Carlos Cardoso 6 anos atrás
Existe pouca previsão mais furada que a que envolve a morte de uma mídia. Não que não aconteça: quando o ganho tecnológico é muito grande, a tecnologia antiga morre sem dó. Ninguém em sã consciência usaria lampiões a gás nas ruas hoje, e nem hipsters preferem filmes em VHS.
Algumas vezes entretanto entramos no hype e prevemos a morte da mídia sem pensar muito, e quebramos a cara. Foi o que aconteceu com os e-books. Eu tinha plena certeza que o futuro seria repleto de Kindles Kobos e similares, que se barateariam cada vez mais. Aí vem a Realidade e solta um “ha-ha” na nossa cara, como aconteceu com um relatório da Associação Americana de Editoras.
A leitura como um todo está saindo de moda, as pessoas lêem cada vez menos. Entre 2015 e 2016 a receita das editoras caiu 2,7%. A venda de livros para adultos caiu 10,3% nos três primeiros meses de 2016. Livros infantis? Queda de 2,1% no mesmo período.
Livros de capa dura, queda de 8,5%. Agora a paulada: e-books tiveram uma queda de 21,8% nas vendas.
Essa queda é em parte explicada pelo aumento no preço dos e-books nos EUA, que ainda são bem caros considerando que os royalties pros autores não mudaram e os custos de impressão / estoque / entrega são zero.
A própria venda decepcionante dos leitores de ebooks tem uma explicação mais prosaica: maníacos achamos ótimo andar com 300 ou 400 livros no leitor. Pessoas normais costumam ler um livro de cada vez. O que explica também a venda de brochuras, aqueles livros tipo pocket book, de capa mole, subiram 6,1%.
Agora o ponto mais interessante: quem teve um crescimento de 35,3% foram… audiobooks.
A geração conectada que não tem paciência para ler adora ouvir livros, e não tem problemas em pagar caro por isso. The Martian para Kindle na Amazon custa US$ 7, a versão em áudio custa US$ 14.
É fascinante ver o e-book ser destronado, ou ao menos ameaçado por um formato que existe desde a invenção do fonógrafo, em 1877.
Fonte: The New York Times.