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Chrono Cross: as remasterizações como forma de preservação

Segundo criadores do Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition, a ideia para remasterizar o original se escorou no medo do game se tornar injogável

1 ano atrás

Enquanto algumas empresas têm olhado para o passado recente ao remasterizar (ou seria apenas relançar?) seus jogos, outras estão conseguindo explorar esse mercado para muito mais do que somente encher os cofres. Sim, por mais que alguns possam duvidar disso, existia um objetivo nobre por trás do Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition.

Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition

Crédito: Divulgação/Square Enix

Lançado originalmente em 1999 apenas para o PlayStation, Chrono Cross nasceu com uma responsabilidade enorme: servir como uma espécie de continuação para um dos RPGs mais adorados de todos os tempos, o Chrono Trigger. Mas se superar — ou mesmo igualar — a criação do Dream Team era uma tarefa quase impossível, a obra idealizada por Masato Kato não fez feio.

Apontado como um dos melhores títulos a terem aparecido no primeiro console da Sony, o fato dele ter chegado já no final do ciclo de vida do aparelho fez com que muitas pessoas ignorassem aquela obra de arte, mas o desejo por um relançamento sempre existiu. Pois os pedidos só começariam a ser atendidos em setembro de 2021.

Foi naquela época em que uma brecha no sistema de segurança do GeForce Now revelou uma lista de jogos que ainda não haviam sido lançados e entre eles estava uma remasterização do Chrono Cross. Após alguns meses de especulação, em fevereiro do ano seguinte a existência do que parecia um sonho foi confirmada, com o lançamento sendo marcado para 7 de abril de 2022.

Para a alegria daqueles que se apaixonaram pelo original, a remasterização traria mais do que um tapa no visual. Com ela teríamos acesso ao Radical Dreamers, uma história por áudio lançada apenas no Japão através do Satellaview, aquele modem para o Super Famicom. O interessante é que ela fazia a conexão entre o Chrono Cross e o Chrono Trigger, o que por si só já serve como grande incentivo para experimentar esta nova versão.

Porém, aquilo que poderia ter sido um retorno triunfal de um clássico acabou frustrando parte do público. Com as reclamações recaindo principalmente sobre a qualidade técnica do Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition, os fãs ficaram indignados por o jogo ter um desempenho até pior que o visto no PlayStation, com as quedas nos frames sendo frequentes e a remasterização falhando em ultrapassar a marca de 30 FPS.

Com os meses passando, parecia que o título seria mais um a ser apontado como um mero caça-níqueis, mas numa atitude um tanto surpreendente, quase um ano após a chegada da remasterização, a Square Enix liberou uma atualização que corrigiu muitos dos problemas, incluindo um framerate duas vezes superior ao que tínhamos antes.

Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition

Crédito: Divulgação/Square Enix

Considerando a maneira como a editora tem se comportado nos últimos anos, torna-se fácil presumir que, no fundo, essa aposta no Chrono Cross não passou de uma tentativa de arrecadar mais alguns trocados. A nossa sorte é que existem profissionais que estariam dispostos a equilibrar essa balança, como contou o produtor Koichiro Sakamoto em uma entrevista.

“Voltando para quando o projeto foi lançado, o Chrono Cross possivelmente se tornaria impossível de ser jogado,” explicou Sakamoto. “Existia um Serviço de Arquivo de jogos no PlayStation 3 que nos permitia jogar jogos de PlayStation 1, mas o PlayStation 4 já estava no mercado. Não sabíamos na época se o PlayStation 4 também teria um Serviço de Arquivo de jogos. Parecia que o Crono Cross se tornaria injogável. Então, um projeto de remasterização foi criado. Essa é a história dos bastidores.”

O serviço a que o produtor se refere é o que ficou conhecido no ocidente como a coleção PSone Classics, que basicamente permitia que alguns títulos do antigo console fossem adquiridos digitalmente e assim pudessem ser aproveitados no PlayStation 3, PSP e PlayStation Vita. Contudo, com a Sony falando em desligar as lojas virtuais desses aparelhos, os relatos de que algumas chaves estavam expirando e até que downloads não estariam funcionando, tal remasterização se mostrou fundamental.

E quando Koichiro Sakamoto fala sobre a possibilidade do Chrono Cross se tornar injogável, ele não estaria exagerando. Segundo o também produtor Hiromichi Tanaka, todo o material criado para o original e que estava armazenado em fitas magnéticas foi perdido com o passar dos anos, com a única cópia restante sendo aquela que ele guardava em um backup pessoal. Logo, se não fosse pelo esforço da equipe na criação da The Radical Dreamers Edition — e a utilização de inteligência artificial —, talvez nunca mais tivéssemos acesso a um ótimo jogo.

Crédito: Divulgação/Square Enix

Por mais que algumas das remasterizações lançadas recentemente possam ser criticadas por trazerem poucas melhorias em relação aos jogos originais, o fato é que elas têm exercido um papel muito importante para ajudar a manter viva a história mais distante dos games. O acesso oficial a clássicos nunca foi tão fácil quanto atualmente e isso se deve às empresas terem percebido o quanto as pessoas gostam de revisitar o passado.

De meras coletâneas às próprias remasterizações ou remakes, hoje existe uma grande oferta de títulos que nos fascinavam antigamente e me agrada saber que algumas pessoas do lado de lá deste balcão também estão interessadas em fazer com que suas criações continuem podendo ser aproveitadas.

Obviamente, isso não quer dizer que tenhamos que fazer vista grossa para a maneira como algumas empresas têm tratado seus próprios passados, aproveitando a nostalgia dos fãs para colocar nas lojas produtos muito aquém de seus legados. Ainda assim, sempre aprovarei a possibilidade de poder revisitar alguns jogos antigos e se julgar que o trabalho entregue não ficou bom, não temerei criticá-lo ou até mesmo ignorá-lo.

Crédito: Divulgação/Square Enix

O difícil é defender empresas que requentam remasterizações a cada geração, sem praticamente oferecerem melhorias significativas e obviamente, cobrando por esses relançamentos. Também não consigo aceitar quando um jogo reaparece poucos anos depois, com a nova versão rodando até pior que o original e os responsáveis pouco se importando em melhorar o que adoram chamar de "Edição Definitiva".

Quanto ao Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition, eu adoraria que ele tivesse recebido uma maior atenção, como, por exemplo, contar com imagem widescreen ou texturas mais bonitas. Os problemas que o jogo enfrentou inclusive me fizeram desistir de investir na sua aquisição, mas como agora ele está melhor, já estou revendo minha decisão.

Fonte: VG247

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