Ronaldo Gogoni 4 anos atrás
Todo lançamento da Apple tem sua dose de controvérsia, e o dos novos iPhones não é exceção: o iPhone 11 Pro e sua versão maior, o iPhone 11 Pro Max, os atuais modelos de ponta da maçã estariam disparando respostas desconfortáveis em pessoas que sofrem de tripofobia, um tipo de medo supostamente ligado a resquícios evolucionários. A culpa seria das câmeras traseiras, ou melhor, a posição delas.
DISCLAIMER: As imagens deste post podem ser incômodas para algumas pessoas.
Durante o anúncio do iPhone 11 Pro, a Apple destacou a presença das câmeras, sendo duas de 12 megapixels também presentes no iPhone 11; a primeira traz ângulo normal e abertura f/1,8, enquanto a segunda possui ângulo Ultrawide e f/2,4. A terceira, exclusiva do 11 Pro e Pro Max também possui 12 MP, mas conta com zoom óptico de 2x.
O conjunto traz um LED melhor que o do iPhone 11 e um microfone dedicado a fazer "zoom de áudio", para aumentar o volume de vídeos captados à medida que você aproxima o foco. A disposição dos sensores, do Flash e do microfone (a Apple não embarcou no trem do sensor ToF, talvez porque não o julga necessário) segue um padrão encadeado, como num favo de mel (ou um cooktop, se formos maldosos... e somos), para se diferenciar da maioria dos concorrentes, com exceção do Nokia 9 PureView.
Sendo justo, o celular da Nokia foi o primeiro a disparar reações dos ditos tripofóbicos, mas quando se trata da Apple, as coisas sempre escalam.
O termo tripofobia (do grego trýpa, buraco e phobos, medo) foi usado pela primeira vez em 2005, em um fórum do Reddit (os problemas começam aí, mas chegarei lá) para designar o medo irracional ou aversão a padrões irregulares ou conjuntos de buracos encadeados, geralmente pequenos e muito próximos.
Pense em um favo de mel ou veja a imagem abaixo, de um cacho de sementes de lótus, que você vai entender melhor.
As respostas a uma imagem do tipo variam muito de pessoa para pessoa, indo desde um leve desconforto a expressões de pânico e repulsa severa. O primeiro estudo descrevendo o distúrbio foi publicado em 2013 (cuidado, PDF), pelos Drs. Geoff Cole e Arnold Wilkins, do Departamento de Psicologia da Universidade de Essex. No artigo, os pesquisadores apontam que as causas do incômodo podem estar ligadas à forma como o ser humano evoluiu.
Segundo Cole, o caso que levou à pesquisa foi de uma pessoa que relatou ter um medo irracional do polvo-de-aneis-azuis, uma das espécies mais venenosas do planeta (obrigado de novo, Austrália). A investigação mostrou respostas semelhantes em pessoas que viam padrões circulares irregulares em espécies historicamente perigosas ao homem, como escamas de cobras e de crocodilos.
A tripofobia também é disparada por padrões circulares cutâneos, causados por doenças altamente infecciosas e fatais como sarampo e varíola. No mesmo balaio, entram infestações por vermes, como as causadas por bernes, as larvas da mosca-berneira (Dermatobia hominis), cujos casos são comuns na América Central e do Sul, incluindo as áreas rurais do Brasil.
Dica para a vida: nunca pesquise por "calcanhar de maracujá" no Google Imagens. Você foi avisado.
Em 2017, materiais promocionais da 7ª temporada de American Horror History flertaram com a tripofobia e incomodaram muita gente, como esperado
A conclusão que se chega é que no caminho para a Evolução, o Homem aprendeu a rejeitar e evitar animais que apresentem um padrão de círculos irregulares encadeados, assim como teve que gerar repulsa em indivíduos infectados, algo nocivo para a tribo. É semelhante ao medo irracional de aranhas e cobras que muita gente tem, por serem animais especialmente perigosos.
O dr. Jenkins trabalha com ainda outra hipótese, de que a configuração de buracos, manchas e caroços irregulares tenha ligação com propriedades matemáticas, tais como as de imagens que causam incômodo visual ou dores de cabeça, o que explica tais imagens supostamente afetarem até quem não é tripofóbico. Segundo o pesquisador, o cérebro teria dificuldades de processar o que vê, passando a exigir mais oxigênio e mais energia para lidar com o problema, o que levaria a um desconforto geral.
Até o momento, a tripofobia não é considerada uma desordem mental (como outras fobias) por ter se originado através de discussões na internet, mas há correntes que defendem sua inclusão na categoria de fobias específicas; não há um tratamento oficial para o distúrbio, embora psicólogos trabalhem com pacientes usando terapia de exposição, de modo a fazê-los se acostumarem com os padrões e diminuir as respostas incômodas.
O tema vira e mexe é usado no entretenimento em conteúdos voltados a chocar o público, como a 7ª temporada de American Horror History, ou todas as obras de Junji Ito, considerado um dos mestre do gênero mangá de terror.
Os novos iPhones seriam os primeiros que não contaram com a mão do designer Jony Ive, que deixou a maçã em junho, log, é de se supor que o design encadeado das câmeras do 11 Pro e 11 Pro Max tenham sido um acidente, pautado na necessidade da empresa de fazer diferente dos concorrentes.
Dessa forma, o design com as câmeras alinhadas em fila, seja na vertical ou na horizontal, como a Samsung já usou e ainda usa, jamais seria o escolhido para figurar nos novos aparelhos. Assim, a elevação quadrada precisa acomodar a terceira câmera nos modelos maiores de forma encadeada, assim como o Flash e o microfone.
Desde o anúncio dos novos iPhones, muitos usuários reclamam na internet que a posição das câmeras disparou respostas de tripofobia, só que como a Apple é agora o alvo, não seria surpresa se as pessoas estivessem aumentando ou inventando reações.
Ao mesmo tempo, por mais que as pessoas relatem se sentirem mal ao olharem para o celular, a tripofobia ainda não é reconhecida como uma patologia legítima e há resistência da comunidade médica em fazê-lo, pelo simples fato de que ela surgiu na internet.
Independente disso, cabe à Apple ficar de olho nas reclamações e separar o joio do trigo, para o caso de que realmente o iPhone 11 Pro esteja causando incômodo; se comprovado, é algo a se levar em conta para o iPhone 12 Pro.
Com informações: BBC.