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Sakaguchi, Igarashi e a queda dos estúdios japoneses nos anos 2000

Em palestra, Hironobu Sakaguchi e Koji Igarashi falam sobre o que levou os estúdios ocidentais a superarem os japoneses durante a década de 2000

52 semanas atrás

Durante muito tempo as desenvolvedoras japonesas foram vistas como o ápice da indústria. Era de lá que saiam os melhores jogos, com os profissionais locais sendo vistos como as maiores estrelas. Porém, a partir dos anos 2000 esse cenário mudou e quem tem uma opinião sobre porque isso aconteceu é Hironobu Sakaguchi e Koji Igarashi.

Hironobu Sakaguchi - Mistwalker

Lost Odyssey (Crédito: Divulgação/Mistwalker)

Convidados a participar como palestrantes da Monaco Anime Game International Conferences 2023 (MAGIC 2023), a dupla relembrou os últimos 30 anos da indústria japonesa e um dos pontos mais interessantes foi justamente sobre as dificuldades encaradas na virada do milênio.

“Penso que um dos principais motivos para isso é o fato de consoles como o NES e o PlayStation tinham hardwares específicos,” declarou Sakaguchi. “Aquilo tornava mais fácil para os desenvolvedores japoneses dominarem o hardware, pois podíamos perguntar à Nintendo ou à Sony diretamente em japonês. É por isso — e percebo que pode ser indelicado dizer isso — que os jogos japoneses tinham uma qualidade superior na época. Como resultado, os jogos japoneses eram considerados mais divertidos, mas quando se tornou mais fácil desenvolver para os hardwares, as coisas mudaram rapidamente.”

A opinião foi compartilhada por Igarashi, já que segundo ele, “os desenvolvedores japoneses estiveram desenvolvendo habilidades especificamente para os jogos de consoles,” enquanto no ocidente as pessoas tinham uma cultura mais voltada para o PC. Como bem observado por aquele que é um dos principais responsáveis pelo fantástico Castlevania: Symphony of the Night, na época a diferença entre desenvolver para consoles e PC encurtou, fazendo com que os japoneses tivessem que se especializar nos computadores.

Castlevania: Symphony of the Night (Crédito: Reprodução/Konami)

Contudo, não teria sido apenas o conhecimento técnico que favoreceu aqueles que trabalhavam nos Estados Unidos e Europa. Para Hironobu Sakaguchi, conforme os jogos desenvolvidos pelos ocidentais melhoravam, eles passaram uma sensação de novidade, fruto também da capacidade daqueles profissionais em aperfeiçoar aquilo que foi feito no Japão e que eles cresceram jogando.

Pois a carreira do criador da franquia Final Fantasy serve para ilustrar as mudanças encaradas pela indústria japonesa. Tendo deixado a Square em 2004 e fundado sua própria desenvolvedora, Sakaguchi viu criações como Blue Dragon, Lost Odyssey e The Last Story não conseguirem atrair a mesma atenção do público ocidental como um Mass Effect ou The Elder Scrolls.

Isso poderia ter feito com que o game designer procurasse mudar seu estilo, buscando inspiração no que estava sendo feito por aqui. Porém, ele deixou claro que esse não seria o melhor caminho a ser seguido, usando uma analogia curiosa para defender sua opinião.

“No ocidente as crianças costumam ter seu próprio quarto desde muito cedo, enquanto no Japão toda a família dorme junta num mesmo quarto,” explicou Sakaguchi. “Acho que essas pequenas diferenças culturais podem ser sentidas nos jogos que fazemos hoje. Mesmo quando os jogos ocidentais se tornaram populares, não senti necessidade de me inspirar neles. Acredito que valorizar minha cultura japonesa é o que atrai as pessoas para meus jogos, em primeiro lugar.”

Bloodstained: Ritual of the Night (Crédito: Divulgação/ArtPlay)

Quanto a isso, Koji Igarashi tem uma opinião um pouco diferente. Com seus jogos tendo inspirado muitos dos metroidvanias que hoje inundam o mercado, ele reconhece ter aproveitado boas ideias implementadas por alguns desses títulos. “O diretor pesquisa esses jogos para ver o que eles fizeram bem e, ao mesmo tempo, aprender com seus erros,” afirmou Iga. “Neste sentido, acho que devo chamar [os outros desenvolvedores de metroidvanias] de nossos amigos. Nós aprendemos uns com os outros, na esperança de criar jogos melhores.”

Talvez não exista certo ou errado neste assunto, mas confesso me agradar mais o posicionamento de Igarasahi. Se não pensasse desta maneira, talvez o Bloodstained: Ritual of the Night não tivesse se mostrado um jogo tão bom e mesmo com ele admitindo ter aproveitado ideias de jogos criados no ocidente, isso não fez com que o seu sucessor espiritual do Castlevania perdesse uma identidade japonesa.

Aliás, concordo com Hironobu Sakaguchi quando ele diz que muito do apelo dos seus jogos está na manutenção da cultura japonesa e ao jogar algo como o Blue Dragon, isso fica bastante evidente. Porém, tenho que reconhecer que já há algum tempo isso é algo que tem me afastado de alguns títulos criados do outro lado do mundo.

Hironobu Sakaguchi - Mistwalker

Blue Dragon (Crédito: Divulgação/Mistwalker)

Por mais que não consiga explicar ao certo o porquê, hoje em dia tenho uma certa dificuldade em encarar algo como um Yakuza, um Lollipop Chainsaw ou um Metal Gear Solid, me incomodando a maneira exageradamente caricata (e desnecessariamente sexualizada) como algumas situações são representadas. Até mesmo a dublagem local me parece muito forçada, algo que também não me agrada nos animes.

É provável que a “culpa” por isso nem seja dos jogos japoneses, pois antigamente gostava muito mais deles, mesmo com essa questão cultural. Talvez o passar dos anos tenha feito com que eu criasse uma certa resistência a maneira como os autores japoneses se expressam, talvez eu simplesmente tenha passado a gostar mais da abordagem ocidental feita pelos roteiristas.

De qualquer forma, considero importantíssimo que os game designer japoneses continuem tendo espaço, afinal acredito que muito do que já foi feito por lá não possa ser replicado por pessoas sem aquela bagagem cultural. Só para citar exemplos de jogos lançados ainda nos anos 2000, imagina não termos a oportunidade experimentar um Okami, um Silent Hill 2, um Viewtiful Joe, um Demon’s Souls...

Fonte: Gameranx

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