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Sega e a ajuda que levou a Nvidia a se tornar uma gigante

Jensen Huang relembra quando, à beira da falência, o CEO da Sega lhe ajudou com US$ 5 milhões e assim a Nvidia pôde criar a placa RIVA 128

03/05/2024 às 10:20

Em fevereiro de 2024, a Nvidia conseguiu um feito impressionante. Com um aumento de mais de 60% no valor de suas ações neste ano, ela se tornou a quarta empresa mais valiosa do mundo, ultrapassando a Alphabet e com a atenção do mundo voltada para a inteligência artificial, o CEO Jensen Huang acredita que ainda há espaço para crescer. O que nem todos sabem é que esse império começou a ser construído com uma importante contribuição da Sega, lá pelo final da década de 90.

Nvidia

Crédito: Reprodução/Caspar Camille Rubin/Unsplash

Tudo começou em novembro de 1995, quando a Nvidia disponibilizou o NV1. Aquele chip era o coração da placa PCI Diamond Edge 3D, vendida pela Diamond Multimedia. Ele contava com uma placa de som integrada, entrada para o controle do Sega Saturn e sua intenção era substituir as placas de vídeo 2D, assim como as de áudio compatíveis com a Sound Blaster e a porta de 15 pinos para joysticks.

Mas se no papel aquela placa “tudo-em-um” parecia promissora, na prática, ela se mostrou um enorme fracasso. “Aquilo foi uma grande conquista tecnológica, mas um produto terrível,” admitiu Huang no podcast da Sequoia Capital. “Vendemos [à Diamond] 250 mil NV1, mas as vendas no varejo não foram boas e então a Diamond entrou em pânico.”

Segundo o executivo, das 250 mil unidades do chip, apenas mil teriam sido vendidas, o que praticamente fez com que a Nvidia quebrasse. O principal problema estava no alto preço cobrado por aquelas placas, principalmente numa época em que existia tanta concorrência e uma escolha errada feita por eles piorou a situação.

Diamond Multimedia's Edge 3D 2120 (Crédito: Reprodução/Swaaye/Wikimedia Commons)

“A arquitetura que escolhemos [para o NV2] era inteligente na época, mas acabou se revelando completamente equivocada,” explicou Jensen Huang. “Era 1995, a Microsoft tinha acabado de lançar o Windows 95 e a API chamada DirectX era a arquitetura que todos estavam usando, exceto nós. Nunca tínhamos implementado uma arquitetura gráfica como o DirectX e o resto da indústria, agora umas 50 companhias, estava acima da gente. E então, a questão é, o que fazemos?”

A encruzilhada se devia ao fato de a Nvidia ter fechado um contrato com a Sega, empresa que buscava um parceiro para produzir o console que sucederia o Saturn. O problema é que, se a companhia norte-americana cumprisse o contrato, passaria um bom tempo trabalhando numa arquitetura que ninguém usava, mas se rompesse o acordo, ficaria sem dinheiro para continuar funcionando. Independentemente da escolha, o fim parecia inevitável.

A solução, como Huang contou durante uma palestra na National Taiwan University, foi jogar limpo com a Sega. “Eu precisava que Sega nos pagasse integralmente ou a Nvidia estaria fora dos negócios,” revelou. “Eu estava envergonhado em pedir ao CEO da Sega, mas para a minha surpresa, ele concordou. Sua compreensão e generosidade nos deu seis meses para viver.”

Já no podcast, o executivo elaborou o comentário, revelando que o pedido foi ainda mais... ousado. “Eu gostaria que ele nos liberasse do contrato, nos isentasse da responsabilidade de cumpri-lo, mas nos pagasse integralmente e eles não tirariam absolutamente nada disso,” revelou. “Não existia razão para ele fazer aquilo e após pensar por alguns dias, ele veio e disse que gostaria de nos ajudar.”

Crédito: Reprodução/Tailor R/Unsplash

“Você não pode desconsiderar a gentiliza das pessoas quando está começando sua empresa, quando se beneficia da gentileza de todas as pessoas que o apoiam, mas nesse caso específico, acho que foram US$ 5 milhões,” revelou. “Era todo o dinheiro que tínhamos e aquilo nos deu o dinheiro suficiente para nos acomodarmos.”

O executivo a quem o CEO da Nvidia se refere é Shoichiro Irimajiri e o resultado dessa ajuda atendeu pelo nome RIVA 128 (ou NV3), um chip compatível com o DirectX e que suportava resoluções superiores às das placas dos concorrentes. Assim, em apenas quatro meses de 1997 ele vendeu mais de um milhão de unidades, se tornando o primeiro sucesso da empresa.

Curiosamente, o Dreamcast não chegou a usar uma GPU da empresa de Jensen Huang, mas sim da Imagination Technologies, a PowerVR CLX2, que era licenciada pela NEC. Já a Nvidia estrearia nos consoles apenas em novembro de 2001, quando o primeiro Xbox trouxe uma GeForce 3 (ou NV2A) em seu interior.

Nvidia

Crédito: Reprodução/Hyins/Wikimedia Commons

Passados mais de 25 anos desde aquela ajuda, hoje a Nvidia está avaliada em mais de US$ 2,2 trilhões, possui 80% do mercado de placas de vídeo e o céu é limite. Quanto à Sega... Bom, o Dreamcast teve uma vida curta e a empresa, após passar por profundas reformulações desde que deixou o mercado de produção de videogames, pouco lembra aquela que media forças com a Nintendo na lendária Guerra dos Consoles.

Se a companhia de Huang teria conseguido fechar uma parceria com outra gigante, nunca saberemos. O que também só podemos especular é que, se não fosse por aquela gentil (e milionária) contribuição feita por Irimajiri, talvez hoje não fossem apenas os games que tivessem evoluído menos, mas várias áreas da computação e até a inteligência artificial, como conhecemos, nem estivessem tão avançadas.

“Os pesquisadores [nas universidades] perceberam que ao comprar essa placa para jogos chamada GeForce [com arquitetura CUDA], ao adicioná-la no seu computador, você essencialmente tinha um supercomputador,” disse Jensen Huang. “Um dos cientistas que conheci estava em Taiwan e era um químico quântico [...] fui à National Taiwan University e ele abriu um armário e havia uma coleção gigante de placas em todas aquelas prateleiras com ventiladores girando. E ele disse: ‘eu construí meu próprio supercomputador pessoal.’ E ele me disse isso por causa do nosso trabalho, que por causa disso, seria capaz de fazer aquele trabalho durante seu tempo de vida.”

Obrigado Sega, muito obrigado!

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