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Não ria: Brasil (acha que) está no páreo da corrida espacial

A Corrida Espacial está perdida, o que não impede a Câmara de discutir o sexo dos anjos e lançar uma Frente Parlamentar para discutir o Brasil no Espaço.

4 anos atrás

O Brasil é um país peculiar, se por peculiar você entende um lugar aonde nada dá certo, e todo mundo só quer soluções mágicas. Agora mais uma solução mágica cai no nosso colo, dessa vez para resolver a patética situação de nosso risível programa espacial, cortesia da Frente Parlamentar Mista para o Programa Espacial Brasileiro.

Nós já vimos esse filme, mais de uma vez. Problemas sistêmicos, corrupção, incompetência generalizada. Tudo pode ser resolvido com uma única canetada. É uma aspiração geral, vide Chico Buarque:

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz

A história do nosso programa espacial é uma longa tragédia, uma sucessão de erros, desde a fatídica explosão em 2003, usada até hoje para justificar TUDO que não foi feito, passando pelo R$1 bilhão que jogamos fora no desenvolvimento de um foguete imaginário com a Ucrânia. Projeto esse que depois de cancelado passou pelo menos três anos custando R$500 mil por mês aos cofres públicos para bancar a estatal criada para não fazer nada. Ah e teve o cubesat de R$400 mil, que foi lançado da ISS e, claro, falhou.

Por falar em lançamento, não dá pra esquecer do CBERS-3 o satélite que foi lançado, anunciado como sucesso pelo INPE para alguns minutos depois alguém perceber que o bicho deu chabu, não entrou em órbita e foi matar pinguim na Antártica. E quando lança, bem, o CBERS-4 subiu e entrou em órbita mas apesar de gastar US$125 milhões no projeto, o Brasil esqueceu de licitar o software. Isso mesmo, o satélite foi lançado sem software para calibragem e processamento de imagens 5 meses depois do lançamento, o INPE ainda não sabia o que fazer.

Isso tudo não impede o pessoal de sonhar, e a aprovação do famigerado Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (cuidado, PDF) vendeu a idéia de que teríamos foguetes subindo de Alcântara em uma semana. No próprio texto dizem que a base está pronta para lançamentos, o que é uma piada. Compare o VLS o maior foguete que sequer chegou a ser lançado de Alcântara com um Falcon 9, um foguete de verdade.

Neste artigo aqui explico em detalhes o porquê ninguém vai lançar nada de Alcântara.

Diante desse cenário tenebroso, aonde a perspectiva do futuro de nosso programa espacial tira tanto o sono que nem podemos aproveitar nossos travesseiros N.A.S.A., para tristeza do astroministro Pontes, surge uma luz no fim do túnel, que no caso do Brasil é obviamente um trem, a Frente Parlamentar Mista para o Programa Espacial Brasileiro. Segundo o release da AEB, ela tem como objetivo:

"Fortalecer, desenvolver e defender os interesses do setor espacial no âmbito do território nacional. A Frente também funcionará como um canal de diálogo entre Congresso Nacional, diversos atores da área espacial e a sociedade."

Sabe o que isso significa, em termos concretos, certo? Exato, absolutamente nada.

Não que seja muito diferente de antigamente, mas estamos vivendo cortes constantes nas verbas para Ciência e Tecnologia (Thanks Tedson). Em Abril de 2019 42% de redução. Em 2020? Digamos assim:

De todo o montante de R$ 4,9 bilhões destinados ao FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), 87,7% estão congelados e não poderão ser usados. No caso específico do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o valor destinado exclusivamente ao fomento científico encolheu 84,4%. (fonte)

Como um país que foi expulso da Estação Espacial internacional por calote, um país que foi expulso do ESO aquele super-telescópio no Chile depois de ficar oito anos sem cumprir sua parte no acordo. como esse país quer ser levado a sério?

Ah sim, a situação é tão cômica que o site da Câmara dos Deputados ilustrou a notícia com um foguete... francês.

Antigamente os cínicos diziam que a melhor forma de não fazer nada e achar que está ajudando era rezar por alguém. Não mais. Agora temos essa Frente Parlamentar que não vai mover uma palha, gastará dinheiro público em missões exploratórias e reuniões, e no final concluirá o óbvio: Cientista brasileiro só sobe na vida quando explode o VAB.

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