Gilson Lorenti 11 anos atrás
Neste último fim de semana (entre os dias 9 e 11 de dezembro) tive o privilégio de participar de mais uma Oficina ministrada pelo mestre Iatã Cannabrava. Não é a primeira vez que o fotógrafo se desloca até Presidente Prudente, e está é a segunda vez que consigo fazer um curso com ele. Iatã não trabalha com aquela oficina de fotografia básica que a maioria dos iniciantes está procurando. Nada de obturador, diafragma ou sensibilidade ISO, o papo aqui é mais pesado e artístico. O nome da Oficina ministrada foi “Um Ensaio Sobre as Cidades”, e a maior parte do curso foi focada sobre as normas mais simples que definem um ensaio.
Como já disse por aqui em algumas ocasiões, um ensaio tem que ter uma Unidade Formal e uma Unidade Temática. Você define o seu tema e depois define as ferramentas e a linguagem que você vai utilizar. Mas, não é tão simples assim. Para a coisa ter um sentido é necessário uma contextualização. Iatã afirma que a foto pela foto não possui sentido. A produção baseada em contexto, forma e unidade é que vai definir o fotógrafo. Pode parecer um pouco cruel para quem está iniciando, mas quando fiz o curso pela primeira vez (cerca de seis anos atrás) foi um tapa na cara. Considerava-me um bom fotógrafo, mas ao analisar minha produção cheguei à conclusão que era um emaranhado de imagens sem sentido. Fotos sem uma conexão já que saia para fotografar de tudo. Hoje ainda gosto de fotografar de tudo, mas também me dedico a alguns projetos e séries de fotos. Um ótimo exercício para desenvolver o olhar fotográfico.
A Oficina teve uma aula teórica na sexta-feira onde analisamos os fundamentos de um bom ensaio e foram projetados ensaios de grandes fotógrafos. Alguns bonitos e outros desconcertantes. Mas, faz parte da visão artística também cutucar a sociedade e causar polêmica. No sábado tivemos mais projeção na parte da manhã e análise do portfólio dos alunos. Levei fotos de meu novo projeto e levei umas pancadas e duas sugestões muito positivas e que vão dar um caminho mais produtivo para o que estava planejando. Na parte da tarde tivemos a polêmica. A proposta era desenvolver um pequeno ensaio coletivo sobre a cidade. Mas, o tema cidade é muito amplo. De alguma forma, o Shopping da cidade entrou na conversa e como não conseguíamos fotografar lá dentro com câmeras reflex sem que os seguranças nos abordassem e proibissem nossa atividade. Então a proposta foi justamente esta. Como um dos pilares do desenvolvimento artístico é a crítica (desobediência?) de normas infundadas, a escolha pelo Shopping foi óbvia.
Decidimos entrar em grupos, almoçar (afinal de contas ninguém é de ferro) e depois cada um sairia para fotografar ou filmar o cotidiano do local. Nesta hora me arrependi profundamente de ter levado minha câmera reflex. Seria muito mais confortável e anônimo fotografar com o celular apenas. Meu grupo saiu pelo corredor e fui abordado logo na primeira curva por um segurança. Falei para ele que era turista do interior e que nunca tinha visto um shopping e por isso estava fotografando. Deste primeiro conseguimos escapar, mas alguns minutos depois o segundo a nos abordar disse que não poderíamos fazer aquilo sem autorização da direção de marketing do local. Se fossem câmeras compactas estava liberado, mas com reflex não pode. Muito estranho em um mundo onde o Instagram é que dá as cartas. Todos os grupos tiveram esse problema (estávamos em 10 pessoas), mas felizmente conseguimos capturar material suficiente para o objetivo do curso.
O objetivo agora é a produção de um vídeo onde será colocado tudo que foi filmado e fotografado neste curto tempo dentro do prédio. No domingo nos juntamos para editar o material e discutir dúvidas e impressões sobre as atividades do fim de semana. Uma prova de que o assunto tratado não era para qualquer um foram os diversos alunos que desistiram no primeiro dia. Para muitos, fotografia é apenas aprender a usar a câmera, mas este é apenas um pequeno universo da arte fotográfica. Já diz o velho ditado “pense antes, fotografe depois. Seu cérebro é seu principal equipamento.” E esta pequena aula foi mais um exemplo que o cérebro precisa de uns choques de tempos em tempos para voltar a trabalhar plenamente.
Iatã Cannabrava é autor de vários livros (sendo que outros tantos ainda estão no forno), é o capitão do Estúdio Madalena e um dos idealizadores do Paraty em Foco (o mais importante evento de fotografia do Brasil) e do De Olho no Manancial (uma das mais bacanas iniciativas de Educação Ambiental em Recursos Hídricos), além de ser indicado por várias publicações como sendo um dos mais importantes fotógrafos contemporâneos no Brasil. Só tenho a agradecer pela oportunidade e indico a todos que puderam ter a oportunidade de aprender um pouco com essa figura simpática e cativante.