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EUA: projeto idiota pode tornar vacina de mRNA ilegal

Projeto de Lei do Idaho quer tonar aplicação de vacinas de mRNA uma contravenção, que pode levar a prisão ou multa

1 ano atrás

A pandemia da COVID-19 serviu para acelerar o uso das vacinas de mRNA, ou RNA mensageiro, uma técnica para produção de imunizantes muito nova, os trabalhos práticos começaram no início dos anos 2010. Os resultados falam por si só, milhões em todo o mundo foram protegidos da doença.

Se a Lei for aprovada no Idaho, quem aplicar vacinas contra a COVID-19 da Pfizer-BioNTech e/ou ModeRNA no estado pode ir em cana (Crédito: Dado Ruvic/Reuters)/ mRNA

Se a Lei for aprovada no Idaho, quem aplicar vacinas contra a COVID-19 da Pfizer-BioNTech e/ou ModeRNA no estado pode ir em cana (Crédito: Dado Ruvic/Reuters)

Até 2019, vacinas de mRNA não tinham permissão para serem usadas em humanos, na prática, ainda não têm, seu uso foi liberado em caráter emergencial, por motivos de pandemia.

Pois esse detalhe está sendo explorado por legisladores do estado do Idaho, nos Estados Unidos, com o intuito de criminalizar o uso de vacinas de mRNA.

Vacina rápida e prática

Conforme já explicamos, a vacina de mRNA representa um avanço significativo na pesquisa de vacinas, ao usar um método bem diferente das tradicionais. Estas usam o patógeno morto (inativas), enfraquecido (atenuadas), ou as partes infectantes (fragmentais), mas todas envolvem lidar com o agente diretamente.

O método de produção de vacinas também consome tempo, e em muitos casos, pode causar reações que limitam seu uso. Sabe a velha história de que alérgicos a ovo não podem receber certas vacinas, como a de febre-amarela?

Isso porque ovos de galinha são usados em sua produção. A da gripe comum segue o mesmo princípio, é o usado pelo Instituto Butantan (cuidado, PDF), desenvolvido pelo Sanofi-Pasteur.

A vacina de mRNA, ao invés de usar o patógeno ou parte dele, emprega o mecanismo do RNA mensageiro, injetando nas células da pessoa inoculada sequências programadas para gerar sequências de mRNA do vírus, que uma vez soltas no organismo, disparam a resposta do sistema imunológico para a produção de antígenos. O próprio organismo fica encarregado de produzir o RNA invasor E gerar a resposta.

Ribossomos e mRNA vistos em microscopia eletrônica. (Crédito: Bioinfo Pakistan)

Ribossomos e mRNA vistos em microscopia eletrônica. (Crédito: Bioinfo Pakistan)

Uma vacina de mRNA não gera resposta alérgica, e pode ser produzida rapidamente e em larga escala; além disso, a edição genética para responder a variantes do vírus circulando é muito mais rápida, não levando anos, mas semanas entre a modificação e a disponibilidade, como visto com atualizações das doses da Pfizer e ModeRNA ao longo da pandemia.

Isso não quer dizer que uma vacina de mRNA é melhor que as demais, quanto mais, melhor, e cada laboratório vai usar a técnica com a que estiver mais familiarizado.

Por outro lado, o método permite que campanhas de imunização de endemias, como a gripe, se tornem mais eficientes. A técnica também está sendo usada em pesquisas para a criação de imunizantes do HIV, nipah (doença respiratória causada por morcegos), e até alguns tipos de câncer.

mRNA vs. Idaho

A aprovação das vacinas de mRNA para a COVID-19, desenvolvidas pelos laboratórios da ModeRNA Technologies e da Pfizer-BioNTech, veio inicialmente em caráter emergencial, visto que as pessoas estavam pegando a doença facilmente, como geralmente ocorre com ondas causadas por variações do coronavírus. A diferença, a população contraía o SARS-CoV-19 e morriam como moscas.

Ambas foram aprovadas para aplicação em humanos em dezembro de 2020 pela FDA (Food and Drug Administration), via Autorização de Uso Emergencial (AUE, ou EUA em inglês). A vacina da Pfizer recebeu autorização de uso final em agosto de 2021, e a da ModeRNA, em janeiro de 2022.

Isso não impediu duas legisladoras do estado norte-americano do Idaho, as republicanas (finja surpresa) Tammy Nichols, senadora por Middleton, e Judy Boyle, representante por Midvale, a apresentarem um projeto de lei que busca tornar a distribuição e/ou aplicação de qualquer vacina de RNA mensageiro no estado, uma contravenção penal, passível de multa e/ou prisão.

Pois é, Bones (Crédito: Reprodução/Paramount Pictures)

Pois é, Bones (Crédito: Reprodução/Paramount Pictures)

Segundo o argumento inacreditável apresentado no dia 15 de fevereiro de 2023, Nichols e Boyle, que se declaram "pró-liberdade e direito à vida", vacinas de mRNA como as da Pfizer e ModeRNA "foram aprovadas via AUEs", insinuando que o processo de desenvolvimento teria sido "apressado", logo, ambas (e a técnica como um todo) seriam inseguras.

De novo, é o mesmo discurso anti-vaxxer que circula desde antes da pandemia da COVID-19, mas que ganhou força graças a idiotas o repetindo em todos os lugares, de Donald Trump sugerindo injeção de desinfetante, a Jair Bolsonaro e a "transformação em jacaré", enquanto promovia remédios ineficazes, este um negócio muito lucrativo.

O problema agora reside no fato de que esse discurso pode virar Lei, em um estado com mais de 1,9 milhão de habitantes (dados de 2021), e acabar estimulando legisladores em outras regiões dos Estados Unidos a proporem a mesma ideia de jerico, baseada em achismo e que ignora os números em queda de casos de COVID-19.

Convenientemente, a proposta não cita que as vacinas foram aprovadas em definitivo posteriormente pela FDA; quando questionada na primeira audiência, Nichols respondeu que "a permissão final pode não ter seguido o procedimento adequado", que na cabeça dela, seria esperar por uns 10 anos antes de liberá-las.

Pode ser que a proposta, por si só absurda e mal feita, ao desconsiderar a permissão final para uso (Nichols deu a entender que não sabia disso), nem chegue a ser votada e vá para o limbo, mas sua própria introdução e discussão em plenário pode levar a outros políticos, entre os que se posicionaram contra a técnica de mRNA (que não foram poucos), comecem a ter ideias similares, dentro e fora dos EUA.

Fonte: Ars Technica

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