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Capcom e a aversão a mods de seus games no PC

Para a Capcom, mods "causam danos" a suas franquias, e não são diferentes de cheats; episódio envolvendo Street Fighter 6 pode ser o motivo

24 semanas atrás

A Capcom causou revolta entre os fãs de seus games que jogam em PCs, especialmente os que usam mods e outras alterações em títulos da desenvolvedora japonesa no PC, geralmente em usos não-nocivos. Em uma apresentação voltada a desenvolvedores internos e parceiros, publicada no YouTube, a companhia os colocou no mesmo balaio dos cheats e ferramentas que quebram proteções anti-pirataria.

A Capcom alega não ser inimiga dos mods benéficos, e reconhece que alguns agregam valor às suas IPs, mas no seu entendimento geral, alterações no código dos games em computadores podem ser "ofensivos", esta uma referência a uma transmissão online catastrófica de Street Fighter 6.

Capcom não vê mais mods em seus games com bons olhos (Crédito: Reprodução/Capcom)

Capcom não vê mais mods em seus games com bons olhos (Crédito: Reprodução/Capcom)

A apresentação da Capcom é focada nas medidas tomadas pelo estúdio a fim de proteger o RE Engine, o motor gráfico proprietário por trás dos títulos mais recentes do estúdio, como Resident Evil Village, Monster Hunter Rise e Street Fighter 6. A desenvolvedora reconhece o papel do modding entre a comunidade gamer de PC, como parte do legado herdado dos primórdios da computação pessoal, onde um PC permite customização livre, de hardware e software, limitado apenas pelo conhecimento individual.

Para a Capcom, a liberdade provida pela plataforma PC em games é indiscutivelmente superior à presente em consoles, por definição caixas blindadas, e "uma parte inseparável" da jogatina em computadores, devido a esse grau de liberdade, mas, ao mesmo tempo, aponta para o fato que a liberdade de criação anda lado a lado com atos de gente mal intencionada, que modificam os games para objetivos menos nobres.

O estúdio diz que uma das consequências disso é a pirataria, hoje absolutamente mais flexível em PCs do que em consoles, que com o passar dos anos se tornaram cada vez mais difíceis de serem explorados por hackers. A Capcom diz que se programas e ferramentas anti-piratas não forem implementadas, versões de títulos para PC são modificadas e compartilhadas na internet no dia do lançamento, e DLCs pagos passam a ser gratuitos, ao alcance de qualquer gamer que frequenta fóruns e usa redes P2P.

Este é um dos motivos que leva a Capcom a nunca deixar de usar softwares de DRM em PCs, seja o Denuvo ou soluções próprias, como a inclusa em Resident Evil Village, mesmo que jogadores as contornem em questão de semanas ou dias, dependendo do game, e as mesmas causem inúmeros problemas de instabilidade no PC, ausentes nas cópias piratas. Sem contar que proteções de Street Fighter V deixaram computadores vulneráveis a invasões.

Tudo isso diz respeito a cheats, pirataria e outros exploits considerados nocivos, e é uma posição óbvia a ser tomada por qualquer empresa, pois elas impactam em suas receitas, mas a Capcom também não gosta de mods, ou pelo menos, deixou de considerá-los conteúdos totalmente inofensivos e/ou apenas agregadores de valor a suas marcas.

Capcom não curtiu mod de Street Fighter 6

Na apresentação, a Capcom diz que mods são "outro problema" para a empresa, ainda que reconheça que a maioria deles, desenvolvidos pela comunidade para ou prover recursos melhores (mais resolução, DLSS/ray tracing, melhores controles, mais ferramentas, etc.), ou por pura estética (skins, alteração na aparência de personagens, e outros efeitos), "são populares entre os jogadores por permitirem a adição, ou modificação, de vários recursos", e que eles "podem causar um impacto positivo" em seus jogos.

Por outro lado, o estúdio considera que "mods não são diferentes de cheats" como os usados para piratear seus games, ou que oferecem vantagens desleais e são considerados trapaças em títulos competitivos, como a famigerada mira automática voltada a FPS.

Parte do problema é técnico, pois tanto mods benéficos quanto cheats e cracks mexem nos arquivos e binários do game, algo que nenhuma desenvolvedora gosta, ainda que algumas sejam mais ou menos tolerantes a isso. Nesse sentido, a Capcom diz que eles são "indistinguíveis" do ponto de vista de desenvolvimento e segurança de dados.

Porém, o comentário seguinte deu uma dica do porquê os japoneses estão implicando com mods somente agora: a Capcom diz que os considerados "maliciosos" "prejudicam a reputação" da companhia e de suas IPs, ao serem "ofensivos para a moral e ordem públicas".

Mod da Chun-li em Street Fighter 6 (não este, de Dungeon Fighter Online), transmitido online durante um torneio, teria enfurecido o estúdio japonês (Crédito: Reprodução/Capcom)

Mod da Chun-li em Street Fighter 6 (não este, de Dungeon Fighter Online), transmitido online durante um torneio, teria enfurecido o estúdio japonês (Crédito: Reprodução/Capcom)

A Capcom em nenhum momento deu nome aos bois, mas a menção é uma clara referência a um momento desastroso envolvendo Street Fighter 6, ocorrido em agosto de 2023 em um torneio online. Em um determinado momento da transmissão compartilhada na Twitch, o host da partida escolheu Chun-li para controlar, sem se dar conta de que a lutadora chinesa estava com um mod aplicado... que a deixa completamente nua.

A situação foi rapidamente transformada em piada pelos comentaristas da partida, antes da Twitch derrubar a transmissão. Claro, o vídeo foi imortalizado porque a internet não perdoa e nunca esquece (sem links, Google é seu amigo).

O tom da apresentação deixa claro que a Capcom ficou furiosa com o caso:

"Quando disseminados, (mods maliciosos/NSFW) mancham a imagem do produto e a marca (franquia) é afetada (...). Quando confundidos com implementações legítimas, podem causar danos à reputação e má publicidade."

Para a Capcom, qualquer tipo de modificação pode levar à destruição de um game em vários níveis, não importando se ele é multiplayer, onde cheats só são engraçados para quem usa, e todos os outros odeiam, ou um game offline single player, ao afirmar que modificações dos dados originais pode levar a "congelamento dos games, ou corrupção dos arquivos de salvamento de progresso", o que leva a um aumento de casos de jogadores procurando o suporte oficial, dando a entender que o estúdio cansou de lidar com danos causados pelos jogadores ao mexerem onde, para ela, não deviam.

A desenvolvedora cita que chamados de suporte para problemas envolvendo mods "diminuem o valor de um título", ou seja, a Capcom não quer continuar arcando com os custos provenientes de assistência nesses casos, que afetam diretamente a receita dos mesmos.

Claro, não é a primeira vez que desenvolvedoras encrencam com mods em jogos, e podemos traçar um histórico até o processo da Nintendo contra o Game Genie, um precursor dos modificadores de binários em consoles, como o popular GameShark durante a 5.ª geração. Do ponto de vista de negócios, a Capcom tem um ponto ao defender seus títulos contra SNAFUs aqui e ali, como o mod da Chun-li à vontade.

Ao mesmo tempo, a empresa diz que mods "não autorizados", assim como cheats e ferramentas para piratear seus jogos no PC, continuarão a ser combatidos pelas ferramentas internas de proteção presentes em seus jogos, ou de terceiras como o Denuvo, que não irá a lugar nenhum, não importa o quanto o jogador legítimo, que paga para ter um desempenho em seus games pior do que a turma do tapa-olho, reclame.

Fonte: Ars Technica

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