu dos RPGs? Pois um vídeo publicado em seu canal no YouTube não parece muito animador.

Ao ser questionado se o enorme sucesso alcançado pelo Baldur's Gate 3 poderia servir como incentivo para a criação do Pillars of Eternity III, ele afirmou que algo que poderia dificultar essa produção é a quantidade de dinheiro que seria necessária para fazer algo no nível do que o Larian Studios nos entregou.

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

“O dinheiro não corrige todos os problemas, mas há algumas coisas que simplesmente não podem ser feitas sem dinheiro,” disse. “Por exemplo, a qualidade de produção dos modelos dos personagens, as cinemáticas especialmente, toda a animação, é uma loucura. É muito tempo e dinheiro, é uma proposta cara.”

O comentário é parecido com outro feito por Josh Sawyer em 2023, quando declarou que se tivesse um orçamento parecido com o do Baldur's Gate 3, poderia criar um Pillars of Eternity III. Como hoje a Obsidian Entertainment pertence à Microsoft, ao menos na teoria o dinheiro não seria um problema, mas ele admitiu que talvez nem assim conseguiria repetir o sucesso comercial daquele jogo.

Com uma aparente franqueza que raramente vemos nesse meio, principalmente partindo de alguém na posição de Sawyer, ele desabafou:

“Olhando para o Deadfire e como ele foi recebido e olhando para o BG3 e como ele foi recebido, sinto que não tenho o pulso para aquele público, mesmo que já tenha feito isso. Se tinha há 20 anos, ou tenho agora, não acho que tenha agora. Coisas que [os jogadores] gostam e não gostam, mecanicamente, em termos de história, coisas assim. Ou quando entendo, eu não gosto.

Então, sinto que estou meio fora de contato com aquele público de uma forma que — se você quiser me dar uma pilha de dinheiro para criar um jogo, eu o farei. Não acho necessariamente que irá agradar ao público, o mesmo público do Baldur's Gate 3 e fazer esse dinheiro retornar.”

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

Tendo trabalhado na criação de jogos como Icewind Dale, Icewind Dale II, Alpha Protocol e Fallout: New Vegas, Josh Sawyer estaria numa posição que lhe permite fazer uma declaração como essa. Contudo, fico me perguntando como tal posicionamento seria interpretado durante a pré-produção de futuros projetos. Será que aqueles que controlam o dinheiro encarariam bem a ideia de financiar um RPG que teoricamente não alcançariam um público tão grande?

Por outro lado, o Baldur's Gate 3 subiu tanto a barra que não parece justo comparar futuros lançamentos a um dos jogos mais bem-sucedidos dos últimos anos, uma cobrança que certamente recairá sobre o próprio Larian Studios. Sendo assim, o ideal seria que tanto a alta cúpula da Microsoft quanto Josh Sawyer tivessem plena noção de que alcançar uma quantidade menor de pessoas talvez não seja assim tão ruim.

Porém, pensando pelo lado da editora, é natural que eles não estejam dispostos a investir pesado em algo cuja garantia de retorno seja tão baixa. Se para criar um Pillars of Eternity III seria preciso algumas dezenas de milhões de dólares, é óbvio que a Microsoft desejará alcançar o maior público possível e a julgar pelas palavras do game designer, ele poderia não ser visto como a pessoa certa para fazer isso.

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

Já em relação a Josh Sawyer, não o julgo por demonstrar uma certa insegurança quanto a sua capacidade, mesmo já tendo feito tanto. Talvez nem seja o caso dele, mas alguém sentir que profissionalmente é uma fraude não é algo incomum, com muitas pessoas duvidando de como conseguiram chegar ao posto que ocupam.

A síndrome do impostor é algo que aflige muitas pessoas e mesmo sem querer diagnosticar o game designer com tal condição, acredito que seus seguidos questionamentos sobre uma suposta incapacidade de agradar mais pessoas serve para: 1. Percebermos que ele é alguém de carne e osso, como todos nós; 2. Esse é um problema mais comum do que muitos podem imaginar.

Pode ser também que tudo não passe de um simples reconhecimento de suas limitações ou mesmo de deixar claro que não está disposto a abrir mão de suas convicções para vendar mais cópias. Em qualquer um dos casos, penso que nem ele, nem ninguém deveria ser criticado por isso.

Fonte: GamesRadar+

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