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Com a morte de seu fundador empresa de lançamentos de Paul Allen parece estar indo pro espaço

A promissora empresa de lançamentos espaciais de Paul Allen pelo visto está indo pro espaço, metaforicamente. Com a morte de seu fundador, cancelamentos e demissões estão acontecendo.

5 anos atrás

Dizem que o espaço é difícil, mas não, o espaço é mais do que difícil, o espaço é caro, MUITO caro. Chegar no espaço é imensamente caro. Para chegar no espaço você pode desenvolver projetar e construir um foguete, mas sabe o que é mais barato que isso? Empilhar notas de US$1,00 até atingir a Linha de Karman, a 100Km de altitude.

Sim, eu fiz a conta, uma nota de US$1,00 tem 0.1mm de espessura, dez delas empilhadas dão 1mm. Um metro equivale a 10 mil notas ou US$10 mil. 100Km somam US$1 bilhão, o que é bem menos do que o custo de desenvolver um foguete decente. Ou indecente, se for um dos brasileiros.

Quando você monta uma empresa aérea, assim que os aviões chegam você está ganhando dinheiro, mas uma empresa de lançamentos espaciais é bem mais complicado. Os investidores tem que arcar com todo o custo de desenvolver o foguete, que custa uma fortuna e leva anos. Acidentes ou erros de projeto significam meses e meses a mais no cronograma.

Quando a VSS Enterprise se acidentou em 31 de Outubro de 2014 a Virgin Galactic pisou no freio, investigou o acidente até não poder mais, reprojetou componentes, criou novas metodologias de testes e procedimentos de lançamento, e só fez o próximo vôo, com a VSS Unity em Dezembro de 2016. Vôo com motor? O primeiro, rapidinho só aconteceu em Abril de 2018. Um atraso de quatro anos.

Nesse meio-tempo as pessoas precisam receber salário, e lembre-se, a empresa não tem nenhuma fonte de renda enquanto isso.

Uma saída é fazer como a Blue Origin, de Jeff Bezos.

Eles estão desenvolvendo o New Shepard, o foguetinho para jornadas rápidas ao espaço, subindo e descendo que será usado para ganhar dinheiro com turismo e ciências, mas também participaram de vários projetos da NASA, que renderam US$22,5 milhões. Não é nada não é nada, não é nada mesmo, Bezos em 2014 já tinha colocado do próprio bolso US$500 milhões na empresas, que tem 1500 funcionários, mas ele tem uma carta na manga.

A Blue Origin também desenvolve motores, como o BE-4 da imagem acima. Ele é um motor de foguete de verdade, da melhor qualidade e foi escolhido para equipar o Vulcan, o novo foguete da United Launch Aliance. É uma fonte de renda segura pro Bezos, ainda mais por vir a substituir os RD-180 russos, que sempre rendem polêmica no Congresso dos EUA.

Mesmo assim Bezos vem colocando US$1 bilhão por ano na empresa, desde o ano passado.

A Stratolaunch não teve tanta sorte. Fundada em 2011, com um custo de desenvolvimento insanamente otimista de US$300 milhões, o objetivo era construir um avião gigantesco que levaria um foguete até a alta atmosfera, uma técnica testada e aprovada pela Orbital ATK, com o foguete Pegasus e o avião Stargazer:

Só há um problema aqui: O Pegasus está limitado pela capacidade de carga do Stargazer, como resultado ele só consegue lançar satélites de até 443Kg em órbita baixa.

Curiosidade: A Orbital ATK oferece lançamentos do Stagazer a partir da base de Alcântara, mas ninguém nunca se interessou por esse pacote, até os satélites brasileiros SCD-1 (1993) e SCD-2 (1998) foram lançados do cabo Canaveral.

A sorte é que ao contrário do Ruby, a solução aqui escala, e a Stratolaunch resolveu isso criando o maior avião do mundo, capaz de levar 230 toneladas. O Pegasus coitado, pesava 18 toneladas.

O bicho é um MONSTRO, de ponta a ponta da asa são 117 metros. cabem 3 Boeings 737-600 um atrás do outro e sobra espaço para um fusca.

Esse avião deveria carregar o Falcon Air, foguete que seria desenvolvido pela SpaceX, mas ela desistiu de participar do projeto em 2012. A Stratolaunch então procurou a Orbital ATK, que já tinha experiência com o Pegasus e encomendou o desenvolvimento do Pegasus 2 - A Missão, um foguete com capacidade extremamente respeitável, pesando 211 toneladas e capaz de colocar cargas de até 6.1 toneladas em órbita baixa.

Só que a Orbital era uma empresa acostumada a fazer projetos pro governo, um lançamento do Pegasus normal custava US$40 milhões, eles não conseguiram desenvolver um foguete comercialmente viável.

Em 2017 eles anunciaram que estavam desenvolvendo um foguete próprio. Na verdade vários.

Enquanto isso o aviãozão atrasava, em 2015 a promessa era que ele estaria voando em 2016, mas até hoje ele só fez taxiar em alta velocidade dia 9 de Janeiro de... 2019, no vídeo mas meh que você verá hoje, a menos que alguém vaze minhas sex tapes.

Eles chegaram a fazer testes preliminares com alguns componentes, e o foguete deveria talvez estar pronto em 2022, mas com a morte de Paul Allen, a fonte de dinheiro secou.

A empresa avisou que todo o desenvolvimento dos foguetes foi cancelado. Demitiram 50 funcionários, sobraram 20 que trabalharão na finalização do avião-lançador e no vôo de testes.

A suprema humilhação é que agora lançarão um Pegasus XL, a versão de 23 toneladas do foguete da Orbital ATK, que voou pela primeira vez em 1994. Eles vão literalmente decolar com um foguete 10 vezes mais leve do que o avião foi projetado para levar, é como se você construísse um navio de cruzeiro para 10 mil passageiros e na viagem inaugural levasse todas as pessoas que realmente gostaram do Ghostbusters de 2016.

A esperança era que os herdeiros do Paul Allen mantivessem o investimento, mas pelo visto não foi o que aconteceu. Infelizmente é meio que inevitável que o avião gigante da Stratolaunch acabe como outro avião gigante tido como impossível, o Spruce Goose, fruto da mente genial e perturbada de Howard Hughes, custou uma fortuna, foi feito na teimosia e só voou uma vez.

Aerial photo of Spruce Goose (H-4, Hercules Flying Boat), Long Beach, 1947.

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