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Neuralink e o macaco Bluetooth de Elon Musk

Neuralink fez de novo. A empresa de Elon Musk que pesquisa implantes cerebrais demonstrou um macaco jogando pong com o cérebro, sem fios.

3 anos atrás

OK, tecnicamente o macaco é WIFI, mas tudo fica melhor com Bluetooth, inclusive os implantes da Neuralink, que estão usando uma abordagem nova e ousada em pesquisa neurológica avançada.

OK, talvez eu esteja exagerando um pouco. (Crédito: CW)

Algum tempo atrás vivos o Porco Bluetooth, com um implante da Neuralink medindo a área do cérebro que controla o focinho. Foi legal, impressionante, mas não é inédito, cientistas espetam sensores nos cérebros alheios o tempo todo. Temos até estudos em humanos, embora mais modestos.

Em todos os casos a imagem é algo de filme de terror, um enorme emaranhado de fios conectados em uma cabeça parcialmente raspada, um arranjo desajeitado e claramente provisório. A genialidade da Neuralink é fugir disso tudo.

Ao invés de um rato estressado com uma conexão SCSI atuchada na cabeça, temos um implante que por si só é uma maravilha tecnológica: Do tamanho de uma moeda, o implante tem bateria com carregamento sem-fio, processamento de sinais interno, capacidade de leitura E escrita, podendo enviar sinais individualmente para o cérebro. Tudo isso posicionado de forma mais precisa do que um humano seria capaz.

A Neuralink construir um robô especializado em operar cérebros, o equipamento é capaz de posicionar 1024 micro-eletrodos de cada implante, não só na superfície como em profundidades diferentes. Ao contrário dos experimentos antigos, a matriz de dados da Neuralink é tridimensional.

O processo foi detalhado neste paper aqui. (cuidado, PDF!)

E o que dá pra fazer com isso tudo?

Excelente pergunta, gafanhoto.

We are the Musk. (Crédito: Reprodução Internet)

O seu cérebro (exceto se você for comentarista de portais) é a máquina mais complexa do Universo. Há mais conexões nele do que estrelas na galáxia. Temos uma pálida idéia de seu funcionamento, que pode envolver até física quântica. Não sabemos nem se é possível ou não simulá-lo em computador, mas...

Não faz diferença para a Neuralink.

Imagine que você acordou em um país estrangeiro, sem falar uma palavra do idioma. É um daqueles países estranhos da Europa Oriental. Todo mundo é simpático, te chamam para beber. Você observa uma mesa do outro lado da rua. De tempos em tempos alguém fala “PROCHASKA!” e todo mundo levanta os pés, enquanto um enxame de ratos passa correndo.

Aí alguém da sua mesa fala “PROCHASKA!” e você prontamente levanta os pés, junto com seus novos amigos.

Você não tem conhecimento do idioma, não sabe se a palavra significa cuidado, atenção, olha o rato. Não importa, você entendeu a informação por trás dela.

O implante da Neuralink coleta continuamente dados de regiões específicas do cérebro, e ao menos nós sabemos as funções gerais delas. Se espetar no córtex visual, temos informação visual. No auditivo, informação sonora. No cheirativo, no caso da porca Getrud, temos dados de olfato.

Elon Musk demonstra o implante Neuralink (Crédito: Neuralink/AFP)

O que eles fizeram com um macaco de nome Pager foi instalar dois implantes no córtex motor na área que controla braços e mãos. Foram dois implantes para pegar dados dos dois lados do cérebro.

O macaco então foi treinado a usar um joystick para jogar alguns games. Se jogasse corretamente, ganha uma dose de suquinho de banana. Enquanto isso os implantes da Neuralink captavam os sinais dos neurônios motores. Com o tempo o sistema de redes neurais e machine learning construiu uma biblioteca de associações entre os sinais e os movimentos. Com base nesses sinais eles eram capazes de prever com alta probabilidade de acerto qual movimento o macaco estava fazendo.

Pager então ganhou um upgrade: foi ensinado a jogar Pong.

Depois disso, desabilitaram o joystick, usando só os dados dos implantes Neuralink como input.  O passo seguinte foi mostrar o jogo para o macaco, sem nenhum joystick. Ele sabia o que deveria fazer, então instintivamente se viu movendo a raquete na tela, enquanto mamava gostoso seu suquinho de banana e sim essa frase ficou bem mais esquisita do que eu imaginei.

Os implantes conseguiram captar o aumento de sinais nos neurônios motores, presentes mesmo quando a gente imagina um movimento. Pager estava efetivamente jogando com sua mente.

Até o final do ano a Neuralink deve começar os primeiros testes em humanos, e daí o céu é o limite. Elon Musk disse que a primeira aplicação comercial da empresa será uma forma dos implantes permitirem a uma pessoa paralisada operar um celular, com pelo menos tanta agilidade quanto alguém usando as mãos, e depois mais rápido ainda.

Como todo tipo de informação pode ser processada usando esse método de “força bruta”, esperam que a tecnologia também funcione para que amputados controlem membros biônicos, e cegos recebam estímulos externos no córtex visual.

Parece ficção científica, mas é exatamente isso que um implante coclear faz, estimulando eletricamente o nervo auditivo.

A Neuralink conseguirá ser tão bem-sucedida? Ninguém sabe, mas eles têm verba à vontade, e uma direção que entende o conceito de pesquisa a longo prazo. O importante é pararem logo com experimentos em macacos, antes que o inevitável aconteça:

OK, melhor não. (Crédito: MGM)

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