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Free Guy e a influência dos games no cinema

Contando a história de um NPC que ganha consciência, Free Guy: Assumindo o Controle mostra como filmes baseados em elementos de games podem funcionar

2 anos e meio atrás

Enquanto Hollywood segue tentando encontrar uma fórmula mágica que faça com que os games sejam bem adaptados como filmes, algumas pessoas ligadas ao cinema estão trilhando um caminho um pouco diferente. Ao invés de apenas transpor para a telona as histórias consagradas pelos jogos eletrônicos, elas têm aproveitado conceitos estabelecidos pela mídia para dar vida a produções originais e o último a tentar isso é o Free Guy: Assumindo o Controle.

Free Guy: Assumindo o Controle

Crédito: Divulgação/20th Century Studios

Dirigido por Shawn Levy, neste longa-metragem acompanharemos Guy (Ryan Reynolds), um NPC (da sigla em inglês para Personagem Não-Controlável) que trabalha como caixa de banco num jogo de mundo aberto chamado Free City. Tudo corria normalmente, com o protagonista e os demais personagens vivendo suas tediosas rotinas em um loop eterno, até que certo dia Guy passa a ter consciência de estar vivendo em um ambiente virtual.

Escolhido anteriormente para ser o responsável pela adaptação para o cinema da franquia Uncharted, Levy optou por deixar o projeto justamente para se dedicar à criação do Free Guy: Assumindo o Controle, onde acreditava que teria mais liberdade. Agora, com o filme estreando nos cinemas de todo o mundo, o diretor deu a sua opinião sobre porque existe tanta dificuldade em levar os games para a sétima arte:

O que sei da minha experiência — de ter caminhado na estrada com Nathan Drake e o Uncharted — é que você pode contar uma história na tela, mas precisa ser fiel às expectativas do jogo e às expectativas dos jogadores da franquia original. Isso sempre colocará bloqueios na sua história.

Eu mal posso esperar para ver o [filme] Uncharted, mas para mim, como diretor, ter liberdade absoluta, liberdade criativa absoluta onde não estou em dívida com nada, exceto com as ideias que foram empolgantes para mim e para o Ryan, isso é realmente divertido. E este não é o caso quando você está criando uma adaptação de um videogame, um verdadeiro filme de videogame neste sentido. Sempre haverá parâmetros dos quais terá que estar ciente.

Shawn Levy também afirmou que boa parte do filme sobre o Uncharted — e que agora está sob os cuidados de Ruben Fleischer — ainda contará com boa parte do roteiro escrito por ele. Outro detalhe que chama a atenção é a reclamação sobre falta de liberdade, quando uma das principais reclamações das pessoas ao assistirem um filme baseado em um jogo que tanto amam é justamente sobre como o roteiro se desviou daquilo que elas estavam tão acostumadas.

Mas independentemente do motivo que leva uma adaptação a não funcionar como os fãs gostariam, Free Guy: Assumindo o Controle não é o único filme a explorar ideias comuns nos jogos eletrônicos e pensando nisso resolvi lembrar algumas produções que se saíram bem ao aproveitar os games de alguma forma. Vamos a eles:

Reine Sobre Mim

Neste excelente drama estrelado por Adam Sandler e Don Cheadle, o filme conta a história de um bem-sucedido dentista que vê sua vida ser destruída após a morte da filha e da esposa no atentado de 11 de setembro. Tendo se tornado um sujeito recluso devido a uma profunda depressão, aos poucos ele começa a se encontrar com um antigo amigo que o convence a procurar um terapeuta.

Além do bom roteiro, é muito interessante ver como o diretor Mike Binder aproveitou o jogo Shadow of the Colossus para dar uma maior profundidade ao personagem, fazendo com que a criação de Fumito Ueda servisse como uma belíssima analogia dos monstros que aquele homem precisa enfrentar diariamente na vida real.

Matrix

Imagine descobrir que a sua vida é uma farsa, que tudo aquilo que você acreditava não passava de uma simulação e algo ou alguém está movendo as cordinhas e ditando o seu destino. Esta poderia ser a descrição do próprio Free Guy: Assumindo o Controle, mas também serve para um filme lançado em 1999 e que se tornou um dos maiores fenômenos da história do cinema.

Apesar de boa parte das inspirações para a criação de Lana Wachowski e Lilly Wachowski terem vindo de áreas como a ficção científica, filosofia e religião, podemos considerar que de alguma forma os videogames também tiveram sua parcela de contribuição. Para quem estava acostumado a jogar, assistir Matrix pela primeira vez foi ter a sensação de estarmos vendo algum jogo de ação e por isso não foi surpresa termos visto alguns elementos dos filmes depois serem aproveitados em diversos games.

Sucker Punch: Mundo Surreal

E por falar em filme que mais parece um jogo, esta criação de Zack Snyder conseguiu chegar muito perto daquilo que uma boa adaptação deveria ser. O detalhe é que Sucker Punch: Mundo Surreal não é uma versão cinematográfica de algum game, o que sempre me faz dizer que este é “o melhor filme baseado em um jogo que nunca existiu”.

Ao contar a história de uma garota internada em uma instituição psiquiátrica que se refugia em mundos imaginários, o filme nos levará aos mais absurdos lugares, com cada nova incursão da protagonista parecendo um estágio tirado de algum jogo de ação. Você pode até não gostar do filme, mas duvido que não sentirá vontade de jogar algumas daquelas fases.

Hardcore: Missão Extrema

Sendo o filme de estreia do russo Ilya Naishuller, basta assistir o seu trailer para saber que ele buscou inspiração nos FPSs. Todo filmado em primeira pessoa, até o enredo parece ter saído de algum jogo deste estilo, pois temos um protagonista que ressuscita sem memória (e mudo) em um laboratório montado em um avião, além de termos um vilão com poderes telecinéticos e soldados geneticamente modificados.

O problema é que além da história um tanto ridícula, o efeito em primeira pessoa perde o impacto rapidamente e fico pensando se ele não pode causar cinetose — que o enjoo que algumas pessoas sentem ao jogar um FPS — nos espectadores.

Detona Ralph

Funcionando como uma fantástica homenagem aos videogames, Detona Ralph também fala sobre personagens que vivem dentro de jogos, mas ao contrário do Free Guy: Assumindo o Controle, aqui eles têm consciência disso. É muito legal ver o respeito que as pessoas envolvidas na criação desta animação tiveram com os jogos e nem estou falando das participações especiais de algumas lendas da indústria, como Pac-man, Bowser, Sonic the Hedgehog e Zangief.

Poder assistir este filme na companhia do meu filho foi uma experiência muito bacana, mesmo com ele não tendo sentido a nostalgia que senti assim que nos foi apresentado o Litwak's Arcade. Aquele não é o fliperama que frequentei quando criança, mas a sensação foi de que passei vários anos entre aquelas máquinas.

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