Meio Bit » Games » Ubisoft+ e o nosso “desconforto” com os serviços de assinatura

Ubisoft+ e o nosso “desconforto” com os serviços de assinatura

Executivo da Ubisoft+ diz que devemos nos sentir confortáveis em não possuir mais os jogos e de certa forma, já nos acostumamos a este cenário

17/01/2024 às 10:01

Ao longo dos anos as editoras experimentaram diversas formas de monetização e distribuição para seus jogos, sempre visando aumentar o faturamento. Uma das tentativas mais recentes neste sentido foram os serviços de assinatura e recentemente, a Ubisoft+ foi uma que anunciou mudanças para atrair mais assinantes.

Ubisoft+

Crédito: Reprodução/Dori Prata/Ubisoft

Coincidindo com a disponibilização antecipada do Prince of Persia: The Lost Crown, o serviço da empresa francesa que antes era dividido entre Acesso Múltiplo e PC Access do Ubisoft+ foi unificado como o Ubisoft+ Premium, cuja mensalidade é de R$ 59,99. Além disso, os interessados em títulos mais antigos poderão optar por uma assinatura mais barata (R$ 26,99/mês), com o Ubisoft+ Classics para PC.

Porém, apenas rearranjar e renomear os planos pode não ser o suficiente para conquistar o público e quem admitiu isso foi Philippe Tremblay, diretor de assinaturas da Ubisoft. O problema é que a maneira como ele espera fazer isso não agradou muita gente, já que o executivo defende que os jogadores precisam se sentir mais confortáveis com a ideia de não possuir os jogos.

Tal opinião foi dada durante uma conversa com o site GameIndustry, quando Tremblay afirmou que se comparado a outros modelos de negócios, os serviços de assinatura ainda são muito pequenos e deu a seguinte sugestão para reverter este cenário:

“Uma das coisas que vimos é que os jogadores estão acostumados, um pouco como os DVDs, a ter e possuir seus jogos. Essa é uma mudança de consumo que precisa acontecer. Eles se sentiram confortáveis em não possuir suas coleções de CDs ou DVDs, mas essa é uma transformação que tem sido um pouco mais lenta de acontecer [nos games].”

Ubisoft+

Alguns jogos disponíveis no Ubisoft+ (Crédito: Reprodução/Ubisoft)

Philippe Tremblay então garantiu entender o sentimento dos jogadores, mas disse que eles precisam entender que ao adotarem esse modelo de negócios, os jogos continuarão existindo e podendo ser acessados quando quiserem e citou como vantagem a manutenção dos saves.

“À medida que os jogadores se sentem mais confortáveis nesse aspecto...,” explicou. “Você não perde o seu progresso. Se retorna ao jogo em algum momento, seu progresso continuará lá. Ele não é apagado. Você não perde o que construiu no jogo ou o engajamento com o jogo. Então, se trata de se sentir confortável com não ser dono do jogo.”

Contudo, sabendo que nem todos estão dispostos a pagar uma assinatura para ter acesso aos jogos, o diretor falou sobre a importância de nos deixar escolher como consumir esses títulos.

“O ponto não é forçar o usuário a ir por esse ou aquele caminho,” disse. “Nós oferecemos a [opção de] compra, oferecemos assinatura e é a preferência do jogador o importante aqui. Estamos vendo algumas pessoas que compram optando pela assinatura agora, mas tudo funciona.”

Pelo menos ainda podemos “adquirir” os jogos da Ubisoft (Crédito: Reprodução/Ubisoft)

Mesmo assim, a repercussão em relação às palavras de Philippe Tremblay não foi boa. Da balcanização à incerteza de que um jogo permanecerá no catálogo, ou mesmo o encerramento do serviço, as reclamações se espalharam como fogo em palha seca, com algumas pessoas chegando a defender que a solução seria piratear tudo o que a Ubisoft produzir.

Do lado dos desenvolvedores, enquanto alguns defendem os serviços de assinatura por estarem lhes dando maior visibilidade, há aqueles que reclamam que se as suas criações não forem disponibilizadas desta maneira, nunca alcançarão um público mais amplo.

Contudo, por mais que eu faça parte das pessoas que ainda compram jogos fisicamente e que se preocupam com a preservação da mídia, entendo que a opinião de Tremblay, por mais dura que possa ser, faz algum sentido.

Eu não concordo quando ele afirma que precisamos nos sentir confortáveis em não sermos os donos dos jogos pelos quais pagamos, mas a verdade é que isso se tornou o padrão há muito tempo e a distribuição digital só reforçou o fato de termos apenas uma licença para usufruir dessas obras.

Babylon’s Fall, apenas um jogo que nunca foi nosso (Crédito: Divulgação/PlatinumGames)

Nos últimos anos temos visto diversos jogos desaparecerem mesmo poucos meses após terem sido lançados, muitas vezes com as editoras não se importando com as pessoas que pagaram preço cheio por eles. O fracasso do Babylon’s Fall foi um bom exemplo de como estamos à mercê das empresas, independentemente se um título foi vendido física ou digitalmente.

Além disso, sempre que clicamos em “Concordar” quando um contrato é exibido no início de um jogo ou quando criamos conta em algum serviço de distribuição, estamos (ou deveríamos estar) cientes de que o acesso a eles pode ser revogado a qualquer momento. Quer um exemplo? Veja o que diz o Acordo de Assinatura do Steam:

Rescisão pela Valve

A Valve poderá restringir ou cancelar sua Conta ou qualquer Assinatura específica a qualquer momento, caso (a) a Valve não forneça mais tais Assinaturas a Assinantes em geral em igual situação, ou (b) você violar quaisquer termos deste Acordo (incluindo quaisquer Termos de Assinatura ou Regras de Uso). Caso a sua Conta ou uma Assinatura específica seja restringida, terminada ou cancelada pela Valve devido a uma violação do presente Acordo ou a atividades ilegais, não será concedido qualquer reembolso, incluindo quaisquer taxas de Assinatura ou fundos não utilizados em sua Carteira Steam.

Só o GOG salva! (Crédito: Divulgação/GOG)

E não pense que esse é um problema que pode afetar apenas os jogos. Recentemente a Sony foi alvo de críticas ao anunciar que a partir de 31 de dezembro de 2023, todo o conteúdo dos canais Discovery adquirido através da PSN se tornaria inacessível. Isso valia mesmo para quem já tinha feito o download dos programas, mas graças a um acordo de última hora, a remoção foi cancelada.

Mesmo assim, o caso serve para mostrar que, devido à maneira como as empresas controlam o conteúdo que “adquirimos” digitalmente, não existe garantia de que eles continuarão disponíveis infinitamente. Basta o fim de um acordo, alguma licença expirada ou até mesmo uma falha no sistema para perdermos acesso às nossas contas, como aconteceu com o Baldur's Gate 3 no Xbox Series.

Portanto, por mais que eu deteste a ideia de que o jogo pelo qual paguei não é meu, isso é um fato com o qual temos convivido há bastante tempo. A única solução que enxergo para isso são os títulos vendidos sem DRM, mas como o GOG é uma das poucas lojas que nos oferece tal vantagem, talvez infelizmente tenhamos mesmo que tentar conviver com a dúvida sobre até quando aquele jogo que tanto gostamos continuará funcionando.

Leia mais sobre: , .

relacionados


Comentários