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Novo método viabiliza doação de "pulmões universais"

Pesquisadores do Canadá criam método que faz "conversão" de sangue tipo A em pulmões de doador para tipo O

2 anos atrás

O transplante de órgãos, seja de pulmões, coração, rins, fígado, etc., precisa obedecer critérios diversos, incluindo a compatibilidade sanguínea entre doador e receptor, este um comum complicador desde sempre. No entanto, cientistas vêm estudando meios para contornar essa limitação.

Agora, uma equipe de pesquisadores de diversas universidades do Canadá descreveram um método que viabilizou o que vem sendo chamado "pulmões universais", em que um órgão de um doador de sangue tipo A foi transplantado sem problemas em um receptor de sangue tipo O.

Representação gráfica do sistema respiratório humano (Crédito: MDGRPHCS/Shutterstock) / pulmões

Representação gráfica do sistema respiratório humano (Crédito: MDGRPHCS/Shutterstock)

Todo mundo aprendeu nas aulas de Biologia da escola (assim espero) o que é o Sistema ABO e qual é a compatibilidade sanguínea para casos de doação, contando também com o fator RH. Basicamente, nós sabemos que pessoas com sangue AB+ são o que chamamos receptores universais, pois por contarem com ambos antígenos A e B, e devido ao RH positivo, eles podem receber sangue de qualquer pessoa.

Já indivíduos com sangue O- são os doadores universais, pois eles não produzem anticorpos para os antígenos A e B, que eles não possuem, e possuem fator RH negativo. De fato, em casos de emergências onde um paciente precise de sangue, na indisponibilidade de um compatível, o sangue O- é o preferencialmente administrado, e o mais essencial para se ter em hemocentros.

É por isso que você sempre vê campanhas para que pessoas com sangue tipo O, preferencialmente O-, que respondem por 2,69% da população mundial (no Brasil são 9%, a maior porcentagem por país registrada, empatando com a Austrália, Reino Unido, Espanha e a Nova Zelândia), sejam doadores frequentes.

Exatamente por essas características, pessoas com sangue O só podem receber sangue do mesmo tipo, e o AB só pode ser usado em pacientes do mesmo tipo sanguíneo, além de ser essencial considerar o fator RH. E tudo o dito acima se estende a transplantes de órgãos, por razões óbvias.

É por isso que a técnica apresentada em um novo artigo é significativa, pois levaria a uma maior compatibilidade em processos de doação de órgãos.

O método é bem específico, e envolve uma "conversão" das células sanguíneas dos pulmões extraídos do doador, de tipo A em tipo O, durante o procedimento conhecido como Perfusão Pulmonar Ex Vivo (PPEV). Este consiste em emular o ambiente corporal aos órgãos após a extração, de modo a mantê-lo "vivo" e viável por mais tempo, e também para recondicionar pulmões limítrofes.

Esta técnica, desenvolvida em meados dos anos 2010 e usada de forma experimental no Canadá, vem sendo testada no Brasil há algum tempo.

Pulmões mantidos em cúpula e ligados a sistema de PPEV (Crédito: Divulgação/University Health Network)

Pulmões mantidos em cúpula e ligados a sistema de PPEV (Crédito: Divulgação/University Health Network)

O processo de conversão envolveu o uso de duas enzimas, FpGalNAc deacetylase e FpGalactosaminidase, para remover os antígenos do sangue tipo A doador dos 8 pulmões usados na pesquisa, todos previamente classificados como impróprios para transplantes. Na sequência, os órgãos foram expostos a plasma de sangue tipo O, para prepará-los a um suposto futuro ambiente de um receptor com este tipo sanguíneo.

Em cada simulação realizada, os pesquisadores contataram "níveis minimizados" de efeitos típicos de transplante de órgãos em um organismo incompatível, como ação de anticorpos e lesões, e no geral, o estado de saúde dos pulmões não apresentou nenhum decaimento. Em suma, eles permaneceram saudáveis enquanto mantidos em PPEV.

Segundo o Dr. Marcelo Cypel, um dos dois brasileiros co-autores do estudo (a outra é a Dra. Rafaela V. P. Ribeiro), o método de conversão sanguínea poderia em tese ser aplicado em qualquer órgão viável, mas as pesquisas para contornar as limitações na doação impostas pelo tipo sanguíneo ainda estão no começo.

A expectativa é que a técnica seja libera para os primeiros testes clínicos já em 2023, o que poderia elevar significantemente a taxa de órgãos de doadores universais para procedimentos médicos.

Referências bibliográficas

WANG, A. et al. Ex vivo enzymatic treatment converts blood type A donor lungs into universal blood type lungs. Science Translational Medicine, Volume 14, Edição 632, 16 de fevereiro de 2022. Disponível em https://doi.org/10.1126/scitranslmed.abm7190.

Fonte: ExtremeTech

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