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Activision + Microsoft: FTC considera contestar aquisição

Órgão regulador dos EUA não estaria convencido de que compra da Activision pela Microsoft não prejudicará competição no mercado de games

1 ano atrás

E a novela Activision Blizzard + Microsoft continua: segundo fontes apuradas pelo site Politico, a FTC (Federal Trade Commission, ou Comissão Federal de Comércio), um dos órgãos dos Estados Unidos que supervisiona o livre mercado e a competição, estaria se preparando para abrir um processo antitruste, de modo a contestar, e impedir, a aquisição do estúdio de games pela gigante de Redmond.

Segundo fontes, os responsáveis por preparar a ação estão "céticos" quanto aos argumentos da Microsoft e Activision, de que o negócio não representa uma séria ameaça à competição justa no mercado de games.

Sede da Activision em Santa Monica, Califórnia (Crédito: Divulgação/Activision Blizzard)

Sede da Activision em Santa Monica, Califórnia (Crédito: Divulgação/Activision Blizzard)

A compra, fechada em janeiro de 2022 por US$ 68,7 bilhões, é a maior já realizada na indústria dos games, e a maior paga em espécie (dinheiro vivo) independente do setor. O negócio faria da Microsoft a terceira maior companhia do setor, atrás da Tencent e da Sony, e adicionaria marcas poderosas como Call of Duty, World of Warcraft, Diablo, Overwatch e outras, ao seu já imenso portfólio.

Além disso, a expertise da King em mercados mobile, com títulos como Candy Crush, proverá à Microsoft a dominância do que hoje é o maior setor do mercado, e o que lucra mais do que as demais partes (consoles, PC) combinadas.

Uma negociação dessa porte jamais passaria desapercebida pelos órgãos reguladores, tanto que a Autoridade para Competição e Mercados do Reino Unido (CMA), e a Comissão Europeia, já manifestaram preocupações a respeito da compra. Em ambos os casos, os argumentos são os mesmos: a compra da Activision representa uma séria ameaça à manutenção de uma competição equilibrada, tanto entre fabricantes de consoles, quanto entre desenvolvedoras e sistemas operacionais.

Em seu mais recente relatório, a CMA afirma que o acordo afeta diretamente estúdios britânicos e sistemas, e deprecia concorrentes diretos como Sony e Nintendo, e que o momento atual da internet, em que conexões ultrarrápidas estão se tornando mais acessíveis, favorecem a implementação adequada de serviços de streaming de games.

A Microsoft, aliada ao catálogo de estúdios como Activision, Bethesda, Mojang, Double Fine, Ninja Theory e outros, aos serviços Xbox Game Pass e Cloud Gaming, e à sua infraestrutura de nuvem via Azure, teria os meios para fazer de suas plataformas, Xbox e Windows, as mais viáveis para desenvolvedores, grandes e pequenos, que desejam distribuir seus jogos e lucrar muito com eles.

O argumento da Comissão Europeia é similar. O entendimento é de que a Microsoft não só prejudicaria o mercado local de estúdios, mas desequilibraria a balança do mercado a seu favor, no que desenvovleras AAA e independentes entenderiam que Redmond, com franquias de apelo global no bolso, atrairia muito mais público para comprar consoles e PCs Windows.

Com o tempo, estes se tornariam menos propensos a desenvolver para sistemas PlayStation e Nintendo, porque o investimento não compensaria.

CMA, Comissão Europeia e FTC não estão comprando argumentos de que aquisição não prejudicará o mercado (Crédito: Divulgação/Microsoft)

CMA, Comissão Europeia e FTC não estão comprando argumentos de que aquisição não prejudicará o mercado (Crédito: Divulgação/Microsoft)

O fiasco (mais do que previsto) do Google Stadia, e o escopo limitado de concorrentes, como Amazon Luna, Nvidia GeForce Now, e PS+Premium, indiretamente favorecem o Xbox Game Pass e o Cloud Gaming, que funciona bem em redes velozes, e está disponível em mais regiões que seus concorrentes.

A Microsoft argumenta que não está interessada em impedir a Activision de desenvolver para outras plataformas, e inclusive apontou a hipocrisia da Sony, no que ela tem mais público, e vende mais consoles PS5, em uma proporção de aproximadamente 3:2, quando comparados à linha Xbox Series X|S.

Da mesma forma, pesa contra a Sony que ela só começou a distribuir seus exclusivos no PC recentemente, e eles chegam com um ano de atraso em relação ao lançamento original para PS5; na plataforma Xbox + Windows, quando disponível, a disponibilidade em ambos sistemas é imediata, e com cross-buy, que a gigante japonesa não pratica, pois disponibiliza seus games em lojas de terceiros, como Steam e Epic Games Store.

Troca de acusações à parte, a FTC seria o terceiro órgão regulador do mercado que se posiciona inicialmente contra a aquisição. Segundo o Politico, tanto Satya Nadella quando Bobby Kotick, respectivamente CEOs da Microsoft e Activision Blizzard King (ABK), podem ser chamados para depor, caso o processo antitruste seja levado adiante.

Desde que a FTC reviu as regras para fusões e aquisições, como parte de um esforço do governo de Joe Biden para impedir a concentração de poder nas mãos de poucos conglomerados, o órgão já encrencou com a Meta, e está barrando a compra da Within, de soluções em RV para condicionamento físico, e deu uma canseira na Sony, ao analisar profundamente a aquisição da Bungie, ainda que esta tenha sido autorizada depois.

O entendimento é de que sob o comando de Lina Khan, a FTC se tornou um órgão bem menos leniente com aquisições, principalmente no mercado de tecnologia. Claro que a Bungie não é um estúdio tão grande, e muito dificilmente a agência conseguiria barrar a compra, ainda que se justifique o interesse da Sony na experiência da empresa com serviços online, e não em Destiny 2, mas a compra da Activision é um negócio muito maior, em todos os aspectos.

Lina Khan, presidente da FTC, colocou a agência em modo Tolerância Zero com gigantes tech (Crédito: Graeme Jennings-Pool/Getty Images)

Lina Khan, presidente da FTC, colocou a agência em modo Tolerância Zero com gigantes tech (Crédito: Graeme Jennings-Pool/Getty Images)

Do lado dos interessados em concluir a negociação, tanto a Microsoft quanto a Activision (especialmente Bobby Kotick, que pode ganhar muito dinheiro) acreditam que mesmo com FTC, CMA e Comissão Europeia não se mostrando inicialmente tolerantes, a aquisição deverá ser concluída até junho de 2023, tempo estimado para que uma decisão seja tomada. Ainda assim, ambas não devem esperar por um passeio no parque.

Vale lembrar que a China, que também tem peso na regulação do mercado, e foi o primeiro país a barrar a compra da ARM pela Nvidia, não fez nenhuma manifestação sobre o caso até agora; a CMA recentemente forçou a Meta a vender o Giphy; e todos conhecem a habitual má-vontade da Comissão Europeia, comandada pela comissária linha-dura Margrethe Vestager (Lina Khan é frequentemente comparada a ela), para com as empresas dos Estados Unidos que atuam no Velho Mundo.

Claro, a informação apurada pelo Politico não significa que a FTC vai abrir um processo contra a aquisição, mas que estariam considerando fazê-lo, e que mesmo em caso positivo, não quer dizer que a Activision não será absorvida pela Microsoft. Mas pelo andar da carruagem, fica claro que fechar o negócio não será fácil.

Fonte: Politico

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