Dori Prata 9 semanas atrás
Conseguir se tornar um sinônimo de videogame não é uma tarefa simples. A Nintendo conseguiu isso na década de 80, o PlayStation repetiu a façanha um pouco depois e hoje, quando falamos em jogos para PC, é impossível não lembrarmos imediatamente do Steam.
Tendo se tornado o principal serviço de distribuição digital da plataforma, a loja da Valve se tornou um monstro tão grande, que apenas com números podemos ter uma melhor noção do seu poderio. E a divulgação de um relatório financeiro anual nos ajuda nesse sentido.
Rebatizado como Resumão Anual do Steam, nesta edição a editora começou celebrando duas datas bastante importantes: os 25 anos da franquia Half-Life e os 20 anos do lançamento da própria loja.
Na sequência, eles lembraram a reformulação feita na interface do Steam e um novo modo Big Picture, que ficou similar ao que temos no Steam Deck. A loja também passou por uma reformulação no sistema de promoções com curadoria, o que, ao menos na teoria, aumenta a exposição de jogos na página inicial.
E por falar em Steam Deck, o relatório aproveitou para elogiar as várias empresas que se dedicaram a lançar computadores portáteis recentemente, um reflexo do sucesso alcançado pelo aparelho da Valve. Eles citam o ROG Ally da ASUS, OneXFly da OneXPlayer e Ayaneo Air, afirmando que “com tantas escolhas, os usuários têm várias opções e preços para mergulhar no mundo dos computadores portáteis para jogos e recompensar o investimento que os desenvolvedores têm feito para que os seus jogos funcionem melhor com controle e telas menores.”
Mas tratemos do desempenho financeiro no ano passado. Segundo a Valve, 2023 marcou a primeira vez em que mais de 500 jogos tiveram uma receita bruta superior a US$ 3 milhões. Esse número é mais que o dobro da quantidade que títulos que alcançaram a mesma marca cinco anos antes.
“A diversidade de gêneros, mecânicas e estúdios bem-sucedidos no Steam é outro indicador do crescimento da plataforma,” diz o documento. “Todos os meses, divulgamos os 20 lançamentos mais populares de acordo com a receita, bem como os cinco lançamentos gratuitos mais jogados. Em 2023, mais de 25% desses lançamentos vieram de estúdios que lançaram um jogo no Steam pela primeira vez, distribuídos por mais de 20 países diferentes.”
Talvez o mais interessante neste trecho seja a afirmação de que a lista não é composta apenas por grandes produções, já que títulos indie como (the) Gnorp Apologue e Slay the Princess, também estão nela.
Se considerarmos que só em 2023 foram lançados mais de 14 mil jogos no Steam, 500 terem ultrapassado a marca de US$ 3 milhões em receita bruta pode parecer pouco. Porém, é ao olharmos para o desempenho da sua principal concorrente, a Epic Games Store, que fica mais claro entender a enorme quantidade de dinheiro movimentado por esses títulos.
Numa conta básica, esses 500 jogos do Steam geraram uma receita bruta de pelo menos US$ 1,5 bilhão. Enquanto isso, lá pelos lados da EGS, a loja recebeu mais de 1.300 jogos em 2023, mas o gasto dos consumidores em publicações de terceiros foi de “apenas” US$ 310 milhões, uma diminuição de 13% em relação ao ano anterior.
Mesmo se considerarmos os títulos publicados pela Epic, os jogadores gastaram US$ 950 milhões em sua loja, um aumento de 16%, mas ainda bem atrás do movimentado por aqueles “Top 500” do Steam. E repare, estamos falando apenas desses jogos mais bem-sucedidos.
Para o consumidor, a Epic Games Store tem como grande vantagem os títulos distribuídos gratuitamente. Só no ano passado foram 86 jogos grátis, o que segundo a loja, totaliza mais de US$ 2.000 em presentes. Ao todo, aproximadamente 586 milhões de cópias foram resgatadas gratuitamente em 2023.
Mesmo assim, os responsáveis pela EGS seguem lutando para tentar abocanhar uma fatia maior desse bolo tão amplamente dominado pelo Steam. Isso inclui a promessa de diversas mudanças, como um novo gerenciador de downloads que nos dará maior controle; um melhorado modo offline; uma lista de amigos com recursos adicionais; a possibilidade de pré-carregarmos os jogos quando eles estiverem em pré-venda; e suporte a assinaturas para títulos que as utilizam.
Se essas melhorias serão suficientes para atrair um número considerável de pessoas, é difícil saber, mas o certo é que a missão da Epic Games está longe de ser fácil. O desafio aqui é enfrentar uma besta presente em sete continentes, capaz de entregar 200 GB de arquivos para a Antártica, sendo que esse número representa apenas a semana anterior à redação do supracitado relatório anual.
Por tudo isso, se torna difícil acreditar que alguém conseguirá roubar o posto de líder de mercado do Steam. Talvez isso até aconteça, mas esse dia parece muito distante e possível apenas se o controle da Valve passar para outras pessoas, porque nem consigo imaginar o tamanho da basteira que Gabe Newell e seus comandados teriam que fazer para perderem esse reinado.