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Kunitsu-Gami: Path of the Goddess — A criativa torre de Kawata

Misturando ação, estratégia e tower defense, Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é uma grata surpresa e um dos jogos mais criativos dos últimos tempos

01/08/2024 às 10:29

Quantas vezes você ouviu alguém dizer (ou até mesmo disse) que falta ousadia às desenvolvedoras de jogos, que as empresas não deveriam apostar tanto em ideias requentadas? Mas se poucos são ou títulos que podem ser orgulhar por buscar algo diferente, Kunitsu-Gami: Path of the Goddess merece elogios justamente por nos entregar uma experiência incomum.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess

Crédito: Divulgação/Capcom

Anunciado pela Capcom em junho de 2023, o desenvolvimento do Kunitsu-Gami: Path of the Goddess iniciou três anos antes e ficou sob o comandado por Shuuichi Kawata. Com larga experiência na empresa, ele repetiria algo que havia feito no jogo anterior que dirigiu, o Shinsekai: Into the Depths, voltando a explorar a cultura e o folclore japonês.

Assim, Kunitsu-Gami: Path of the Goddess se passa na Montanha Kafuku, um lugar outrora pacífico, mas que se vê tomado pela maculação, uma ameaça demoníaca que se aloja no topo da montanha e contamina todas as comunidades ao redor, aprisionando os aldeões e espalhando coléricos através dos Portais Torii sempre que o sol se põe.

Para combater esses terríveis inimigos surge do reino espiritual Soh, cujo objetivo será proteger Yoshiro, a Sacerdotisa da montanha, enquanto ela expurga o mal que assola o lugar. Para isso ele terá a ajuda dos aldeões que libertar pelo caminho, pois é aí que entra a principal qualidade de Kunitsu-Gami: Path of the Goddess, sua jogabilidade.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess

Crédito: Divulgação/Capcom

Funcionando como um tower defense, a diferença aqui é que não deveremos proteger uma construção estática, mas sim acompanhar Yoshiro enquanto ela avança pelas fases. A Sacerdotisa fará isso por um caminho pré-determinado, cabendo ao jogador decidir quando ela deve parar ou prosseguir.

Porém, como os coléricos podem seguir outros caminhos ou mesmo surgir de locais diferentes, será importante traçar estratégias para garantir que a personagem esteja a salvo, fazendo com que os aldeões sejam muito importantes.

Presos em uma espécie de casulo, eles precisarão ser libertos para então receberem funções, o que basicamente significa terem classes distintas. Ou seja, um aldeão poderá ser, por exemplo, um lenhador, desferindo ataques a curta distância; um arqueiro, que poderá atingir inimigos voadores; um xamã, que ficará responsável por curar os aliados; um asceta, que diminuirá a velocidade dos coléricos, e só para citar alguns.

Essas funções serão desbloqueadas gradativamente, conforme avançamos pela campanha e derrotamos os chefes. Então, o jogador deverá escolher onde cada aldeão deverá ficar posicionado, decidir se eles partirão para o ataque ou proteger a Sacerdotisa. Esses comandos serão feitos ao apertarmos um botão, quando a ação será pausada e assim poderemos definir a estratégia que acreditamos ser a mais adequada.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess

Crédito: Divulgação/Capcom

Outro ponto a ser considerado é que cada classe exigirá uma certa quantidade de cristais para ser atribuída, quando chegamos a outro elemento muito importante da jogabilidade. Os cristais serão obtidos ao realizarmos determinadas ações durantes as fases, como derrotar os coléricos, libertar animais selvagens tomados pela maculação ou expurgar objetos afetados por essa ameaça.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é dividido entre dias e noites. Desta forma, teremos que explorar as fases, libertar aldeões, aproveitar o marceneiro para montar obstáculos que atrasarão a progressão dos coléricos e fazer com que Yoshiro caminhe enquanto o sol estiver no céu, além de posicionar nossos companheiros em locais estratégicos. Já quando a lua aparecer, os coléricos serão sairão do reino espiritual e partiremos para um típico jogo de ação.

Essa dinâmica faz com que exista um senso de urgência para nos prepararmos para as iminentes ondas de inimigos que avançarão em direção a Sacerdotisa e quando a noite finalmente chegar, restará fazer o possível para sobreviver até o sol nascer, nos passando uma angústia diferente.

Crédito: Divulgação/Capcom

Soh é um habilidoso guerreiro, cujo combate foi inspirado na kagura, uma dança teatral que visava entreter os deuses. Com movimentos graciosos, rápidos e extremamente poderosos, podemos encadear combos e a sensação de estarmos realmente surrando os coléricos é incrível.

Mesmo assim, durante as fases teremos que administrar os aldeões, com suas participações sendo muito importantes, principalmente na defesa de Yoshiro. O problema é que ao iniciar um estágio nunca saberemos o tipo de inimigo que aparecerá pela frente, logo, será que devemos ter mais arqueiros ou lenhadores? Felizmente é possível trocar essas funções com a fase em andamento, mas isso exigirá cristais.

Nos deixar às cegas pode ter sido uma decisão proposital por parte de Shuuichi Kawata, fazendo assim com que a surpresa esteja sempre presente. Porém, isso algumas vezes nos obrigará a repetir algumas fases, pois tomamos alguma decisão errada devido os inimigos possuírem habilidades, virtudes e fraquezas diferentes e dependendo dos aldeões que estiverem com a gente, o desafio se apresentará em maior ou menor grau

Também devemos esperar alguns picos de dificuldade irritantes e não foram poucas as vezes em que me senti desesperado ao ter que lidar com muitas ações simultaneamente, me ver perdido tentando entender o comportamento de um novo inimigo ou o que fazer para derrotá-lo.

Crédito: Divulgação/Capcom

Um ponto positivo vai para as batalhas contra os chefes, quase sempre muito bem elaboradas e por vezes desafiadoras. Espere até chegar ao Mukadejoro, um monstro parecido com uma centopeia que dará as caras ainda nas primeiras horas e que se mostrará muito mais poderoso do que parece ser possível encarar. O interessante é que após entender sua mecânica, foi relativamente fácil derrotá-lo.

E talvez seja isso que faz de Kunitsu-Gami: Path of the Goddess um jogo tão divertido. Ao misturar ação, estratégia e tower defense, a Capcom conseguiu criar um título que está sempre nos colocando para pensar, mas sem deixar de exigir reflexos apurados e alguma habilidade.

Ao longo da campanha ainda nos veremos obrigados a gerenciar as vilas que libertamos, colocando aldeões para realizar consertos em partes danificadas pelos coléricos. Isso nos garantirá recursos que facilitará o progresso quando partirmos para novas fases, além de nos dar itens que poderão mudar o estilo de combate. O interessante é que mesmo com tantos sistemas funcionando nos bastidores, com um pouco de atenção conseguimos aproveitar bem todo o gerenciamento que o jogo coloca sob a nossa responsabilidade.

Crédito: Divulgação/Capcom

Particularmente, adoraria que o enredo tivesse recebido mais atenção, já que boa parte da história é contada de uma maneira um tanto sutil. Contudo, sempre admirarei jogos que se dedicam a passar um pouco da cultura e mitologia do seu povo, o que essa criação de Shuuichi Kawata faz de maneira brilhante, seja com o próprio enredo, os monstros lindamente assustadores, a direção artística impecável ou até mesmo com sua interface.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é daqueles jogos que fascinam por nos surpreender, por remeter a uma época em que os estúdios japoneses eram conhecidos por estarem na vanguarda da criatividade e dedicação a jogabilidades viciantes e inovadoras era primordial. Mesmo desconsiderando sua ambientação, é provável que um jogo assim nunca seria desenvolvido por uma empresa de outros país e isso mostra como a Capcom é uma fonte inesgotável de produção de obras de arte.

Esse é um título diferente de tudo o que eu já havia experimentado, singular e como alguém que há muito tempo perdeu o interesse por tower defenses, não imaginava que ele poderia me agradar tanto.

 

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