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Para militares dos EUA, videogames formam péssimos soldados

Militares ligados ao departamento de saúde das Forças Armadas dos EUA dizem que membros da "Geração Nintendo" têm ossos frágeis

2 anos atrás

Um relatório do Sistema Militar de Saúde dos Estados Unidos (Military Health System, ou MHS) tomou maiores proporções ao ser usado como base de críticas de militares, ligados ao Departamento de Defesa dos EUA e ao Pentágono, contra a Geração Z.

O documento diz que jovens na idade de alistamento, entre 18 e 25 anos, estão mais propensos a sofrerem fraturas durante o treinamento do que as gerações anteriores, no que militares jogaram boa parte da culpa, sem surpresa, nos videogames.

Call of Duty: Vanguard (Crédito: Reprodução/Sledgehammer Games/Activision)

Call of Duty: Vanguard (Crédito: Reprodução/Sledgehammer Games/Activision)

O MHS é um sistema de saúde integrado voltado para militares na ativa, reserva e veteranos, algo como um SUS de uso exclusivo por membros das Forças Armadas dos EUA. Sua principal função é garantir que todo o contingente esteja 100% sadio o tempo todo para serem convocados a qualquer momento para ações militares, incluindo os reservistas.

É ele quem também gerencia o treinamento e condição física e de saúde dos novos recrutas, e ao analisar os jovens de hoje que estão se alistando, o MHS contatou que eles possuem mais problemas físicos do que os jovens militares das gerações anteriores, por serem mais sedentários.

O relatório aponta que por não possuírem o hábito de realizarem exercícios físicos, os recrutas da Geração Z, nascidos entre 1997 e 2004, são mais propensos a sofrerem danos, para não dizer fraturas diretamente, ao serem submetidos ao nível de "atividade intensa" que os EUA exigem de suas tropas, durante a fase de treinamento básico.

O MHS tentou minimizar as críticas ao relatório, que viriam de qualquer jeito, ao basicamente chamar os recrutas de sedentários e preguiçosos, no que sugeriu que os jovens deveriam se submeter a um período de treinamento físico, em academias, por exemplo, por "algumas semanas" antes de se alistarem; porém, a versão original do artigo publicado continha uma citação incisiva, que culpava os videogames por formarem soldados ruins.

Advance Wars (Crédito: Divulgação/Intelligent Systems/Nintendo) / militares

Advance Wars (Crédito: Divulgação/Intelligent Systems/Nintendo)

A declaração posteriormente removida da publicação era do Major Jon-Marc Thibodeau, coordenador clínico no Forte Leonard Wood, em Missouri. Ao ser questionado pelo MHS a respeito da condição física dos atuais recrutas dos EUA, ele foi taxativo:

"O esqueleto do soldado da 'Geração Nintendo' não foi fortalecido por atividade física antes do alistamento, assim, alguns desses ossos se quebram mais facilmente."

A frase foi parcialmente endossada pela capitã Lydia Blondim, assistente-chefe de Teraria Física do Hospital Geral do Exército no mesmo forte em Missouri, que descreveu os ferimentos e lesões mais comuns entre os recrutas da Geração Z:

"Vemos lesões que variam de fraturas agudas e quedas, a rupturas no ligamento cruzado anterior do joelho, tensões musculares e fraturas por estresse, com a esmagadora maioria das lesões relacionadas ao uso excessivo."

Segundo a capitã Blondim, esses ferimentos se concentram mais na extremidade inferior do corpo, no que as lesões por "uso excessivo" significam ferimentos durante a carga de treinamentos intensivos, no que os jovens não possuem constituição adequada para suportarem. Por fim, ela diz que recrutas mulheres são mais propensas a se ferirem do que homens.

A visão de militares ligados ao sistema de saúde das Forças Armadas dos EUA, censurando o sedentarismo e com alguns usando mais uma vez os videogames como o típico bode expiatório, vai de encontro a uma publicação recente do Departamento de Defesa, em que jogos FPS aprimoram o tempo de reação de marinheiros e fuzileiros navais.

De modo resumido, embora videogames possam ser usados para aprimorar habilidades específicas de combatentes, as Forças Armadas norte-americanas estão preocupadas com a qualidade geral de seus combatentes, com os jovens cada vez menos engajados com atividade física de qualquer tipo, ficando mais tempo na frente do PC, TV e videogame.

É curioso, portanto, o timing entre o relatório do MHS e o anúncio de que no dia 5 de maio de 2022, o Exército dos EUA irá desativar America's Army: Proving Grounds, o game mais recente da série que por 20 anos, foi usada como ferramenta de recrutamento.

America's Army: Proving Grounds (Crédito: Divulgação/U.S. Army) / militares

America's Army: Proving Grounds (Crédito: Divulgação/U.S. Army)

Lançado originalmente no dia 4 de julho de 2002 (afinal, por que não?), a primeira versão de America's Army era voltada para usuários Windows e distribuída gratuitamente, com sequências e spin-offs sendo lançados para diversos sistemas. Proving Grounds foi lançado em outubro de 2015 e está disponível no Steam e PSN para PS5 e PS4, por enquanto.

A nota oficial, publicada pelo Exército dos EUA, diz apenas que a série America's Army "cumpriu sua missão", ao alcançar mais de 20 milhões de jogadores em duas décadas, no que ela foi um experimento para uso de novas tecnologias para o engajamento de jovens nas Forças Armadas. A nota não diz que não haverão novos games da franquia no futuro, porém, o foco se voltará para novos métodos para estimular o recrutamento.

Ao longo dos anos, a série America's Army foi duramente criticada por ser uma ferramenta de propaganda do U.S. Army (o que eles nunca negaram, aliás), mas a verdade é que videogames são usados desde sempre tanto para recrutar pessoal e marketing, quanto para treinamento de pessoal. Recursos similares são inclusive usados em guerras reais.

A curiosidade aqui é o anúncio do desligamento de AA: Proving Grounds coincidir com a publicação do relatório do MHS, e mesmo que uma coisa não tenha nada a ver com a outra (provavelmente não tem, mesmo), fica a impressão de que há um alinhamento para que o sistema de saúde militar integrado, ligado ao Departamento de Defesa e ao Pentágono, não caia em contradição devido a um game oficial mantido pelo Exército, com verba federal (sim, o contribuinte pagou pela manutenção de America's Army por 20 anos).

No mais, é uma tradição militar criticar as gerações atuais por serem mais fracas, ou menos propensas a se alistarem nas Forças Armadas, ao ponto de dizer que os jovens de hoje não aguentam o serviço militar.

A pergunta a ser feita é sobre quem tem culpa no cartório: se os jovens da "Geração Nintendo" por terem ossos frágeis, ou os próprios militares, ao imporem um "treinamento básico" de treinamento pesado demais.

Fonte: Dvidshub.net, Popular Science

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