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Sonic Superstars e o (possível) fim da pixel art

Para produtor do Sonic Superstars, no futuro se tornará inviável produzir jogos com pixel art, um movimento que de fato já pode ser visto na indústria

31 semanas atrás

Perto de chegar às lojas, Sonic Superstars é a esperança de termos um retorno do ouriço às suas raízes, com a jogabilidade funcionando em duas dimensões e entregando a alta velocidade que o marcou. Porém, os mais saudosistas devem ter reparado que o jogo está sendo criado com gráficos poligonais, estilo que serve como indicativo de como seus criadores enxergam o futuro.

Sonic Superstars

Crédito: Divulgação/Sega

A pessoa responsável por explicar o motivo para a boa e velha pixel art ter sido deixada de lado neste novo jogo foi Takashi Iizuka, chefe do Sonic Team. A declaração foi dada ao pessoal do site GamesRadar+, enquanto o também produtor do Sonic Superstars visitava a Gamescom.

“Quando falamos sobre a marca, definitivamente precisamos ter um Sonic 3D moderno. Também sentimos que precisamos ter um Sonic 2D clássico. Esses são os nossos pilares fundamentais que precisamos ter. Estamos expandindo para filmes e TV, mas ainda precisamos ter uma linha tanto 2D quanto 3D para o nosso público dos games.

No ano passado lançamos o Sonic Frontiers e o que o Sonic Frontiers fez foi pegar o conceito de zona aberta, para consolidar a jogabilidade do Sonic 3D como algo que queremos construir para os próximos 10 ou 20 anos e continuar trazendo novas experiências de jogabilidade para os jogadores. Foi realmente a evolução do rumo em que o espaço do Sonic 3D estava tomando e nos sentimos muito orgulhosos do que a equipe foi capaz de entregar.

Olhamos para a pixel art, ela é ótima, mas quando pensamos sobre os 10 ou 20 anos no futuro, não achamos que será um estilo de arte ou apresentação viável para os nossos jogadores. E para avançar e realmente intensificar as coisas, queríamos ter certeza de que apresentaríamos algo que daqui a 10 ou 20 anos ainda estaremos evoluindo e criando conteúdo para.”

Para quem é da minha geração e cresceu consumindo jogos feitos em duas dimensões com gráficos pixelados, as palavras de Iizuka podem soar fortes, quase uma ofensa. Ora, como esse senhor ousa dizer que a pixel art não tem futuro, quando um dos capítulos recentes e mais elogiados da sua franquia, o Sonic Mania, foi feito justamente desta maneira? Seria essa apenas uma tentativa de defender o estilo do Sonic Superstars?

Pois a resposta para essas perguntas não é tão simples e o movimento que a indústria tem feito nos últimos anos ajuda a reforçar a opinião do produtor. Desenvolver jogos usando sprites desenhados a mão é algo cansativo, demorado e consequentemente, caro. Isso já acontecia no passado, mas com os títulos se tornando cada vez maiores, entregar uma animação fluída tem sido gradualmente mais difícil.

Já quando se trata de gráficos 3D, o processo pode ser bastante otimizado, permitindo assim que os desenvolvedores possam focar em outros aspectos do jogo. Some a isso ainda a quantidade de efeitos e uma iluminação mais realista, e fica fácil entender por que tantas franquias estão migrando para um visual em três dimensões, mesmo com suas jogabilidades permanecendo em duas.

Isso fica fácil de perceber quando falamos dos jogos de luta. Se pegarmos as três principais franquias do gênero, Street Fighter, Mortal Kombat e The King of Fighters, todas fizeram essa transição e por mais que tenha havido alguma resistência no começo, agora os fãs parecem convencidos, ou pelo menos adaptados.

A pixel art em 2.5D (Crédito: Divulgação/Square Enix)

No entanto, nem todas as empresas desistiram da pixel art. Há alguns anos a Square Enix tem se dedicado ao que ficou conhecido como HD-2D. Neste estilo visual que nasceu com o Octopath Traveler, personagens pixelados em duas dimensões exploram detalhados cenários 3D, com as texturas e efeitos de iluminação lhe dando um aspecto que considero muito bonito.

A aposta deu tão certo, que outros títulos da empresa o adotaram e clássicos de outras editoras, como o Suikoden e o Star Ocean The Second Story R estão sendo refeitos desta maneira. Talvez tudo não passe de uma moda e logo esse tipo de criação também seja deixada de lado, mas espero que isso não aconteça.

Já um meio-termo entre a pixel art e o HD-2D são os jogos desenhados a mão e que mais parecem desenhos animados. Aqui podemos citar como exemplos o Wonder Boy: The Dragon's Trap, o Streets of Rage 4 ou o Hollow Knight. Esses estilos também me agradam bastante, mas assim como nos jogos pré-polígonos, neles também é preciso desenhar muita coisa manualmente, o que dificulta suas produções.

Contudo, existe uma maneira de facilitar um pouco esse processo e ela se dá através de entregar um jogo com aparência 2D, mas que, na verdade, foi criado em três dimensões. Alguns exemplos dessa técnica são o Ori and the Blind Forest, sua continuação e o Shovel Knight, mas enquanto os dois primeiros seguem um estilo visual mais parecido com o do Streets of Rage 4, o terceiro aposta na pixel art pura.

Pode não parecer, mas isso é 3D (Crédito: Divulgação/Yatch Club Games)

Essa ideia de montar os jogos como se fosse um livro pop-up infantil permitiu que o Moon Studios fizesse adaptações para garantir que o Ori and the Will of the Wisps rodasse suavemente mesmo no Nintendo Switch, ou que a Yatch Club Games agilizasse o processo de detecção de bugs ou realizasse ajustes durante o desenvolvimento.

O problema é que recorrer a essa sobreposição de camadas não elimina a necessidade de boa parte do visual ter que ser desenhada a mão. No caso do Ori and the Blind Forest, o estúdio alega que mais de 7000 gráficos foram feitos assim, mas o esforço parece ter valido a pena, afinal o jogo é lindo!

Quanto a pixel art, entendo a declaração de Takashi Iizuka e até gostei do visual Sonic Superstars, mas quero acreditar que enquanto houver um artista motivado, jogos com uma retrô continuarão sendo produzidos, por mais difícil que seja pintar pixel por pixel. E se isso acontecer, ainda teremos a oportunidade de experimentar um Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder's Revenge, um Axiom Verge, um Eastward, um Owlboy, um Scott Pilgrim vs. The World: The Game...

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