San Picciarelli 12 anos atrás
O The Daily se vende como "Novo Jornalismo", mas bem que poderia se chamar The Conundrum.
O cenário de editorial e notícias é provavelmente um dos mercados mais concorridos do mundo. Todos têm algo a dizer e todos querem dizer primeiro. A informação que chega primeiro pode movimentar zilhões e a massa trabalha duro para "saber" antes. Tem sido assim.
O iPad foi lançado sob a expectativa de revolucionar o mundo do editorial, tal qual o iPod fez com a indústria da música que quase se estrunbicava com a pirataria na época. Com a mesma esperança, uma nova horda de aparelhos no mesmo formato (tablet) foi inserida no mercado.
O argumento é o mesmo para todos: o tablet representa a experiência simplificada de web mais otimizada possível para o usuário comum: compacto, prático, intuitivo, com sinal 3G e outros em qualquer lugar, navegação disso, redes sociais daquilo e a produção modesta-para-boa de algum conteúdo.
Tudo ótimo. Isso foi razoavelmente alcançado por algumas plataformas e propostas. As boas alternativas voltam a trazer um pouco de aquecimento para um uma panela que desandava no angu da mesmice dos enfadonhos netbooks e ching-smarts. Mas e a revolução editorial mesmo?
Ainda não aconteceu.
Mas há quem decida estrupiar qualquer orçamento e investir pesado nisso. É o caso de um certo senhor que se diverte escorregando em montanhas de dinheiro: Rupert Murdoch.
Bzilionário da mídia e não satisfeito (claro) com o tiro n'água que foi a compra do MySpace, Murdoch recortou um orçamento de mais de US$ 30 milhões, uma folha de pagamento com +100 jornalistas de ponta e um time de coders de primeira. Tudo para ser a primeira tesoura de prata a cortar a fita vermelha da "revolução da informação".
O resultado? Um aplicativo para iOS realmente bacana, redondo e muito bem desenhado, mas sem exceder em inovações e surpresas. Afinal, o que o The Daily faz?
Além de cobrar apenas modestos U$S 39,00 por ano por todo o seu conteúdo, ele é o primeiro períódico desenvolvido única e especificamente para o iPad. Ora veja você que o custo diário do The Daily é de U$S 500 mil por semana para sair. Ele é também o primeiro aplicativo já autorizado pelo tio Jobs a cobrar por assinatura e não por edição, como todos os outros.
Mas aí, a grande questão...
RH de primeira, orçamento farto, custo obeso, uma ferramenta belíssima e um acordo inédito com o popstar da praça. Conforme anuciado, o The Daily será exclusivo para iPad por no mínimo três anos. Será que ele sequer dura tudo isso?
Agora, sejamos francos... tio Jobs SABE vender!
Em troca, Murdoch e sua turma irão pedir apenas US$ 0,99 por semana por um jornal que na verdade é uma revista, pois só é atualizado a cada 24 horas. Hmmm... Um jornal que não dá furo e que tem um altíssimo potencial para dar notícias já cansadas de rodar por aí? Como pagar um dólar sequer por notícias potencialmente "velhas"?
Estaria Murdoch apostando giga-fichas em um jornal meramente opinativo e com uma cronologia de notícia lenta demais para acompanhar os caça-furos entre os competidores?
Ou estes titãs são uns gênios ou somos todos uns bobocas, pois ninguém ainda entendeu onde é que se encaixará o The Daily e como Murdoch planeja recuperar os milhões investidos nele...
A centena de jornalistas contratados para preparar o mingau do The Daily -- sim, a notícia -- deve se sentir como uma de duas coisas:
No final do dia, a revolução editorial-em-tablets vai ficando cada vez mais obtusa, os players cada vez mais ousados (ou doidos) e o resto de nós mais intrigados que todos juntos.
Isso é bom para desenvolver o mercado? Pode ser.
Mas pode não ser. E a grana vai de preta para algo ainda mais escuro...
PS: Por ora, só para os EUA.