Carlos Cardoso 8 anos atrás
No final do ano passado o Brasil, digo, a China lançou finalmente o CBERS-4, aquele satelitezinho brasileiro de monitoramento ambiental. Foi comemorado ufanisticamente como se 50% do satélite e 100% do foguete não fossem chineses, mas tudo bem.
Aí lançamos o cubesat mais caro do Universo, apenas para sua brasilidade aflorar e ele não funcionar.
Tempo passa, tempo voa, a poupança Bamerindus foi pra vala, mas ao menos temos o CBERS-4 funcionando, salvando as florestas, certo? Bem, sendo este portal o MeioBit você sabe que não tem final feliz essa história, mas CALMA o satélite está bem, funcionando direitinho. O problema é na nossa ponta.
Digamos assim: o Satélite está em órbita, mas não está fazendo fotos e monitorando áreas estratégicas de interesse nacional porque… falta software.
ISSO MESMO QUE VOCÊ LEU.
Falta. Software.
Segundo reporta o O Globo, os US$ 125 milhões do nosso bolso orbitando a Terra dependem de software de processamento de imagem para que as fotos sejam ajustadas, as câmeras calibradas e informações úteis sejam obtidas e disponibilizadas ao público.
“Quase cinco meses depois do sucesso de seu lançamento, em 7 de dezembro de 2014, em parceria com a China, o Cbers 4 manda do espaço dados estratégicos sobre o território brasileiro, mas suas imagens ainda não estão disponíveis ao público.”
Repetindo, ou melhor, copypastando:
“Os dados do Cbers, que chegam por meio da estação de recepção e gravação de Cuiabá (MT), de propriedade do Inpe, não estão sendo processados, o que significa que suas informações ainda não têm utilidade científica.”
O contrato com a empresa que fazia o processamento das imagens, a AMS Kepler, acabou, e só agora está sendo preparada nova licitação.
Ou seja: um satélite, algo que é planejado com ANOS de antecedência, não está sendo usado pois ninguém se tocou que o INPE, que é “a” referência na área terceiriza PROCESSAMENTO DE IMAGENS, algo que é o feijão com arroz de qualquer trabalho envolvendo imagens de satélites.
Pior, segundo o dono da empresa o contrato terminou em 2011, e a empresa deixou de prestar qualquer serviço em 2013. Em dezembro. UM ANO ANTES do lançamento do CBERS-4.
Quer mais? Diz o dono da empresa:
“Se fôssemos contratados agora para fazer o serviço, precisaríamos de cerca de dois meses para conhecer os parâmetros dos novos sensores. O software que desenvolvemos não atende à atual configuração do satélite.”
Segundo o geólogo mais otimista do mundo, funcionário do INPE…
“A missão está 70% completa, com o desenvolvimento e o lançamento do satélite. Mas os 30% mais importantes, a utilização dos dados pelo usuário, não estão completos.”
A missão não está 70% completa. Ela está 0% completa se você tem uma caixa de ferro em órbita com tanta utilidade quanto um Asilo da Frota Estelar para tripulantes de camisa vermelha.
É muito triste saber que em um mundo onde a Elizabeth Margaret Hamilton coordenou o desenvolvimento dos softwares do Projeto Apollo, criando metodologias, técnicas de desenvolvimento e documentação, projetou software para um hardware que ainda não existia ou que estava sendo alterado toda hora, e mesmo assim pousaram na Lua, alguém consegue ser tão incompetente a ponto de lançar um satélite sem pensar que precisa do software para que ele seja… útil.
Fonte: dica do primo.