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O técnico que foi do Football Manager à elite do futebol

Tendo crescido jogando Football Manager 2001, William Still viu nascer o desejo de ser técnico e com apenas 28 anos comandou um time contra o PSG de Messi

2 anos atrás

No dia 29 de agosto de 2021, milhões de pessoas se sentaram diante da TV para assistir algo inimaginável: a estreia de Lionel Messi com uma camisa que não fosse a do Barcelona. Com todos os holofotes voltados para o argentino, ninguém prestou muita atenção em William Still, uma pessoa que estava no Stade Auguste Delaune e dava mais um passo importante na sua carreira.

William Still, ainda no Beerschot (Crédito: Reprodução/Transfermarkt)

Still começou como assistente no time sub-14 do Preston North End, até se tornar técnico das equipes profissionais do Lierse e Beerschot, ambas da Bélgica. Contratado como assistente pelo Stade de Reims em junho de 2021, o jovem treinador de apenas 28 anos teria a oportunidade de comandar o time francês por um acaso, a suspensão do técnico principal, Oscar Garcia.

Sem poder contar com o comandante, o modesto time da cidade de Reims precisaria confiar no conhecimento de um “garoto” para enfrentar o poderoso Paris Saint-Germain. Isso já seria suficiente para deixar muitos torcedores desesperados, mas o que a maioria deles não sabia (e poderia servir como agravante), era que Still desenvolveu boa parte do seu aprendizado em jogos de gerenciamento de futebol.

Filho de ingleses, mas tendo nascido na Bélgica, desde pequeno William e seu irmão Edward sempre foram apaixonados por esse tipo de jogo, especialmente pelo F.A. Premier League Football Manager 2001. Na verdade, a dupla dedicava tanto tempo a aperfeiçoar suas equipes virtuais, que os pais chegaram a proibi-los de jogar.

Segundo William, a dupla jogou o game criado pela Electronic Arts até o disco parar de funcionar, eventualmente decidindo mudar para o Championship Manager. Na época com cerca de 15 anos, ele ficava até a madrugada jogando e como tinha que acordar logo depois, invariavelmente se perguntava por que continuava fazendo aquilo.

F.A. Premier League Football Manager 2001

Um belo fim de dia no F.A. Premier League Football Manager 2001 (Crédito: Divulgação/EA/MobyGames)

Com o futebol fazendo parte de sua vida, William Still passou pelas divisões de base de clubes como o Sint-Truiden e Mons, chegando a estrear profissionalmente na equipe do Tempo Overijse, da quarta divisão belga. Depois ainda vieram passagens por outros times de menor expressão, indicando que aquela seria a vida do rapaz: jogar por clubes pequenos, até chegar a hora de se aposentar e talvez se tornar um técnico.

Porém, num determinado momento Still percebeu que não queria isso, que não tinha habilidade para ser um grande jogador e assim decidiu se tornar técnico. Começaram então as fases de estudo e o estágio no Preston North End, com a dedicação do sujeito o levando a experiências em diversas equipes. Porém, ele nunca esqueceu como essa vontade de se tornar treinador começou.

“O Football Manager me deu o ímpeto de querer organizar uma equipe,” declarou William Still. “Eu queria ser capaz de conversar com os jogadores. Eu queria ter aquele relacionamento. Quero dizer, eu já estava no futebol, mas o Football Manager me permitiu ter aquele vislumbre de como seria verdadeiramente gerenciar uma equipe.”

“Na verdade, acho que as pessoas que jogam Football Manager entendem o jogo [futebol] um pouco mais,” defendeu o técnico. “Você precisa entrar em muitos detalhes para realmente ganhar coisas e ser bem-sucedido no jogo, especialmente hoje em dia, com ele se tornando cada vez mais complicado.”

Ainda de acordo com Still, muito do que pode ser visto em um jogo como o Football Manager costuma acontecer em clubes do mundo real. Um exemplo citado por ele são as negociações, com o técnico virtual precisando fazer uma proposta, recebendo uma contraproposta e mesmo com os clubes entrando em acordo, pode acontecer do atleta simplesmente não aceitar a transferência.

As similaridades entre o real e o virtual ainda aconteceriam nas conversas, na programação de treinamentos e na definição das rotinas de exercícios. Para William Still, quanto mais fundo formos nos detalhes do jogo, mais real ele se tornará, com ele chegando a afirmar que o Football Manager o tornou um técnico melhor.

Football Manager: ferramenta de apoio ou mero passatempo?

Football Manager 2022

“Bora time!” (Crédito: Divulgação/Sports Interactive)

Para os mais puristas, as declarações de Still podem soar um tanto exageradas, pois um jogo não seria capaz de preparar alguém para uma tarefa tão complicada como gerenciar um clube de futebol. Porém, a ideia de utilizar o Football Manager como uma ferramenta de apoio tem se espalhado por todo o mundo.

Aparecendo como um dos jogos favoritos de atletas como Cesar Azpilicueta, Antoine Griezmann, Diogo Jota e Ousmane Dembele, ele costuma ser utilizado como uma válvula de escape, permitindo que mesmo renomados jogadores possam sentir como é estar na pele daqueles que os comandam. Até Ole Gunnar Solskjær, ex-treinador do Manchester United, já declarou ter aprendido muito com a criação da Sports Interactive.

Mas não são apenas os aspirantes a técnicos que podem se beneficiar do realismo proposto pela série Football Manager. Servindo como um robusto banco de dados para clubes de diversos lugares do planeta, é através dele que várias equipes de análise tem procurado por atletas que possam despontar como novos astros mundiais.

Criado com a ajuda de uma rede formada por mais de 1300 colaboradores — sem contar os 86 chefes de pesquisa, incluindo um em tempo integral para a Premier League —, ao longo de 25 anos o título reuniu os dados de mais de 925 mil atletas. Já na sua edição 2021 ele contava com 350 mil jogadores de futebol, além de 60 mil clubes, 50 mil cidades e centenas de competições.

Football Manager 2022

FM22, um prato cheio para quem gosta de números, tabelas, etc. (Crédito: Divulgação/Sports Interactive)

Segundo o olheiro de um clube do campeonato inglês e que conversou com a ESPN pedindo para não ser identificado, o banco de dados disponível no Football Manager “é fantástico [...] com ele cobrindo cada canto do planeta.” Mesmo assim, o executivo tem dúvidas sobre o quanto isso pode ajudar os departamentos de análises.

“Para mim, é puramente entretenimento e eu não consultaria o jogo para informação que usaria profissionalmente,” explicou. “No fim das contas, é um jogo... Nós temos nossa própria rede que levou anos para ser criada, composta por pessoas que conhecemos e confiamos, e isso é bom o suficiente.”

No entanto, é importante notar que a maioria dos clubes não possui uma rede de olheiros tão bem estruturada, muito menos o orçamento de um time da liga mais rica do mundo — e nem precisamos olhar para a América do Sul para perceber isso. Segundo o presidente do Toulouse, que faz parte da segunda divisão francesa, eles deverão adotar o Football Manager como uma forma de ajudar na hora de contratações.

“Existem muitos clubes que estão usando [o jogo],” afirmou Damien Comolli. “Ele não será o pilar central da nossa estratégia de recrutamento, mas pode ajudar. Os olheiros do futebol fazem observações no campo. Então, eles enviam esses relatórios e os verificamos com dados [...] Todo recrutamento é feito graças a dados que confirmam o que o olheiro vê.”

Carreira no FIFA é bem menos complexa (Crédito: Divulgação/EA)

Ou seja, com ou sem a utilização do Football Manager, contratar um jogador — especialmente quando se trata de uma jovem promessa — acaba sendo uma mistura de estudo, observação e uma pitada de sorte. Há inúmeros relatos de atletas que foram ignorados por clubes e depois se tornaram grandes craques, assim como temos aqueles que tinham tudo para vingar, mas nunca saíram da mediocridade.

Para quem utiliza jogos assim apenas como diversão, garimpar esses talentos faz parte da graça, tornando a aposta em garotos algo quase tão legal quanto sagrar-se campeão no fim da temporada. Curiosamente, mesmo adorando futebol e considerando o modo Carreira da série FIFA como o meu preferido, nunca consegui me interessar pelos títulos “puramente manager.”

Acredito que isso tenha a ver com a impossibilidade de sermos parte atuante nesses jogos, nos restando cuidar dos aspectos administrativos e técnicos das equipes e deixando que os jogadores tomem as decisões em campo. Como gosto de controlar os atletas virtuais diretamente e por achar que o gerenciamento no FIFA já é abrangente o suficiente, continuarei comandando minhas equipes apenas por lá. Pelo menos o meu casamento agradece.

Fonte: Mirror Online

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