Ronaldo Gogoni 01/09/2023 às 10:52
Immortals of Aveum é o título de estreia da Ascendant Studios, desenvolvedora fundada em 2018 por Bret Robbins, ex-diretor criativo da Sledgehammer Games, um dos estúdios responsáveis pela franquia Call of Duty. Exatamente por isso, as comparações entre o magic shooter e a série da Activision foram inevitáveis, ainda que o game penda mais para o lado de DOOM.
Além da estética, focada no fantástico e sobrenatural, algumas decisões de design, jogabilidade e progressão remetem ao FPS da id Software, embora o game também pegue emprestado conceitos de CoD, Battlefield e outros FPS, o que evidencia seu maior defeito: Immortals of Aveum é uma colcha de retalhos, que reúne ideias alheias sob uma skin mágica.
O enredo principal de Immortals of Aveum é um tanto batido. O mundo de Aveum é assolado por uma guerra pelo controle da magia, que envolve as cinco nações do planeta. A população é dividida entre quem tem mais e menos afinidade com magia, e desnecessário dizer que os primeiros, os magni, são os nobres e exercem domínio sobre os sem-luz, os buchas de canhão.
Jak (Darren Barnet, visto recentemente no filme Gran Turismo) é um sem-luz que vive em uma favela debaixo de uma ponte no reino de Lucium, o único que ainda consegue resistir às investidas do reino de Rasharn e seu sanguinário líder, o grão-magnus Sandrakk (Steven Brand, o lorde Vitomir de Vikings: Valhalla).
Em uma dessas incursões toda a família de Jak vai para a vala, e claro, isso libera sua fúria incontrolável (cuidado, TV Tropes), no que ele lança um ataque mágico devastador nos seus inimigos.
Jak é então revelado como um "fortuito", um caso raro quando um sem-luz ganha acesso a uma quantidade enorme de poder, o equiparando a um magnus, mas nosso protagonista é ainda mais especial, um "triarca", e pode manipular todos os três aspectos (cores) da magia, no que a maioria só consegue dominar um. Sim, a piada pronta do Jak-of-All-Trades, e eu já disse para tomar cuidado com o TV Tropes.
Jak é então treinado por 5 anos por Kirkan (Gina Torres, a Zoe Washburne de Serenity e Firefly), a grã-magnus de Lucium, para se tornar um imortal, a elite da elite dos magni, e uma peça-chave para vencer a guerra e Sandrakk, antes que o próprio mundo de Aveum seja destruído, pelo abuso da magia.
Immortals of Aveum é um FPS com temática fantástica, mas definitivamente não é um Call of Duty com feitiços, como quase toda a mídia especializada diz ser. Ele usa uma série de convenções do gênero, mas sua cadência pende bem mais para o lado de DOOM, graças às suas mecânicas.
Não há um modo de foco de mira, por exemplo. O jogador precisa usar o direcional e posicionar a retícula perfeitamente sobre o alvo, o que aumenta um pouco a dificuldade para lançar feitiços de precisão, mas na maioria do tempo, você não vai precisar.
Graças a Jak ser capaz de usar todas as três cores da magia de Aveum, seu repertório de encantamentos e customizações é vasto. Os selos (braceletes) azuis fornecem tiros precisos a média distância e de poder mediano, os vermelhos contam com ataques de área poderosos, mas com baixa "munição" e de curto alcance, e os verdes entregam grande munição a longa distância e grande cadência, mas baixa precisão.
Basicamente os selos são rifles de assalto, espingardas, e metralhadoras respectivamente, mas há também outros equipamentos. Jak pode usar acessórios adicionais na mão esquerda, como um laço que puxa um adversário e abre sua defesa, e um desacelerador que aplica o efeito de câmera lenta, útil também para resolver puzzles.
Os equipamentos incluem anéis que melhoram seus status, e há também uma árvore de progressão que habilita novas magias, fortalece seus atributos, etc.
Além dos selos, Jak pode usar feitiços com combinações de botões, quwe permitem quebrar os escudos de inimigos, ou atingir alvos a grandes distâncias com petardos teleguiados de média potência, além de sua habilidade especial (e limitada) que é basicamente um Kamehameha.
Passando à parte técnica, Immortals of Aveum ganha pontos pela construção de um mundo bastante original, com uma grande e rica mitologia que deixa muito a ser explorado no futuro, mas como um FPS, há pouco o que destacar. Tirando a temática e algumas ideias originais, boa parte de seus elementos vieram de outros games, dentro e fora de seu gênero. É como se a Ascendant Studios tivesse feito uma "sopa de pedra", ao jogar na panela tudo o que achou na geladeira.
O visual do game é bonito, mas não é nada impressionante e poderia muito bem se passar por um game do PS4 ou Xbox One. A trilha sonora usa temas instrumentais e outros mais modernos, para dar um ar cool aos combate, o que pode causar certa estranheza.
No mais, a localização por parte da EA foi feita direitinho, e temos desde todos os textos e legendas sem nenhum erro aparente, a um bom trabalho de dublagem.
Immortals of Aveum é um FPS curioso para o fim de 2023, e uma opção ao remake de Call of Duty: Modern Warfare 3. Embora não esteja no mesmo nível que a franquia da Activision, a estreia da Ascendant Studios mais acerta do que erra, mesmo usando várias ideias dos outros.
A meu ver, é um exercício de curiosidade e uma variação honesta do gênero, que foge do lugar-comum.
No fim, Immortals of Aveum é um dos mais curiosos lançamentos de 2023, e mesmo que não seja memorável, ele abre possibilidades tanto para futuros títulos ambientados no mundo de Aveum, que merece ser melhor explorado, quanto para a Ascendant Studios, que merece entrar no radar do público.
Pontos fortes:
Ponto fraco: