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Resenha: A Guerra do Amanhã – com spoilers

A Guerra do Amanhã poderia ser um excelente filme misturando aliens e viagem no tempo, mas se perdeu em um roteiro altamente questionável

3 anos atrás

A receita de A Guerra do Amanhã parece infalível. Um dos atores mais simpáticos da atualidade, colocado em sua especialidade: Chutar bundas de alienígenas, em um roteiro que misturaria o melhor de Exterminador do Futuro, Edge of Tomorrow, Dias de um Futuro Esquecido e Soldado Ryan, apenas porque toda resenha de filme de guerra tem que citar Soldado Ryan.

R-Force! (Crédito: Amazon Studios)

O resultado ficou parecendo meu almoço, basta dizer que era pra ser um risoto e quando abri a panela parecia maniçoba.

Sinopse: Em 30 anos no futuro a Terra é invadida por alienígenas implacáveis, uma horda que dizima toda a humanidade, deixando menos de 500 mil pessoas no planeta. Essas 500 mil pessoas conseguem montar uma resistência, que com ajuda de uma máquina do tempo voltam para Dezembro de 2022 e começam a recrutar qualquer um para lutar contra os aliens.

Starlord, pai de família (Crédito: Amazon Studios)

Burt Macklin, digo, Dan Forester (Chris Pratt) é um pai de família, professor de biologia e ex-boina verde. Ele é forçado a abandonar a esposa e a filha e viajar para o futuro. Lá os humanos estão desenvolvendo uma toxina que mata a rainha dos alienígenas, e Dan acaba sendo responsável por voltar ao passado e matar a danada.

Dito assim não soa ruim, certo? Bem, pra começo de conversa o filme (fora um teaser) começa com uma cena que é absolutamente irreal, fictícia, mentirosa e impossível: Uma festa em uma casa de subúrbio americana, Onde todo mundo está assistindo... a final da Copa do Mundo.

Final da Copa do Mundo, em Dezembro (eu sei) de 2022, Brasil x Alguém, e o famoso Camisa 18, Peralta (Crédito: Amazon Studios)

Quer algo mais difícil de engolir do que os aliens? O Brasil está na final.

Os governos do mundo se mostram surpreendentemente cooperativos, e enviam soldados e mais soldados, mas logo eles ficam sem soldados e são obrigados a convocar mais soldados, entre todo mundo que não era soldado.

Isso se torna, claro, ridículo. Já aconteceu, obviamente. No final da 2ª Guerra Mundial o Partido Nazista estabeleceu o Volkssturm, um serviço compulsório para todo homem entre 16 e 60 anos, uma tentativa desesperada de defender uma cidade condenada.

Volkssturm, a última linha de defesa, os russos não terão chance. (Crédito: Domínio Público)

Só que mesmo os nazistas davam um mínimo de treinamento. Em Guerra do Amanhã vemos gente de roupão e cara de confusão, recebendo uma arma e sendo teleportada para o futuro. Reza a lenda que Nas Falklands e na Guerra do Golfo ocorreram casos assim.

Os Aliens Invencíveis

Não esses. (Crédito: Amazon Studios)

Os tais alienígenas não são uma espécie inteligente, imagine os insetos de Starship Troopers, mas sem um controle central. Segundo os militares do futuro eles só podem ser mortos a muito custo com tiros no pescoço e abdômen, mas quando Chris Pratt e seu bando de civis inexperientes encontram os bichos, são razoavelmente eficientes contra eles.

Em outra cena a filha crescida do Chris Pratt usa uma .50 para despachar de forma BEM eficiente os aliens, que também são vulneráveis a granadas, C4, NAPALM e todos os outros recursos divertidos que inventamos pra exterminar uns aos outros.

Em essência, venderam a imagem de aliens implacáveis, levaram mais de 40 minutos até mostrar o primeiro, e eles morrem de morte matada sem maiores problemas. Decepticons são bem piores de matar.

De Volta Para o Futuro

Os humanos estão reduzidos a menos de 500 mil, mas mantém bases gigantescas na República Dominicana, uma rede de comunicações funcionais e conseguem fazer ataques com caças F-22 sem maiores problemas. Ah sim, nesse meio-tempo conseguiram projetar e construir uma máquina do tempo capaz de teleportar centenas de humanos de cada vez.

A Toxina Sexista

A Coronel filha do Starlord diz que eles desenvolveram uma toxina que mata os aliens machos, mas as fêmeas, rainhas, não são afetadas, e precisam capturar uma para desenvolver a versão Ladyshave da tal droga. OK, mas fica a dúvida: Por que diabos não estão usando as toxinas contra os soldados aliens, machos?

Os aliens são a única coisa decente no filme (Crédito: Amazon Studios)

Parece negacionista desdenhando vacina de COVID que tem eficácia de “apenas” 98%. Ou é 100 ou nada!

Eliminando os machos sobraria meia-dúzia de rainhas, que podem ser facilmente destruídas com armamento pesado, como demonstrado no próprio filme.

Plano J

Vejamos: Você tem menos de 500 mil pessoas sobrando no mundo, e uma máquina do tempo. Qual o sentido de ir pro passado trazer gente destreinada para uma guerra sem chance de vitória? Rapidamente consigo pensar em várias alternativas:

Óbvio que tem Chris Pratt sem camisa, a Amazon fornece eye candy pras moças e pros rapazes modernos (Crédito: Amazon Studios)

1 – Evacuar todo mundo pro passado e usar 30 anos de conhecimento para preparar a Terra para a invasão

2 – Organizar uma mega-operação no início da invasão e chutar os aliens

Mas não. No final sobra pro Chris Pratt pegar a tal toxina e voltar para o passado, quando então subitamente os aliens deixam de ser problema e ele não consegue convencer os governos do mundo inteiro que perderam milhões de soldados a organizar uma expedição e exterminar os alienígenas.

Sim, em cinco minutos de conversa Chris Pratt e seus amigos gênios deduziram que os aliens já estavam na Terra, em uma nave em hibernação.

Sem problema, com ajuda de seu pai ausente JK Simmons (ele podia ser BEM pior, Chris), e três ou quatro amigos Chris Pratt consegue invadir a Rússia com um C-130, em modo Full Mathias Rust, pousar em algum lugar e organizar uma bela expedição, com snowmobiles e tudo.

♫It's the end of the world..♫ (Créditos: Amazon Studios)

O monte de soldados do futuro aparentemente esqueceu de informar sobre a origem da invasão, e nenhum governo da Terra se importou em perguntar. Aí nossos heróis chutam um pouco de neve e acham a nave.

Eles espalham cargas de C4, entre os vários casulos com aliens em hibernação. Aí eles fazem o óbvio: Espetam os aliens com a tal toxina, que eles sintetizaram em algum momento. Obviamente TODOS os aliens são acordados, eles matam alguns na bala e exterminam o resto com o C4, menos uma rainha, que é morta em uma briga corpo a corpo.

Aqui um pontinho pra direção de arte, o design dos aliens é MUITO bom, eles são assustadores ameaçadores e biologicamente fazem sentido.

A Guerra do Amanhã é um filme que lembra aqueles memes de meninos e meninas viajando no tempo. É talvez a forma mais idiota possível de lutar uma guerra com uma máquina do tempo, é do nível mandar o Arnold pro passado e a história virar uma comédia romântica aonde ele tenta seduzir a Linda Hamilton. Wait, isso não foi o enredo do último Exterminador?

Regrinhas Arbitrárias

Em A Guerra do Amanhã há várias regras pra Viagem no Tempo. Para evitar um paradoxo que destruiria o Universo, ou com sorte só a Galáxia você não pode viajar para um tempo aonde ainda está vivo, por isso os voluntários são testados, só enviam quem vai estar morto em 2051. Da mesma forma os soldados do futuro são todos jovens.

Aparentemente a metáfora é que você pode saltar entre dois barcos em um rio, mas não voltar pra onde o barco mais antigo estava. Isso não afeta em nada a idéia de evacuação, visto que só sobrou gente jovem mesmo.

X-Force Levada a Sério

OK, enquanto humano, a nível de pessoa eu tendo a me alinhar com os humanos, em filmes de aliens. Nem que seja pra exterminar aqueles Thundersmurfs USB de Avatar, mas os humanos do futuro estavam basicamente cometendo genocídio, uma coisa é ver soldados voluntários enfrentando aliens, a outra é você ver a tia da faxina e seu vizinho gordo vascaíno jogado no meio do campo de batalha com um fuzil na mão.

R-Force! Sim, no filme a equipe do Chris Pratt é chamada de R-Force, juro! (Crédito: 20th Century Fox)

Imagine uma X-Force do Deadpool composta apenas por clones do Peter. Aí jogue esse grupo na Normandia. Não vai dar certo. É uma idéia idiota.

Conclusão

Vivemos em tempos mais esclarecidos. Hoje não é mais correto fazer filmes onde o herói mata grande quantidade de índios, gângsteres, traficantes mexicanos, soldados africanos ou árabes de variedade não-explosiva, como em Lawrence da Arábia. Hoje em dia o único grupo que ainda pode ser exterminado sem grandes problemas são nazistas, mas filme de 2ª Guerra todo dia cansa.

Para apreciarmos matança sem consequência hoje temos zumbis, robôs e aliens. E quanto mais irracional o alien, melhor. Isso resolve 100% das considerações morais da história, e mesmo assim A Guerra do Amanhã conseguiu se perder.

Eu gostaria de dizer que é uma boa farofa descerebrada, mas nem isso. No final A Guerra do Amanhã faz com que você comece a devanear em como seria legal conseguir uma máquina do tempo para voltar pro começo do filme e convencer a si mesmo a não perder tempo com ele.

Aí você se lembra que a regra idiota do filme não permite nem isso.

Cotação:

0.5/5 Tardis – Tardisses – Tardix – sei lá

A Guerra do Amazon está disponível na Amazon Prime Vídeo, mas tem muito mais coisa melhor por lá.

Trailer:

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