Ronaldo Gogoni 2 anos atrás
A Nvidia está enfrentando dificuldades para concluir a aquisição da ARM, visto que os principais reguladores do mercado são contra o negócio. A recente entrada da FTC (Federal Trade Commission, ou Comissão Federal de Comércio), órgão regulador de comércio dos Estados Unidos ao coro, que abriu um processo visando impedir o negócio, teria desestimulado a fabricante de GPUs a tal ponto, que ela já não espera que ele seja concluído.
A compra da ARM, avaliada em US$ 40 bilhões, levantou preocupações da China e do Reino Unido, além dos EUA, que citaram ameaças ao livre mercado e à segurança nacional, como pontos para impedi-la.
O Grupo SoftBank via a venda da ARM, adquirida em 2016 por US$ 32 bilhões, como uma boia de salvação para a corporação, para cobrir os prejuízos sofridos nos últimos dois anos, devido à pandemia da COVID-19.
No entanto, tão logo o comprador foi anunciado como sendo a Nvidia, companhia que atua no mesmo mercado que a designer britânica, já que além de GPUs para o usuário final e mercado corporativo, ela também desenvolve SoCs para dispositivos móveis e setor automotivo, as preocupações começaram a se acumular.
Ainda em setembro de 2020, apenas uma semana depois do anúncio de aquisição, o governo da China se manifestou contra o negócio. Na ocasião, o site estatal Global Times publicou um editorial extraoficial, que serve como termômetro dos ânimos em Pequim, dizendo que a compra da ARM pela Nvidia representava uma séria ameaça para a empresas de tecnologia locais.
O motivo era bem simples, os designs da ARM estão presentes em quase todos os dispositivos eletrônicos do planeta, desde celulares e tablets a equipamentos de infraestrutura, transportes, segurança, medicina, vigilância, etc. O temor do governo chinês era de que o governo dos EUA classificasse a empresa, ainda que tenha sede britânica, como um recurso estratégico numa possível repatriação da companhia, e dessa forma, impedir a negociação de seus produtos com certos clientes, de empresas externas a nações inteiras.
Não demorou muito, e em janeiro de 2021, o Reino Unido se uniu à China e externou suas preocupações, chegando a citar riscos à segurança nacional, em um cenário onde a ARM acabasse por mudar de nacionalidade. A Nvidia jurou de pés juntos, mais de uma vez, que a empresa continuaria a ser britânica e independente, mas nenhum órgão regulador levou a afirmação a sério.
Em outubro de 2021, a Comissão Europeia abriu uma investigação profunda no processo de aquisição da ARM, citando uma tangível ameaça ao livre comércio, em um cenário onde a Nvidia poderia restringir o acesso de tecnologias da designer de chips a seus concorrentes diretos, como a AMD e companhias europeias.
Em dezembro do mesmo ano, foi a vez da FTC abrir o seu processo, fazendo coro às mesmas preocupações dos demais órgãos reguladores, e adicionando a possibilidade de que a Nvidia poderia praticar espionagem industrial, pois passaria a ter acesso a dados estratégicos de suas concorrentes, sendo estes clientes da ARM.
Vale lembrar que concorrentes como Intel, Qualcomm, Microsoft, Amazon e outras, têm feito lobby para que os reguladores ao redor do globo para que estes não aprovem a compra, o que também pode ter influência nas decisões mais recentes de ditos órgãos.
Para o processo de aquisição ser concluído, ele precisa ser aprovado de forma unânime pelos principais órgãos reguladores do mercado, que incluem os Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e China, mas todos se posicionaram contra o negócio. Em circunstâncias normais, a negociação deveria estar próxima das etapas finais a essa altura, mas pelo andar da carruagem, ao menos um regulador vai jogar água no chope, inviabilizando toda a empreitada.
Exatamente por isso, a Nvidia já estaria se preparando para um cenário onde a compra não será aprovada, ao ponto de desistir da ARM por conta própria antecipadamente. Segundo fontes do site Bloomberg próximas à empresa, a direção teria emitido notas a parceiros comerciais, onde ela manifesta descrença em um final positivo do processo.
Oficialmente, a Nvidia continua crente de que a aquisição será aprovada. Segundo o porta-voz da gigante de Santa Clara Non Sherbin:
"Nós (a Nvidia) continuamos a manter nossa visão expressa em detalhes em nossos relatórios mais recentes — de que esta transação proverá uma oportunidade para acelerar o alcance da ARM e incrementar a competição e a inovação."
Um porta-voz do Grupo SoftBank se limitou a dizer em nota, enviada por e-mail, que a companhia "continua esperançosa" de que a aquisição será aprovada, mas, na prática, o conglomerado também não mais acredita que conseguirá vender a ARM para a Nvidia. No mais, a companhia de Santa Clara se sairá melhor após uma tentativa frustrada de compra, do que o grupo japonês, que atravessa uma fase de vacas magras.
Como alternativa, o Grupo SoftBank pode acabar sendo obrigado a abrir o IPO da ARM, mas segundo informes, as opiniões na empresa estão divididas: alguns argumentam ser melhor esperar pelos desdobramentos finais antes de negociar as ações da designer de chips, enquanto outros acreditam ser melhor acelerar o plano, enquanto a corrida por semicondutores ainda for atraente para investidores.
Isto é, se o cenário não mudar radicalmente em breve, algo que nem todos na indústria (incluindo aí o próprio CEO da ARM) acreditam que ocorrerá.
Fonte: Bloomberg