Meio Bit » Games » Richard Garriott, Akalabeth e a busca de 41 anos

Richard Garriott, Akalabeth e a busca de 41 anos

Mais de quatro décadas depois, Richard Garriott pode ter encontrado o primeiro jogador que lhe avisou ter chegado ao fim do RPG Akalabeth: World of Doom

48 semanas atrás

Ao longo das décadas a indústria de games fez surgir algumas lendas, pessoas que marcaram seu nome na história da mídia não só pelas obras que produziram, mas também pelas atitudes que tomaram. Não é possível dizer que muitos conseguiram essa façanha, mas um deles atende pelo nome Richard “Lord British” Garriott.

Imagem promocional do Akalabeth: World of Doom (Crédito: Divulgação/Richard Garriot)

Nascido em 4 de julho de 1961 em Cambridge, Inglaterra, ele é filho do astronauta Owen Garriott e iniciou sua carreira em 1979, quando lançou para o Apple II um jogo chamado Akalabeth: World of Doom (hoje disponível gratuitamente no GOG). Desenvolvido como um hobby e sem a ajuda de outras pessoas, aquele título costuma ser apontado como um dos primeiros RPGs para computadores, com ele tentando recriar a sensação de estarmos encarando uma típica partida de Dungeons & Dragons.

Com visão em primeira pessoa e gráficos que hoje são considerados bastante rudimentares, o título nos colocava para derrotar dez monstros, com as tarefas sendo entregues pelo alter-ego do autor. Anos depois o jogo ganharia um apelido, pois ao servir como um precursor da principal criação de Richard Garriott, ficou conhecido como Ultima 0.

Mas se aquele trabalho realizado enquanto estudava numa escola de Houston impressionou muita gente pelo nível de imersão, foi apenas em 1980 que o Akalabeth: World of Doom conseguiu uma maior popularidade, quando a California Pacific Computer Company assumiu o papel de editora.

Há mais de 40 anos, isso era o ápice da imersão (Crédito: Divulgação/Richard Garriot)

No entanto, Garriott não foi um precursor somente em relação aos RPGs eletrônicos. Muito antes da internet e das redes sociais ele já brincava com a interação com o público, o já pôde ser visto no primeiro jogo que criou. Isso porque, ao terminarmos a aventura éramos apresentados a uma frase que pedia para reportarmos nossa façanha. Mais de 40 anos depois, não há um número exato de quantos jogadores fizeram isso, mas agora sabemos quem foi o primeiro.

Tudo começou no dia 7 de maio, quando Richard Garriott utilizou sua conta no Twitter para pedir ajuda. Por lá o game designer publicou uma foto da primeira carta que recebeu falando sobre alguém que terminou o jogo, uma correspondência que ele recebeu da Inglaterra e foi escrita em 6 de junho de 1981. Nela podemos ler o seguinte:

“Querida California Pacific Computer Co,

Tive sucesso no seu excelente jogo Akalabeth. Eu sou um cavaleiro nos níveis 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10. Quando me tornei um cavaleiro no nível dez, matei todos os monstros e quando entrei no castelo, ele disse que eu tinha que relatar esse feito incrível para vocês. Eu conheci todos os dez monstros, esqueletos, ratos gigantes, ladrões, rastreadores de carniça, mímicos, gremlins, demônios, víboras, ogros, Balrogs. Eu me diverti muito com o jogo. Eu adoraria outro jogo.

Com os melhores cumprimentos,

Paul Roger

13 anos”

Mesmo tendo se passado mais de quatro décadas desde o recebimento daquela carta, a intenção de Lord British era encontrar o então garoto, apenas para lhe dar os parabéns por ter sido a primeira pessoa a lhe enviar uma mensagem após terminar seu jogo de estreia.

Felizmente, não demorou para que a missão aparentemente tivesse sucesso, com uma usuária alegando ser a sobrinha de Paul Roger. Segundo Laura McClung, o tio não possui conta no Twitter, apenas no Facebook e ao lhe falar que o autor estava o procurando, ele teria ficado muito feliz e revelado que passava horas no Apple II do seu pai jogando o Akalabeth: World of Doom. Já outro seguidor, SticksNStones (#BOAB69), garante ter encontrado o homem no Facebook e trocado mensagens com ele.

Mas mesmo considerando que ambos estejam mentindo, é fascinante ver o interesse de Garriott em encontrar seu antigo fã. Esta foi a terceira vez que o game designer mencionou a carta de Paul Roger, já que nas anteriores (em 2015 e 2016) as investidas não deram muito certo.

Richard Garriott

Garriott na Game Developers Conference 2018 (Crédito: Reprodução/GDC/Wikimedia Commons)

Outro detalhe legal nessa história é ver como ela abriu espaço para que outras partes do passado fossem desenterradas. Um exemplo é o comentário feito por Jason Hass, que disse ter esperança de ainda ter guardado uma resposta que Richard Garriott o enviou por volta de 1986 ou 1987, após o fã ter informado que terminou o Ultima IV: Quest of the Avatar. O autor então publicou uma foto com várias cartas e disse que provavelmente ainda possui a que recebeu do jogador.

Em seguida, outra pessoa perguntou quantas cartas assim Lord British teria recebido, quando ele garantiu que foram muitas, além de ter revelado algo simplesmente fantástico. “Nos anos 90 e 2000 eu precisava que o Atendimento ao Consumidor me ajudasse a acompanhar,” contou Garriott. “As pessoas então descobriram que se escrevessem usando o alfabeto rúnico, o Atendimento ao Consumidor não conseguia ler, então essas cartas sempre chegavam a mim pessoalmente!”

Mas quem acompanha o game designer sabe que ser cordial com os outros é algo que ele está acostumado a fazer. Um exemplo foi quando um seguidor lhe pediu desculpas por ter pirateado o Ultima VI: The False Prophet, o que lhe rendeu como reposta um tardio, mas muito bem-vindo, perdão.

E se nada disso for suficiente para te fazer admirar alguém como Richard Garriott, podemos citar alguns dos seus feitos fora dos games. Em 2008 ele embarcou na Soyuz TMA-13 para realizar uma viagem até a Estação Espacial Internacional, onde permaneceu por 12 dias. Com isso ele se tornou o primeiro norte-americano a ter um pai que também esteve no espaço.

Richard Garriott

Greg Chamitoff, Michael Fincke e Richard Garriott a bordo da ISS (Crédito: Reprodução/NASA/Wikimedia Commons)

Já em 2021 o explorador teve a oportunidade de encarar uma viagem de 12 horas a bordo do Limiting Factor, um submarino para duas pessoas que o levou a quase 11 km de profundidade, no fundo da Fossa das Marianas.

Os polos norte e sul? Garriott já esteve em ambos. Ele também ajudou a fundar a Challenger Center for Space Science Education, em homenagem às vítimas do acidente com o ônibus espacial que explodiu em 1986; construiu uma casa assombrada/museu entre 1988 e 1994, algo que lhe custava uma pequena fortuna para ser montada e desmontada, mas cuja visitação do público era gratuita. Já em 2009 ele e sua esposa realizaram uma cerimônia a bordo de um Boing 727-200, sendo as primeiras pessoas a se casarem em gravidade zero.

E não podemos ignorar o que Garriott fez em 1993, quando conseguiu adquirir em um leilão os módulos Luna 21 e Lunohod 2, ambos presentes na lua e que lhe permitiu reivindicar o território pesquisado por eles. Ou seja, estamos falando da primeira pessoa a possuir legalmente um “terreno” fora da Terra. Portanto, acho que podemos dizer que este é um sujeito que soube viver intensamente, não?

Leia mais sobre: , , .

relacionados


Comentários