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Resenha: Mulher-Maravilha 1984 (com alguns spoilers)

Mulher-Maravilha 1984 é o novo filme da amazona que não mata ninguém. É um bom filme de quadrinhos e um péssimo filme de super-heróis.

3 anos atrás

Mulher-Maravilha 1984 talvez seja a resenha mais difícil que já escrevi, o que é estranho em se tratando de filme de super-herói, não estou resenhando Chinatown ou Cidadão Kane, mas mesmo dentro dos parâmetros estabelecidos, é um filme difícil.

Diana Prince, filha de Zeus, Princesa de Themyscera, também conhecida como Bird Person (Crédito: Warner Bros.)

Não pelo roteiro, o roteiro é simples como um gibi de linha: Diana está vivendo no mundo dos homens, combatendo o crime discretamente, mas mantendo-se longe das câmeras. Um antigo artefato mágico é encontrado, um picareta de marca-maior bota as mãos no artefato, e Diana tem que usar não de violência, mas de amor e compreensão para vencer o vilão.

A grande coragem do filme é manter a regra de que magia existe no Universo Cinematográfico da DC. Deuses? Existem. Magos? Existem. Lagartas falantes? Tá tranquilo. Afetados pela vacina do Covid? Sem problemas.

O problema é que isso tudo é passado de forma... natural demais. Para o bem ou para o Mal estamos acostumados a filmes de super-heróis mais sérios. Até Deadpool é “sério”. Liga da Justiça é sério. Mulher-Maravilha 1984 não é sério.

Diana é bem flexível, sua moral não. (Crédito: Warner Bros.)

Não que seja engraçado, o filme tem seus momentos mas nem de longe é uma comédia como Shazam! Ele não é sério no sentido de ser uma história de uma ameaça global, com pitadas de guerra nuclear, e que em 15 dias ninguém mais vai se lembrar.

Mulher-Maravilha 1984 perdeu a chance de ter um grande vilão de quadrinhos, Maxwell Lord é um canalha manipulador brilhantemente interpretado por Pedro Pascal (Mando!) mas que é mostrado como um sujeito inseguro e no final é terrivelmente humanizado. Entendemos o porquê de ele ser como é, e o amor pelo filho ainda serve de redenção extra. Não, cacete, eu quero meus vilões malvados, quero Hans Landa!

Pedro Pascal é o Gugu do Mal (Crédito: Warner Bros)

Dica de roteiro pra Patty: Humanizar vilões é ótimo NO FINAL, puxa o tapete do espectador. Vader e sua redenção matando o Imperador, aquilo é bom demais. Agora imagina um Darth Vader cheio de dúvidas existenciais que lixo seri-Isso, Kylo Ren, acertou.

Patty Jenkins criou a sua mulher-maravilha. Diana Prince é a encarnação do Amor, em Mulher-Maravilha 1984 ela briga com bandidos mas os salva de se machucarem, impede Steve Trevor de usar uma espada para brigar com agentes do Serviço Secreto porque “não é culpa deles”. Diana parece mais filha de Afrodite do que de Zeus.

A Mulher-Maravilha que não mata é um grande contraste com as versões mais recentes nos quadrinhos, e Diana demonstrou muito bem como lidar com Maxwell Lord, em Wonder Woman Vol 2 #219, de 2005:

Problema resolvido. (Crédito: DC Comics)

Pronto, acabou o filme 😉

E a Mulher-Leopardo?

De novo, Patty Jenkins humaniza demais os personagens. Barbara Minerva é uma nerdinha, cientista, trabalhando no Instituto Smithsoniano. Ela é ignorada pelos colegas, mas tem uma atitude super-positiva, conhece Diana, que é a primeira pessoa que a trata como gente. Resultado? Vira inimiga mortal. A temática felina? Ela gosta de estampas de oncinha. Juro.

Barbara Minerva (obviamente) pós-desembarangamento. (Crédito: Warner Bros)

Depois que <spoilers> e Barbara perde suas inibições, passa pelo clássico processo de desembarangamento visto em TODOS os filmes de adolescentes dos Anos 80, com as conseqüências de sempre. Pelo visto ninguém aprende nada sendo um rejeitado social.

Em Mulher-Maravilha 1984 a Mulher-Leopardo é uma distração, que vira ajudante do vilão principal, já que Maxwell Lord não é chegado a combates físicos.

E Steve Trevor, como ele volta?

Mágica.

Qual o problema da história afinal?

Vamos lá; não me cancelem, mas eu gostei de Mulher-Maravilha 1984, porque eu entendi como um filme de quadrinhos, não um filme de super-heróis. Ele não tem nem pretende ter a gravitas (céus, agora falei como aquele pessoal que só vê filme de país sem luz elétrica ou água encanada) de um Watchmen, ou um Cavaleiro das Trevas, e não montou um Universo como o MCU, quando o fim do mundo era uma preocupação real.

Mulher-Maravilha 1984 não é uma mini-série exclusive encadernada em capa dura, assinada por Franks, Alans ou Neils. É um gibi de linha, escrito por Geoff Johns. Não, sério, ele divide o crédito de história com a Patty Jenkins.

E esse foi o grande erro. O público não quer o gibi de linha, o público não quer a fórmula flashback em Themyscera / cena do assalto frustrado. Jenkins pegou tudo que funcionou no primeiro filme e repetiu, inclusive trazendo Steve Trevor de volta, mas sendo honestos, com a química entre aqueles dois, foi uma decisão acertada.

Mulher-Maravilha 1984 peca por ser uma história de uma ameaça mundial que não consegue vender ao espectador a seriedade dessa ameaça. Diana mesmo com seus poderes enfraquecidos ainda é extremamente Overpowered. Justo, afinal ela é basicamente uma deusa, mas no filme não funciona. É como se a Capitã Marvel aparecesse no começo de Guerra Infinita. Ou no Vingadores de 2012.

Um monte de gente saiu do cinema, metaforicamente falando, frustrados com o filme. Eu entendo. No primeiro filme Diana enfrentou o Deus da Guerra e nazistas (eu sei) agora ela tem problemas pra derrotar uma Selina Kyle de 1,99 com Hirsutismo e um Gugu do Mal?

Então o filme é ruim?

Depende. Se você quer ver ótimas cenas de ação, Diana chutando bundas e uma história que já leu várias vezes em diversos títulos e personagens, o filme é ótimo. Não vai mudar o mundo, no máximo vai fazer você revirar os olhos algumas vezes pensando “como a Diana é boa”, no bom sentido.

Se você quer uma história mais “séria”, esqueça. Ninguém morre, e mesmo com o mundo na berlinda Diana não demonstra “estar ali”. É só mais um dia na vida de uma deusa. É uma história sem riscos nem conseqüências, já que no futuro ninguém sabe quem é a Mulher-Maravilha, nem o Batman.

Conclusão: Se você gosta de gibis pode assistir tranqüilo, mas se você gosta de filmes de super-heróis, melhor não. Mulher-Maravilha 1984 é uma típica loura de piada: Tem uma ótima forma, mas zero substância. Dá pra segurar um filme assim? Claro, Shazam! E Aquaman são 99% forma, mas são extremamente divertidos.

É isso que falta à Patty Jenkins. Precisa sorrir mais, menina. (pronto, podem me cancelar)

Cotação:

5/5 George de Mestral, apenas exclusivamente pela cena pós-créditos. Do contrário seria 2,5/5.

 

 

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