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Tales of Symphonia, Blood Bowl 3 e os lançamentos inacabados

Tales of Symphonia e Blood Bowl 3 são dois lançamentos recentes que mostram a falta de cuidado das empresas na hora de colocar suas criações no mercado

1 ano atrás

Na tentativa de cumprir prazos (muitas vezes insanos) e satisfazer os enseios dos acionistas, tem se tornado cada vez mais comum vermos jogos chegarem repletos de problemas ao mercado. Com essa tendência não dando sinal de arrefecimento, nos últimos dias vimos dois títulos se tornarem alvo de duras críticas por parte dos consumidores, o Tales of Symphonia Remastered e o Blood Bowl 3.

Tales of Symphonia Remastered

Crédito: Divulgação/Bandai Namco

Começando pelo JRPGs da Bandai Namco, tanto os fãs da série quanto aqueles que gostariam de conhecer este capítulo estavam ansiosos para saber o que a remasterização traria. Um dos motivos para essa expectativa era o fato do jogo já ter recebido uma versão melhorada em 2014, quando o Tales of Symphonia chegou ao PlayStation 3.

O problema é que, apesar daquele relançamento ter permitido que um novo público pudesse conhecer a história de Lloyd Irving e Colette Brunel, ele ter sido baseado na versão do jogo para o PlayStation 2 e não para aquela do GameCube desagradou muita gente. Por um lado, era bom termos acesso à continuação Dawn of the New World e alguns extras, mas por outro, ter que encarar as batalhas com a metade dos 60 FPSs presentes no console da Nintendo foi frustrante.

Logo, com o Tales of Symphonia Remastered a Bandai Namco tinha a oportunidade de lançar a versão definitiva de um dos mais adorados capítulos da franquia. Por se tratar de um título lançado originalmente há 20 anos, as máquinas atuais teriam força mais do que suficiente para aguentar o tranco, com a editora — ao menos teoricamente — precisando apenas fazer alguns ajustes aqui ou ali.

Porém, os indícios de que essa seria apenas uma adaptação preguiçosa estavam por todos os lados. No site oficial, a área dedicada a listar as features desta nova versão trazia apenas a promessa de gráficos e jogabilidade aprimorados. Até mesmo uma possível localização para a nossa língua, assim como aconteceu com a relançamento do Tales of Vesperia, não era mencionada em lugar algum.

Tales of Symphonia Remastered

Crédito: Divulgação/Bandai Namco

Restava a torcida para que a empresa estivesse apenas passando menos informações do que deveria, mas não foi isso o que aconteceu. Poucas horas após o jogo ser disponibilizado já podíamos ver diversas reclamações nas redes sociais, com as críticas recaindo principalmente sobre o desaparecimento de texturas, tempos de carregamentos irritantemente longos e até mesmo incontáveis bugs e travamentos.

Também não ajudou a constatação de que o Tales of Symphonia Remastered parece também ter sido baseado na versão lançada para o PlayStation 2, o que consequentemente limitou as batalhas a 30 FPS. Mesmo com isso tendo sido revelado em setembro de 2022 através do site japonês do jogo, alguns ainda tinham esperança de que houvesse uma mudança nos meses finais de desenvolvimento.

A situação fez com que a conta oficial da franquia emitisse uma nota se desculpando e nela podemos ler a seguinte mensagem:

“Obrigado por jogar o Tales of Symphonia Remastered para Nintendo Switch. Confirmamos haver um problema com a jogabilidade nesta versão do produto que está atualmente à venda. No momento estamos investigando uma correção.

Nós os informaremos sobre a atualização para futuras correções assim que ela for conhecida. Vamos avisar sobre isso através desta conta, então por favor, aguarde as informações. Pedimos desculpas pelo inconveniente causado aos nossos clientes.”

Tales of Symphonia Remastered

Crédito: Divulgação/Bandai Namco

Vale citar que no híbrido da Nintendo o jogo só consegue rodar a 720p quando jogado no modo portátil, com a resolução FullHD sendo exclusiva para o dock. Já nos outros consoles (PlayStation 4 e Xbox One), não espere aproveitar o título em 4K, já que mesmo neles o JRPG só alcança 1080p.

Posso estar sendo muito inocente aqui, mas fico me perguntando o que leva uma empresa a colocar um jogo nessas condições no mercado. Mesmo que os problemas estejam acontecendo apenas no Nintendo Switch, será que eles não foram detectados durante o processo de controle de qualidade? E se foram, será que os responsáveis acharam que era melhor lançar assim e torcer para a gritaria não ser muito forte?

O que mais incomoda em relação ao Tales of Symphonia Remastered é por estarmos falando de um jogo relançado duas vezes, sendo que em ambas ficou um gostinho de que não só o jogo, mas os fãs mereciam uma melhor atenção. É difícil não achar que os responsáveis pelo projeto não se importavam em nos agradar, quase como se colocar o título novamente no mercado fosse um favor que estivessem fazendo ao consumidor, que por isso aceitaria qualquer coisa.

Crédito: Divulgação/Cyanide Studios

Contudo, como eu disse anteriormente, essa falta de cuidado com os títulos que nos são entregues passa muito longe de ser uma exclusividade desta ou daquela editora e uma que está recebendo críticas por outro recente lançamento é a Nacon.

Sendo o nome por trás da publicação do Blood Bowl 3, eles estão recebendo muitas críticas pela maneira como o jogo se encontra e há até quem acredite que o título desenvolvido pelo Cyanide Studios nunca poderá ser salvo.

Para quem não conhece, a série Blood Bowl pode ser descrita como um jogo de futebol americano baseado na franquia Warhammer. Com duas equipes formadas por seres típicos daquele universo, as partidas disputadas por turnos podem ser bastante violentas e com os jogadores podendo recorrer a diversas trapaças para conseguir os touchdowns.

Mesmo se tratando de uma série de nicho e que nunca emplacou um enorme sucesso, havia bastante expectativa por parte dos fãs em relação a este terceiro capitulo.  Com o seu lançamento tendo sido marcado para o início de 2021, tivemos que esperar mais dois anos para o jogo ser finalizado e ao que tudo indica, não foi bem isso o que aconteceu.

Com os bugs infestando as partidas, não tem sido raros os relatos sobre situações em que os atletas ficam “congelados” no campo ou que a inteligência artificial é incapaz de dar continuidade às ações. Para piorar, como as partidas são longas e não podemos salvar o progresso durante elas, abandoná-las simplesmente dará a vitória ao adversário.

Crédito: Divulgação/Cyanide Studios

Agora some a isso um jogo que precisa estar conectado mesmo quando estivermos jogando contra o computador e que tem sofrido com problemas de conexão aos servidores, além de um modelo de monetização que tem sido atacado por ser exageradamente ganancioso e que estaria bloqueando muito conteúdo que poderia ser obtido apenas jogando.

Tudo isso fez com que o índice de rejeição do jogo no Steam ficasse na casa dos 72% e para tentar tranquilizar os jogadores, a desenvolvedora publicou uma longa explicação no serviço da Valve. Por lá eles prometem resolver os muitos problemas reportados, indo desde as falhas de conexão até a monetização, que eles consideram “justa, recompensadora e opcional.”

Dentre as justificativas, uma que chamou minha atenção diz respeito a Brutal Edition, que foi dada a todos independentemente da versão adquirida no Steam. Segundo o Cyanide Studios, eles não querem punir os jogadores pelo erro, por isso deixarão que fiquem com as 1000 warpstones (moeda virtual do jogo), mas removerão os bônus cosméticos que receberam. Já para quem comprou a Brutal Edition, esses serão recompensados com mais 1000 warpstones.

Crédito: Divulgação/Cyanide Studios

Tantos equívocos servem para deixar claro a grande confusão que parece ter sido o desenvolvimento do Blood Bowl 3 e por mais que uma pandemia possa ter impactado duramente o projeto, não é aceitável que algo seja disponibilizado desta maneira.

Novamente esbarramos na desconfiança de uma desenvolvedora/editora preferindo lançar qualquer coisa a não lançar nada, com a esperança de que o estrago não será tão grande e assim possam fazer os remendos com o tempo. Para eles, essa pode ser uma estratégia arriscada, mas com potencial para dar certo. Já para nós, casos assim só ajudam a reforçar a ideia de que quanto mais tempo esperarmos para comprar e/ou jogar algo, melhor.

Um bom exemplo disso é o Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition, que somente quase um ano após seu lançamento recebeu uma tão aguardada atualização para corrigir sua instável taxa de atualização de quadros. Então deixo a pergunta: será que uma empresa tão grande quanto a Square Enix precisava de tanto tempo para entregar algo que deveria estar disponível desde o primeiro dia?

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