Carlos Cardoso 5 anos e meio atrás
O R-16 Foi o primeiro míssil balístico intercontinental realmente operacional da falecida União Soviética. Claro, tinha seus problemas. Usava como oxidante RFNA, um composto que era 84% ácido nítrico, então ele permanecia desabastecido. Em caso de necessidade os mísseis seriam colocados em prontidão e encheriam os tanques, mas após algumas horas o interior estaria tão corroído que o míssil tinha que ser mandado pra fábrica pra trocar o tanque de oxidante.
O combustível, dimetil-hidrazina assimétrica também não é algo que você quer respingando nas suas plantas caseiras. Ou mesmo em seus inimigos, eles podem ganhar superpoderes. Ou câncer. Mais provavelmente câncer.
Ah sim, também havia o detalhe de que os giroscópios do R-16 precisavam de 20 minutos de aquecimento antes da decolagem. Ou seja: não era uma arma para reagir imediatamente a um ataque, mas tinha sua utilidade. Infelizmente burocratas não entendem a necessidade de extrema cautela em se tratando de combustíveis hipergólicos e tecnologia de ponta não-testada, e exigiram que o R-16 estivesse pronto para testes de lançamento antes do dia 7 de novembro de 1960, aniversário da Revolução comunista na CCCP, quando seria anunciado para a população.
Os técnicos e cientistas tiveram que pular etapas, ignorar procedimentos de segurança, virar noites e o inevitável (mentira, era totalmente evitável) aconteceu, depois que a equipe trabalhou direto por 72 horas. No dia 23 de outubro o R-16 estava abastecido e na fase final de preparativos para o lançamento, quando um curto-circuito ou uma conexão ligada errada no painel de controle principal acionou o motor do segundo estágio do míssil.
Com um monte de gente na plataforma e na proximidade.
O topo do tanque de combustível do primeiro estágio resistiu poucas frações de segundo ao jato flamejante do motor, e logo 141 toneladas de combustível e oxidante explodiram. O que não explodiu se tornou uma nuvem tóxica que matou todo mundo que não foi incinerado na explosão.
Entre os mortos, o Marechal de Campo Mitrofan Ivanovich Nedelin, comandante das Forças Estratégicas de Mísseis da União Soviética.
Ele foi um dos sortudos, foi incinerado imediatamente. Outros, quando o calor de mais de 3.000 graus derreteu o asfalto, ficaram presos expostos ao calor e aos gases venenosos.
No final 150 técnicos, cientistas, militares e operários estavam mortos. Ironicamente entre os poucos sobreviventes estavam um dos projetistas e o comandante da base, que haviam se afastado muito para poder… fumar.
A morte do Marechal Nedelin foi atribuída a um acidente de avião. A KGB visitou a família de todos os outros mortos e sugeriu de forma bem veemente que eles ficassem calados sobre a causa da morte de seus entes queridos, a menos que quisessem virar entes queridos eles mesmos.
A notícia, claro, vazou, mas a União Soviética negou ter conhecimento, como todo bom governo, e só admitiu publicamente o acidente em 1989. Até hoje a Catástrofe de Nedelin continua sendo o pior acidente da história da indústria aeroespacial.