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MSX RIO - Eles sim são livres

15 anos atrás

Para quase todo mundo que está de fora um evento como o MSX RIO é uma reunião de saudosistas, sentados chorando “Ah, como era grande”, lembrando de um tempo que não volta mais. Por uma eternidade (0,04s é uma eternidade para um blogueiro com déficit de atenção) temi que fosse assim, mas fico feliz em relatar que encontrei o que esperava realmente encontrar: Gente apaixonada por seus hobbies, investindo tempo e dinheiro em produzir, não relembrar ou reclamar.

Após algumas voltas pela Linha Amarela, tive a primeira Grande Constatação do dia: Desde que passei a usar o E71 com GPS nunca mais me perdi. Errar o caminho sim, mas eu sempre sei onde estou, mesmo quando não deveria estar lá.

Voltas e voltas depois (bom título para a biografia do Rubinho) cheguei ao SESC de Engenho de Dentro. Cartazes indicavam o caminho para a sala do evento. Sim, ao contrário de eventos que mudam o cenário da tecnologia nacional, como o FISL o MSX Rio é minúsculo. O que não é demérito, ele é chiquitito pero cunplidor.

 

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Algo em torno de 20 ou 30 pessoas ocupava uma sala, repleta de bancadas com computadores funcionando, abertos, em processo de conserto. Ao fundo uma mini-exposição com material bem, bem antigo. De pistolas de Master System a impressoras térmicas para TK85.

Já os MSX eram tudo menos peças de museu. A maioria estava com drives IDE, leitor de CD-ROM, havia até um com interface gráfica. O pessoal trocava jogos, comentava a coleção de máquinas de uns e outros, falava de projetos. Devo dizer, aliás, que pelos projetos que vi ali os boatos da morte do MSX foram um tanto exagerados.

 

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Não só há uma comunidade ativa usando MSX como há uma comunidade desenvolvendo para ele. Tanto em software como em hardware. Vide o SVU Project, uma expansão criada por Ricardo Oazem que utiliza seis processadores A/V para dar ao MSX capacidade superior a um SNES, e na parte de áudio suficiente para animar qualquer discoteca (para usar um termo da época). Veja no vídeo abaixo uma apresentação do SVU

 

Outro projeto excelente foi o Emulador de Drive do Victor Trucco. Ele criou um leitor de cartões SD(HC) de até 32GB que aparece para o MSX como se fosse um drive externo. Como o DOS do MSX não tem como lidar com discos tão grandes, seleciona-se via botões no aparelho qual arquivo será montado como drive. Veja também no vídeo:

 

O que vi ali me lembrou muito aquele proverbial clube de entusiastas frequentado por Bill Gates e Paul Allen, quando apresentaram o BASIC do Altair, ou o clube de Palo Alto, onde Wozniak demonstrou o Apple I e tantas outras invenções. Tive a honra de estar na presença de Verdadeiros Hackers. Gente que faz só pra ver se dá pra ser feito. Gente que não está nem aí pra licenças e discursos ideológicos. Gente que faz questão de parar uma entrevista pra chamar o outro e dizer “olha, esse cara aqui escreveu parte do programa, foi essencial”.

Não vi gente cantando de galo sua expertise, não vi gente questionando nada baseado no nome da empresa que fabricou o produto. Principalmente, não vi gente xiita. Eu entrei falando alto “É aqui a reunião de Amiga?” e claro, fui vaiado. Cinco minutos depois encontrei um sujeito que tinha CINCO Amigas, além dos MSX. Vários tinham. Em uma mesa um EeePC atrelado a um minimodem era usado, sem vergonha ou arrogância. Em outra, um laptop Toshiba ostentava um adesivo MSX. Paixão não é motivo para viver no passado.

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Todo xiita deveria passar em um evento desses. Aliás todo mundo que GOSTA de informática deveria ir, é uma desintoxicação do dia-a-dia corporativo, dos clientes chatos, do troll de forum que exige que você use somente o que ele usa, do gamer neurótico que baliza sua existência e relevância em torno de quantos FPS consegue em Crysys.

A única surpresa (fora encontrar por lá o Gollum, figurinha fácil das listas de Palm-Se o virem, CORRÃO!) foi a faixa etária. Há dinos, mas há gente jovem também. O Prazer de Fuçar ainda existe. A mentalidade hacker, de abrir o computador e descobrir “para que servem esses quadradinhos pretinhos”, como me perguntou uma Analista de Suporte da Petrobras ainda existe.

Há uma geração –pequena, é verdade- de escolhidos que continuará a proteger o Cálice Sagrado do conhecimento. Ou melhor, da Sede por Conhecimento. São esses os que você chamará quando tiver problemas realmente cabeludos. Esses não hesitarão em virar noites resolvendo algo muito cabeludo não só para solucionar o problema –isso é secundário para eles- mas pelo prazer da jornada.

O MSX RIO foi uma ilha de sanidade e esperança para alguém que realmente ama tecnologia mas lamenta o fim dos micreiros e a ascensão do grupo que usa computadores como muleta ideológica. Só por isso já valeu. E pelo SVU.

Parece que em Setembro haverá outro. Se tudo der certo, estaremos lá!

 

Para todas as outras fotos do evento, visite este set do Flickr

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