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Hideo Kojima e o brilho eterno de uma mente imprevisível

De um game que se molde ao jogador a outro estrelado por Mads Mikkelsen e chamado "MADS MAX", a mente de Hideo Kojima certamente é um lugar estranho

2 anos e meio atrás

Gostando ou não de Hideo Kojima, uma coisa não há o que discutir: ele é um game designer que pensa de maneira… diferente. De uma simples ideia de chamar uma organização secreta pelo inusitado codinome La-li-lu-le-lo, até nos colocar para cruzar um Estados Unidos pós-apocalíptico para religar as redes de comunicação, seus jogos podem ser acusados de qualquer coisa, menos de caírem no lugar comum. Agora, se aquilo que ele já lançou cambaleia entre a genialidade e a bizarrice, imagine o que ainda está na cabeça do japonês?

Crédito: Divulgação/Kojima Productions

Dedicado atualmente a concluir a versão do diretor do Death Stranding, cujo lançamento está programado para 24 de setembro, Kojima-san tem aproveitado seu tempo para imaginar e sugerir novos jogos. Entre os conceitos idealizados pelo game designer, um dos últimos foi revelado durante uma entrevista concedida à revista japonesa An-An, onde ele disse:

Quero criar um jogo que mude em tempo real. Mesmo que haja pessoas de diferentes idades e profissões jogando um mesmo jogo, elas estão jogando da mesma maneira. Em vez disso, quero que o jogo mude baseado em onde a pessoa vive e nas perspectivas daquela pessoa... Como você derrotaria os vampiros usando a luz do sol, [Boktai] podia mudar baseado em onde e quando você jogava o game. Este tipo de recurso conecta sistemas feitos pelo homem ao mundo real.

O comentário pode parecer apenas mais um devaneio de Hideo Kojima, mas o próprio jogo citado por ele serve como exemplo da viabilidade de algo assim ser criado.

Lançado em 2003 para o Game Boy Advance, Boktai: The Sun Is in Your Hand nos colocava no papel de um caçador de vampiros que precisava usar uma arma chamada Gun del Sol para dar conta dos inimigos e ao usar o sensor de luz do portátil, ele nos incentivava a jogar sob o sol.

O título contou com Kojima como produtor e foi elogiado na época por trazer uma mecânica de jogo inovadora. Depois vieram três continuações, sendo duas para o mesmo sistema e uma para o Nintendo DS, mas como esta perdeu o recurso que se valia da iluminação solar, foi rebatizada como Lunar Knight ao chegar no ocidente.

No papel a ideia é muito interessante e por mais que um jogo como o Death Stranding já busque entregar alguma variação ao implementar um sistema assíncrono de cooperatividade, fico imaginando como essa capacidade de adaptação poderia ser levada adiante. Por exemplo: e se ao invés de colocar todos num mesmo mapa, uma continuação se baseasse na nossa localização, usando algo como o Google Maps e gerando um mundo virtual baseado nas nossas redondezas?

Conseguir fazer com que tudo funcionasse corretamente não seria uma tarefa simples, mas podemos olhar para o Microsoft Flight Simulator para vermos que a fusão de mundo real e virtual já é possível. Por estar conectado a sistemas meteorológicos, o simulador utiliza a inteligência artificial da plataforma Azure para reproduzir o clima de qualquer região do planeta e assim várias pessoas puderam experimentar como seria sobrevoar o furacão Ida.

Mas ao mesmo tempo em que a mente de Hideo Kojima é capaz de nos fazer pensar como poderia ser legal um jogo que se adaptasse a nós, ela pode nos mostrar como deve ser perturbador estar na pele do japonês.

Mesmo que você nunca tenha jogado o Death Stranding, provavelmente sabe que o jogo contou com a participação de diversas figuras conhecidas de Hollywood. Norman Reedus, Lea Seydoux, Guillermo Del Toro, Tommie Earl Jenkins…, mas de todos eles, talvez o mais talentoso seja mesmo o Mads Mikkelsen, ator pelo qual Kojima nunca escondeu sua admiração.

O que poucos sabiam é que o game designer gostaria de aproveitar sua amizade com o dinamarquês além daquele jogo, até que ele decidiu contar seu inusitado plano no Twitter:

Tenho várias ideias do que eu gostaria de criar com o Mads como personagem principal. Uma vez expliquei uma delas para o Mads. Ele ouviu atentamente, mas quando lhe contei o título, ele perdeu sua expressão. Ele pareceu ter achado que eu estava brincando, mas fui sério. O título provisório era ‘MADS MAX’.

Hideo Kojima e Mads Mikkelsen

— Como é que é?! (Crédito: Reprodução/Hideo Kojima)

Ok, eu entendo que o criador do Metal Gear seja um grande fã do diretor George Miller, que ficou conhecido pela franquia Mad Max e apenas pelo título não temos como imaginar como seria tal jogo. Ainda assim, não consigo acreditar que ele teve coragem não só de propor isso, como de tornar a ideia pública.

Quer outro exemplo de até onde pode ir a mente de alguém como Kojima-san? Então veja a explicação que ele deu para de onde surgiu a inspiração para a história do Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty:

“[Matteo] Garrone, Guillermo del Toro, [Robert] Zemeckis, todos trabalharam em filmes do Pinóquio. Eu fui influenciado pelo Pinóquio. O Raiden foi engolido pela enorme baleia branca da sociedade da informação, foi digerido no seu estômago e vomitado pelo ânus!

Depois disso, seu fantoche de controle de informações corta os cordões e começa a andar com as próprias pernas. Isso é o MGS2.

Mas mesmo aceitando que excentricidade e ideias um tanto absurdas seja algo comum a muitos autores e longe de querer censurar a criatividade de alguém, como não ler tais palavras e não concordar com quem diz que o sujeito está se perdendo no próprio personagem?

Enfim, meu medo agora é pensar no que ainda temos a receber de alguém tão atípico quanto Hideo Kojima. Mas desde que não seja um jogo onde o Mikkelsen embarca numa viagem cometendo as mais incríveis loucuras, acho que já estará muito bom.

Fonte: Siliconera

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