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Valve, Steam e um modesto quadro de funcionários

Documentos mostram que em 2021 a Valve tinha apenas 336 funcionários, sendo 79 dedicados ao Steam. Número é apenas uma fração dos vistos em outras gigantes

19/07/2024 às 10:54

Fundada em 24 de agosto de 1996, a Valve saiu de uma simples — mas muito respeitada — desenvolvedora de jogos para um dos principais nomes da indústria. Porém, isso não aconteceu por a empresa ter investido no desenvolvimento de algum console bem-sucedido ou pela criação de alguma engine revolucionária (com todo respeito à Source). O que levou a companhia de Gabe Newell e Mike Harrington ao topo do mundo foi a aposta na distribuição digital, mais precisamente na criação de uma loja chamada Steam.

Steam - Valve

Crédito: Reprodução/Dori Prata

Aquele serviço de distribuição se tornou o líder do setor, a ponto de uma empresa como a Epic Games investir pesado e adotar estratégias ousadas para conquistar um pouco desse espaço. Mesmo assim, o Steam segue respondendo como uma fantástica máquina de fazer dinheiro, mas o que poucos sabiam é que a manter funcionando exige um número praticamente irrisório de pessoas.

Muito cuidadosa em revelar detalhes da sua estrutura, os bastidores do Steam (e da valve) ganharam as manchetes recente graças a uma disputa nos tribunais iniciada pela Wolfire Games. Insatisfeitos pela cobrança de 30% de cada venda, os criadores do Humble Bundle alegam que “a Valve abusa do seu poder de mercado para garantir que as editoras não tenham escolha, além de vender a maioria dos seus jogos no Steam.”

Como costuma acontecer nessas situações, algumas informações das empresas envolvidas no processo acabam aparecendo na internet e no caso da Valve, uma que chamou a atenção foi a quantidade de funcionários que a companhia possui em cada setor.

Crédito: Reprodução/Tim Eulitz/Wikimedia Commons

Com os números abrangendo de 2003, ano em que o Steam passou a operar, até 2021, se olharmos para o último relatório do quadro de funcionários, chegamos a um total de apenas 336 pessoas. E para o entendermos melhor, vale colocar esse número em perspectiva.

Segundo uma estimativa feita pela Microsoft em 2021, naquele ano a Valve tinha registrado uma receita de cerca de US$ 6,5 bilhões. O montante seria igual ao da Electronic Arts e próximo dos US$ 8,1 bilhões de outra gigante, a Activision Blizzard. Mas sabe qual a diferença fundamental entre a companhia de Gabe Newell e a outras duas? Enquanto a EA contava com 11 mil funcionários, a casa do World of Wracraft e do Call of Duty ficava pouco abaixo dos 10 mil.

Um nível de eficiência assim seria suficiente para impressionar qualquer pessoa, mas é ao nos debruçarmos sobre como tais funcionários estão divididos é que conseguimos entender melhor porque a Valve olha com tanto carinho para o Steam.

Segundo os documentos, o ano em que o serviço de distribuição digital contou com a maior equipe foi em 2015, quando 142 pessoas estiveram dedicadas a mantê-lo. Já em 2021, esse quadro encolheu consideravelmente, caindo para apenas 79 profissionais. O detalhe interessante é que nesse mesmo ano, mais de 10 mil jogos foram lançados no Steam.

Mas qual seria a área da Valve que mais possui funcionários? Pois é aí que a coisa se torna mais interessante. Mesmo longe de lançar jogos num ritmo que seus fãs considerariam aceitável, é justamente neste setor que a empresa mais empregava, 181 profissionais. A explicação estaria na manutenção dos títulos que a empresa mantém e que lucram na base das microtransações, como Team Fortress 2, Dota 2 e Counter-Strike 2.

É importante considerar que tais números só vão até 2021 e até mesmo pelo lançamento do Steam Deck, é possível que hoje esse quadro de funcionários seja maior. Contudo, ao notarmos que o ápice de empregados aconteceu em 2016, quando a equipe era formada por apenas 371 pessoas, fica difícil imaginar que hoje eles estejam muito além disso.

De qualquer forma, levando em conta os dados revelados para 2021, é interessante notar como foi feita a divisão de pagamentos para cada setor da empresa. Repare como o custo da área de games ficou apenas um pouco superior à administrativa, mesmo com ela contando com quase seis vezes mais funcionários.

Logo, por mais que a Valve possa ver vista como um exemplo de como gerar uma quantidade absurda de faturamento, mesmo com tão poucas pessoas empregadas ela segue os passos de qualquer companhia, pagando muito para os seus líderes e não tanto para o “chão de fábrica”, o que sinceramente, não chega a ser uma surpresa.

Já rem relação ao rendimento, bom... Em 2021 a receita do Steam ficou na casa de US$ 2 bilhões, valor mais alto registrado no relatório e mais de US$ 500 milhões em relação ao ano anterior. A quantia até responde como menos de um terço da receita da Valve naquele ano, mas precisamos considerar que, tirando os jogos vendidos pela própria empresa, esse montante veio apenas da porcentagem que fica com o Steam após cada venda.

Esses números servem para entendermos um pouco melhor o funcionamento da Valve. Com tão poucos funcionários, não espanta as parcerias que eles costumam fazer para produzir seus hardwares, muito menos o suposto baixo investimento feito para melhorar o Steam. Essa é uma das críticas feita pela Wolfire em sua ação, já que a empresa de Newell teria um faturamento na casa de US$ 15 milhões por funcionário.

Crédito: Reprodução/Valve

Mas estejam eles certos ou não, essa pequena quantidade de profissionais ajuda a explicar a existência de uma estrutura plana no comando da empresa, o que significa que não há gerentes e que qualquer pessoa está livre para dirigi-la. Talvez, na prática, o funcionamento nem seja assim tão liberal, mas em 2012 o vazamento de um guia (aqui em português) para novos funcionários serviu para termos uma ideia de como seria trabalhar por lá.

Nele temos diversas informações sobre a empresa, como o fato de ela não contar com capital externo, ser dona das marcas que produz e se considerar mais do que uma companhia de games. O manual também traz uma linha do tempo e várias ilustrações bem humoradas, como uma ensinando a maneira correta de mover a mesa de trabalho, o que fazer quando sair de férias ou, é claro, como trabalhar sem ter um chefe.

De fato, essa não é uma empresa comum.

Fonte: GamesIndustry

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