Ronaldo Gogoni 3 anos atrás
O Motorola Edge+ marca o retorno da Motorola ao segmento de celulares premium: ele é o primeiro da categoria a ser lançado no Brasil em 3 anos, desde o Moto Z2 Force. Com uma performance de ponta e um belo visual, ele chega para brigar de frente com os topos de linha da Samsung e Apple.
No entanto, uma série de mancadas difíceis de ignorar fazem dele uma escolha menos que o ideal.
Como o Higa publicou um review bem completo no Tecnoblog (com o qual eu concordo em tudo), e considerando que a ideia para o Meio Bit daqui por diante é abordar outros temas, resolvi fazer uma aproximação um pouco diferente, destacando especificamente o que é bom e o que não é no aparelho.
O Motorola Edge+ tem um design compacto e elegante, sendo consideravelmente pequeno mesmo com uma tela de 6,7 polegadas. A culpa recai sobre as bordas curvas, que vão até a metade das laterais.
O "queixo" finalmente sumiu, a borda superior é igual à inferior e graças à proporção 19,5:9 do display e um corpo de metal, temos um celular relativamente pequeno com uma tela enorme, o que dá um bom contraste e faz do Motorola Edge+ um celular muito bonito.
A tela é uma OLED com resolução de 2.340 x 1.080, e como de praxe da Motorola é de excelente qualidade, com preto perfeito e ótima definição de imagem e cor. A novidade é a taxa de atualização constante de 90 Hz, que deixa a navegação extremamente fluida. Surpreendentemente e diferente do que aconteceu com o Samsung Galaxy S20 Ultra, tal feature não drena a bateria.
O gerenciamento energético foi muito bem pensado levando isso em conta, e mesmo com 5.000 mAh, a bateria dá conta da tela e do processador Snapdragon 865, aliado a 12 GB de RAM e 256 GB de espaço interno, um hardware que entrega uma performance estelar e sem nenhum engasgo, tal qual seus concorrentes.
Em meus testes, eu o tirei da tomada às 8:00 e rodei 2 horas de Netflix, 2 horas de Deezer, 1 hora de jogos (Azur Lane e Asphalt 9: Legends, 30 minutos para cada), intercalando com navegação e redes sociais ao longo do dia, com Wi-Fi, 4G e brilho automático.
Às 18:00 a bateria marcava 48%, mostrando que mesmo com a taxa de atualização da tela cravada o tempo todo em 90 Hz, o Motorola Edge+ resiste a um dia inteiro de uso normal a moderado, com tudo fluindo às mil maravilhas, de apps pesados e jogos a multitarefa. O carregador, por sua vez levou 2 horas para injetar uma carga completa.
Por fim, a bateria possui suporte a carregamento wireless e é capaz de fornecer energia sem fio a acessórios compatíveis com o padrão Qi, como fones de ouvido ou mesmo outro celular.
O Android 10 quase puro traz as comedidas customizações da Motorola, como o Moto Gametime, que desliga notificações enquanto você joga, realça o som e oferece atalhos na tela; atalhos customizados para as bordas, que por sua vez ignoram toques laterais acidentais; e os velhos gestos para ativar a câmera ou a lanterna.
O ponto de ressalva vai para atualização do sistema: originalmente a Motorola afirmou que o Edge+ só receberia o Android 11 e nada mais, e depois de uma série de reclamações, voltou atrás e garantiu dois updates, pelo menos até o Android 12, como se espera de modelos premium. Por isso, é bom ficar de olho nesse fator.
O áudio é outro ponto forte, os dois alto falantes fornecem som estéreo de alta qualidade, com reprodução bem definida em volumes altos, ainda que os graves sejam bem discretos. Como sempre, melhores resultados serão alcançados com fones de ouvido ou caixas de som Bluetooth.
O único recurso desnecessário talvez seja a porta P2; embora seja interessante que ela permaneça em celulares de entrada a intermediários, é preciso reconhecer que a quase totalidade dos consumidores premium hoje só usam fones de ouvido wireless.
Sua remoção poderia fazer do Motorola Edge+ um celular mais fino, mas divago.
E temos as câmeras, uma Wide com abertura f/1,7, uma Ultrawide com 16 MP e f/2,2, e uma Telefoto com 8 MP, zoom óptico de 3x e f/2,4 além de um sensor ToF (tempo de voo) para fotos com profundidade de campo.
Sendo direto, o conjunto principal é o melhor que a Motorola já colocou em um celular, o que significa muito quando comparadas a outros modelos da companhia. No entanto, ao ser colocado ao lado de seus principais concorrentes, o Motorola Edge+ fica no mesmo nível, com cores naturais em situações com boa iluminação e mais saturação em ambientes internos ou fotos noturnas.
A câmera selfie, com 25 megapixels e abertura f/2,0 é também bem simples, com certos ruídos em áreas escuras mas com boa definição, apesar do foco fixo. A meu ver, não há muito que inventar aqui.
Há de se levar em conta que o recurso de vídeo das câmeras contêm alguns caveats, mas chegaremos lá.
Comecemos pelo grande destaque do Motorola Edge+, o 5G. A Motorola alardeou a parceria com a Claro para viabilizar o lançamento da linha Edge no Brasil, mas cometeu um "pequeno" deslize: o modem Snapdragon X55, inserido no SoC Snapdragon 865, não é compatível com a nova rede.
Isso acontece porque o chip suporta frequências abaixo dos 6 GHz, enquanto a Claro irá usar compartilhamento dinâmico de espectro (DSS); adicionando insulto à injúria, o mais em conta Motorola Edge suporta o 5G da operadora, graças ao modem Snapdragon X52, presente no Snapdragon 765.
Para completar, o leilão do 5G previsto para 2021 irá contemplar a faixa dos 26 GHz, novamente incompatível com o Motorola Edge+.
O outro ponto fraco do Motorola Edge+ são suas limitações de filmagem. Enquanto o Galaxy S20 Ultra é capaz de gravar vídeos em 8K a 24 fps, o celular premium da Motorola só vai até 6K a 30 fps; quando pulamos para o 4K, a coisa fica ainda mais feia.
Por um motivo inexplicável e na contra-mão da categoria premium, a filmagem em 2160p é limitada também a 30 fps; a selfie vai na mesma toada, parando em 1080p enquanto as rivais filmam em 4K. Isso é algo esperado de um celular intermediário, mas não de um topo de linha.
O Motorola Edge+ não tem certificação IP, o que é inadmissível para um gadget de sua categoria. Mesmo a Apple, que chegou tarde na festa hoje vende o iPhone com proteção IP68 contra água e poeira, enquanto que o topo de linha da Motorola em tese não reviste a chuviscos.
Pelo preço pedido uma camada de proteção é o mínimo que se espera, mas não é o que foi entregue.
O Motorola Edge+ é um belo e potente celular Android, que oferece uma experiência de uso excelente, com som de primeira e bem uniforme, com um ótimo gerenciamento de energia para suportar a tela de 90 Hz. Porém, um dispositivo com preço sugerido de R$ 8 mil tem que prezar os mínimos detalhes, o que não acontece aqui.
As câmeras são as melhores que a Motorola já fez, mas não são nada geniais perto da concorrência, além de possuírem limitações bizarras de filmagem; o 5G foi muito mal pensado para o mercado brasileiro; e não ter certificação IP é uma falha imperdoável.
Celulares ultracaros são gadgets de nicho, e tal público quer ter o melhor produto possível para justificar a grana investida. Isso posto o Motorola Edge+, concorrente na mesma faixa de preço do Samsung Galaxy S20 Ultra e do Apple iPhone 11 Pro Max, não é capaz de atender as exigências desse tipo de consumidor, ficando bem atrás dos demais.
Se a Motorola o lançasse por um preço menor, suas falhas seriam melhor toleradas (embora não justificáveis), mas como o Motorola Edge+ se apresenta no momento, ele não é uma opção que um usuário de celulares premium (ou qualquer outro) deva considerar.
Pontos fortes:
Pontos fracos: