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Michael Collins, o astronauta com a missão mais difícil do mundo

Dia triste para a Ciência. Perdemos Michael Collins, um dos heróis da Apollo 11, para sempre na História como astronauta e pioneiro

3 anos atrás

Michael Collins percebeu, em 1968, que suas pernas estavam falhando. Com apenas 39 anos, físico de atleta (ele nunca pegou Corona), astronauta, ele foi diagnosticado com um caso severo de hérnia de disco, tendo que passar por uma cirurgia para fundir duas vértebras, e por isso ele perdeu sua vaga na Apollo IX. Foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida.

Michael Collins, no simulador (Crédito: NASA)

Nascido em 1930, Michael Collins era um piloto nato, e em um ano de treinamento básico já estava pilotando caças F-86 e treinando missões de combate e bombardeio, mas sua habilidade e interesses acabaram fazendo com que ele entrasse pro programa de pilotos de provas, em 1960.

Nessa função Michael Collins acumulou 3000 horas de vôo, testando todo tipo de avião, do F-104 ao B-52, até que o vôo de John Glenn na Friendship 7 em 1962 o cativou. Collins decidiu que iria se tornar um astronauta. Com seu currículo invejável, certificado de saúde perfeita, olhos de águia, água gelada nas veias e determinação ferrenha, ele se inscreveu no que seria o Segundo Grupo de astronautas da NASA, e foi prontamente rejeitado.

Michael Collins no tempo da Força Aérea (Crédito: United States Air Force)

Michael Collins então continuou na Força Aérea, participando de experimentos aonde pilotava caças F-104 a 90 mil pés, lançando-o em uma parábola, experimentando alguns momentos de imponderabilidade. Isso exigiu bastante coragem, pois estressava o avião ao limite, e mesmo em vôo plano e tranquilo o F-104 já tinha o apelido de “viuveiro”.

Ele nunca se ressentiu de não ter sido aceito no segundo grupo, Michael era o primeiro a reconhecer e defender que o Segundo Grupo foi o melhor de todos, só tinha astronauta cascudo, daqueles que se o foguete falhar, eles saíam pra empurrar. (Ei, funciona no Kerbal).

Em Junho de 1963 a NASA abriu inscrições para um Terceiro Grupo. Michael Collins se inscreveu, mas de novo não foi chamado. Eis que em Outubro, ele recebe um telefonema de Deke Slayton, chefe do Departamento de Astronautas da NASA, perguntando se ele ainda estava interessado.

Michael Collins entrou para o programa de astronautas, sendo selecionado para o Programa Gemini, como tripulação de backup da Gemini 7, mas um monte de circunstâncias, azar e agendamentos fizeram com que ele fosse saltando de missão em missão, sem nunca ter sua chance de voar, até a Gemini 10, em 18 de Julho de 1966.

Gemini 10 - John Young e Michael Collins (Crédito: NASA)

Junto com John Young, Collins passou 2 dias e 22 horas no espaço, durante os quais fizeram dezenas de experimentos, incluindo manobras orbitais para encontrar com dois veículos não-tripulados Agena, um lançado para a missão algumas horas antes, outro o da Gemini 8.

Programado para voar na Apollo IX, Collins faria vários exercícios de acoplagem entre o módulo de pouso e o módulo de comando, em órbita da Terra, mas sua hérnia o desqualificou. Passaram-se as missões das Apollos VIII, IX e X, e plenamente recuperado Michael Collins treinou para ser com piloto do Módulo de Comando da Apollo XI, que ainda não tinha certeza se pousaria na Lua.

A Estrutura da Apollo de Michael Collins

A Apollo era composta de quatro módulos, conforme a imagem abaixo.

Composição da Apollo (Crédito: NASA / MeioBit)

No alto tínhamos o Módulo de Comando, a residência principal dos astronautas, com suporte de vida, comida, água, etc.

Conectado ao Módulo de Comando, tínhamos o Módulo de Serviço, com tanques de Oxigênio e Propelente, o motor principal, jatos de manobra, antenas, etc.

Em seguida o Módulo de Ascensão e o Módulo de Pouso. Os dois ficavam unidos até o final da Missão na Lua. O Módulo de Ascensão tinha espaço para dois astronautas e suprimentos para vários dias, além de um motor capaz de colocá-lo em órbita para reencontrar o Módulo de Comando.

Módulos de Comando e Ascensão conectados. (Crédito: Apollomaniacs)

O Módulo de Pouso tinha a escadinha, motor de descida, suprimentos e até espaço para um jipe lunar bem dobradinho.

Por motivos logísticos, os módulos eram lançados na posição da ilustração, mas em órbita o Piloto do Módulo de Comando tinha que manobrar para fora do 3º Estágio do Saturno V, girar 180 graus e acoplar com o Módulo de Ascensão, isso dava aos astronautas muito mais espaço durante a viagem de ida.

Para a parte do pouso, os dois módulos se separavam do Módulo de Comando e Serviço, que continuava orbitando a Lua com Michael Collins.

Por 21 horas e 36 minutos Neil Armstrong e Buzz Aldrin ficaram na superfície lunar, dessas 2 horas e 31 minutos foram do lado de fora do Módulo, explorando. Enquanto isso Michael Collins observava seus companheiros, trocava comunicações com a Terra e com os astronautas na superfície, e por diversas vezes, em suas palavras, se tornava “O Homem mais solitário desde Adão”.

Ao orbitar a Lua, por metade do tempo Michael Collins ficava totalmente sem comunicação. Atravessando o Lado Oculto, ele estava sozinho, mais sozinho do que qualquer um no planeta Terra, mas isso não era sua maior preocupação.

Havia uma razoável chance de algo dar errado. Caso o Módulo de Ascensão não funcionasse direito, ou perdesse energia, Collins deveria manobrar o Módulo de Comando até seus amigos, e resgatá-los.

Também havia a pior perspectiva de todas: Uma falha durante o pouso ou ascensão orbital, se o motor do Módulo de Ascensão não ligasse, os dois astronautas ficaram presos na Lua, com zero chances de resgate.

Módulo de Ascensão da Apollo 11, só no sapatinho (Crédito: NASA / Michael Collins)

Segundo o plano eles fariam comunicações finais com a Terra, um capelão leria ritos fúnebres e a comunicação seria cortada. Michael Collins então iniciaria os procedimentos e voltaria sozinho para casa.

Ele disse que se isso acontecesse ficaria “marcado para toda a vida”, e só por ser um homem extremamente religioso não se cogita que ele acabasse colando a Apollo em curso de colisão com a Lua.

Felizmente nada disso aconteceu, o maior problema foi quando Aldrin e Armstrong estavam no Módulo de Ascenção, e a mula do Aldrin conseguiu quebrar o botão que acionava o motor, mas ele MacGyverizou um substituto enfiando uma caneta no buraco, e tudo deu certo.

O resto, é História. Neil Armstron, Buzz Aldrin e Michael Collins se tornaram os primeiros seres humanos a visitar outro corpo celeste, eles foram honrados e reconhecidos por todo o Planeta, Neil Armstrong foi até na Hebe.

Neil infelizmente nos deixou em 2012. Buzz está firme e forte, e tem até o respeito de Optimus Prime:

Agora, depois de uma longa batalha contra o câncer, Michael Collins faleceu, com 90 anos, 28 de Abril de 2021. Collins morreu em paz, junto com a família, com seu nome profundamente marcado na História.

É mais que garantido afirmar que ele não será esquecido, e no futuro teremos com certeza uma USS Collins audaciosamente indo aonde ninguém jamais esteve.

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