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Google processado nos EUA por monopólio de anúncios

Google pode ser forçado a desmembrar e vender a divisão de publicidade da companhia, mas decisão levará anos para sair

1 ano atrás

O Google é alvo de mais um processo antitruste, o segundo apresentado pelo governo dos Estados Unidos nos últimos dois anos. Desta vez, o Departamento de Justiça abriu uma ação, que até o momento teve a adesão de 8 dos 50 estados, alegando que a companhia de Mountain View detém o monopólio sobre a veiculação de anúncios na internet; a meta é forçar o desmembramento e a venda da divisão de publicidade.

O processo é o primeiro de grande porte movido durante a administração de Joe Biden contra uma gigante de tecnologia dos EUA, e se une ao aberto em outubro de 2020, sobre o domínio do Google Search sobre os demais motores de busca.

iPhone com Busca do Google aberta no navegador Safari (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

iPhone com Busca do Google aberta no navegador Safari (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O processo (cuidado, PDF), aberto na corte distrital de Virgínia, conta com o reforço dos estados de Nova Iorque, Califórnia, Colorado, Connecticut, Nova Jérsei, Rhode Island e Tennessee. A ação aponta que, por Mountain View exercer domínio absoluto em publicidade na internet em todas as frentes, tanto para quem anuncia, quanto para quem exibe os ads em seus sites, que o mercado se corrompeu ao ponto de que a gigante fica com quase toda a grana, e repassa migalhas a anunciantes e produtores de conteúdo.

O documento afirma que o Google cobra caro de anunciantes para estes terem uma mínima visibilidade de suas campanhas, com retorno direto das campanhas menor do que o ideal da veiculação dos mesmos; para os donos das marcas, as condições para estes venderem suas campanhas também não são nada gentis.

Já do lado dos criadores de conteúdo, como sites e blogs, que veicularão os anúncios em seus domínios, a gigante impõe condições rígidas para estes continuarem visíveis nas buscas (falaremos disso a seguir), e permanecerem elegíveis ao AdSense, como não usar IAs para compor textos, ou evitar certos assuntos, apenas para receber alguns trocados.

Em suma, o processo argumenta que "criadores ganham menos e anunciantes pagam mais do que deveriam", enquanto o Google, que não enfrenta concorrência significativa no setor, dita as regras e estabelece preços e condições como acha melhor, ganhando muita grana dos dois lados do negócio.

Segundo Jonathan Kanter, chefe de antitruste do Departamento de Justiça, o processo representa o passo seguinte no litígio que o governo dos EUA pretende levar adiante contra o Google, de modo a forçar a companhia e sua holding, a Alphabet Inc., a responderem pelos danos que causam no mercado, em uma situação claramente identificada por especialistas como um monopólio no setor de publicidade na internet.

O órgão busca forçar o Google se desfazer ao menos uma aquisição, a da companhia de publicidade online DoubleClick em 2007, comprada por US$ 3,1 bilhões. Esta, considerada estratégia, teria garantido o domínio da companhia sobre anúncios na web, aliada a compras acessórias como a Invite Media em 2010, e a AdMeld em 2011.

Logo do Google na entrada da sede da companhia, em Mountain View (Crédito: Aly Song/Reuters)

Logo do Google na entrada da sede da companhia, em Mountain View (Crédito: Aly Song/Reuters)

O Google, claro, se defende. Em nota, um porta-voz da gigante disse que "o processo usa um argumento falho de que (o Google) retarda a inovação, cobra taxas altas de publicidade, e cria dificuldades que impedem pequenos negócios e editoras de crescerem", e que o Departamento de Justiça "busca definir vencedores e perdedores no altamente competitivo setor de tecnologia de publicidade".

Não é preciso ser um gênio para entender que o Google não tem razão nessa. O mercado de anúncios não é nem de longe competitivo, seus algoritmos de busca e exibição de anúncios são dominantes na web, e gerenciam a criação de campanhas, a venda dos anúncios, a exibição dos mesmos, e quais sites podem veiculá-los.

A ação visa forçar o Google a vender todo o setor de publicidade, e tão loco o processo foi aberto e caiu na mídia, as ações da Alphabet despencaram 2%. E vale lembrar que este não é o único processo antitruste que a empresa enfrenta nos Estados Unidos.

Em outubro de 2020, o Departamento de Justiça abriu um processo argumentando que Mountain View usa de práticas anticompetitivas no segmento de busca, e com a junção de um novo mirando nos anúncios, o governo norte-americano decidiu bater bem onde dói, já que ambos compõem a espinha dorsal da empresa; mais de 80% de seu faturamento bruto vem da dobradinha busca + anúncios, o que a empresa afirma que repassa 70% para anunciantes e desenvolvedores.

Ambos processos devem levar anos para chegarem a alguma conclusão, mas caso o Google seja forçado a desmembrar e vender sua divisão de publicidade, as consequências para o mercado serão gigantescas. Do lado da gigante, ela deixará de dominar o setor e abrirá espaço para outras companhias crescerem, ainda mais se a decisão for acompanhada do compartilhamento forçado do algoritmo de busca com concorrentes, algo que a União Europeia quer forçá-la a fazer.

De qualquer forma, essa briga não se resolverá da noite para o dia. Ainda levará um bom tempo para que o processo caminhe nos tribunais, o Google tentará de todas as formas defender seu negócio, enquanto o governo Biden, que não vai com a cara das big techs, vai testando águas para ampliar litígios contra outras companhias.

Fonte: Bloomberg

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