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Ameaça Real: Sem DRM adeus Linux

18 anos atrás

A consequência do Linux não suportar DRM (Digital Rights Management) será que as únicas plataformas de entretenimento disponíveis serão equipamentos dedicados e PCs rodando Windows.
O Linux será relegado a servidores e máquinas corporativas, já que não estaria provendo as tecnologias multimídia exigidas pelos consumidores.


Jeff Ayars, vice-presidente de tecnologia da Real Networks

EXIGIDAS POR QUEM, CARA-PÁLIDA?

Em um artigo no Ars Techica é dito cidadão aí de baixo proferiu a ameaça hoje, 11/4/2006, na LinuxWorld, em Boston. A ZDNet conta a história com uma outra abordagem, mas batizar o artigo de "DRM: Chave do sucesso para o Linux" é no mínimo forçar a barra.

Jeff Ayars - com o dinheiro que ganha bem que podia pagar um dentista decente.

O que é DRM

O Gerenciamento de Direitos Digitais é um conceito empurrado pela indústria de entretenimento, que pretende proteger os direitos de reprodução de uma obra, mesmo depois que ela tenha sido adquirida legalmente, no recôndido do seu lar. Exemplos de DRM:

  • O programa da Sony para gravação em MiniDiscs, que "trava" os MP3 da máquina quando você os passa para o MD, e não permite que seu disco seja lido em outro player de MiniDisc;
  • CDs como o da Marisa Monte ou o dos Beatles Live, que só são executados através de um player proprietário, código-fechado;
  • Os filmes em formato WMV que só tocam no Media-Player, e mesmo assim se você tiver uma licença específica. Que pode valer para sempre, por um mês, ou por uma única exibição;
  • O controle de região dos DVDs;
  • O sistema da Sky que em teoria não permite que um show pay-per-view fique mais de 48 horas gravado no Sky+

Isso é o que o DRM faz hoje. Os produtores querem muito mais. Há projetos para incluir rotinas de DRM no kernel dos sistemas operacionais, nos gravadores de DVD e até na ROM dos computadores. Só não acontece por desunião. Cada grupo propõe o SEU modelo, como ninguém se acerta, os hackers que criam programas de desbloqueio não precisam exercitar seus dotes.


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Real Networks - defensores do DRM

Citando como exemplo o Windows Vista, o VP da Real mostra que a Microsoft adotou diversas tecnologias de DRM. Pelo modelo adotado, criadores de conteúdo serão capazes de controlar tudo de um arquivo de mídia. Desde a individualização (onde terão acesso a dados que identifiquem positivamente sua máquina) até controle sobre:

  • Horário de Início e Fim - Um arquivo de mídia pode ter um horário e datas específico para começar e terminar. Podem criar "validade" ou mesmo determinar, no melhor estilo Censura Federal, que tal filme só pode ser exibido depois das 22 horas, por exemplo
  • Individualização - Aquele arquivo é seu, só seu e nada de emprestar. Se emprestar, o player pode identificar que houve má-fé e até avisar ao produtor do conteúdo
  • Limite de execuções - Baixe uma vez, toque uma vez. Ou duas, ou quantas o dono do DRM quiser. E ele não é você.

Leia aqui a FAQ da Microsoft sobre DRM no Windows Vista.

E o Linux com isso?

Em parte eles estão certos e o Linux deverá adotar alguns dispositivos de DRM.

OK, agora que os Linuxiitas pararam de ler e foram pegar as tochas para vir atrás de mim, esclareço. Não fui eu quem disse isso, mas gente da Novel, RedHat e Linspire. Vão precisar de um monte de tochas, rapazes.

Tom Welch, CTO da Linspire diz:

Linspire ainda não adicionou DRM à sua distro mas gostaria, se nos for dada a oportunidade, se o DRM escolhido for usado em produtos de consumo, como o FairPlay, da Apple, ou o PlaysForSure, da Microsoft. Se alguém aparecer com um DRM open-source, nós o adotaremos, mas precisamos do apoio dos grandes provedores de conteúdo, também.

A visão deles é simples: O Linux precisa adotar o formato proprietário também, do contrário os grandes provedores de mídia, que não abandonarão o DRM passarão ao largo dos desktops Linux. Diga para um usuário que ele não poderá baixar uma música, comprada na loja do iTunes, ou um seriado baixado da Disney, por causa do Linux. Quantos segundos até ele voltar ao Windows?

A idéia de uma versão Open Source de DRM, entretando, me parece uma "cadeira-elétrica com almofada", ou aquele algodãozinho com álcool que usam pra desinfetar o braço do sujeito na hora da injeção letal.

Há dois caminhos aqui: Se o Linux bater pé e não topar DRM de jeito algum, uma grande parte dos usuários nunca terá acesso ao conteúdo dos grandes provedores. Prova disso é que a criptografia dos vídeos protegidos do WMV ainda não foi quebrada.

O outro caminho é aceitar e dar suporte a DRM, ao mesmo tempo que são feitos esforços para quebrar o mesmo, também em nível de kernel. Assim teríamos uma versão consumer e uma versão "patched", repetindo em software o que já foi feito em hardware, quando os fabricantes de DVDs em uma estratégia brilhante venceram o lobby da Codificação por Regiões incluindo menus escondidos e backdoors que desabilitam essa feature maldita.

O consumidor tem que fazer sua parte também. NÃO comprar mídia com DRM sempre que possível e demonstrar sua insatisfação, como colocado no artigo "Roube Música".

E o Linus o que acha?

Richard Stallman resolveu adotar o movimento radical anti-DRM como cruzada pessoal na versão 3.0 da GPL, o que, ironicamente, pode limitar muito sua adoção. Ao interferir no uso do software, a licença se torna uma peça de ativismo político. Exigir que todo equipamento que use software licenciado sob GPL 3.0 seja atualizável pelo usuário é bonito, mas impraticável.

Linus Torvalds diz, em entrevista à Forbes:

Eu prefiro votar com minhas escolhas pessoais (e meus dólares) do que tentar fazer de meu software uma "Arma de Opinião de Massa". Eu simplesmente me importo mais com algumas coisas do que outras. (Eu me recusaria a comprar um computador que não pudesse trocar o Sistema Operacional, mas uma lava-louças ou um Digital Video Recorder? Não é nada demais para mim.)

Linus Torvalds - Criador do Linux

Sobre DRM, ele toca em um ponto importante: É tecnologia, e tecnologia não é boa nem má, só o uso que fazemos dela.

A mesma tecnologia permite a você encriptar seu "querido diário", onde você conta seus mais secretos medos e todas as barbaridades que você nunca perpretaria, mas que não quer que outras pessoas sequer saibam que você pensou. Nesse ponto, não é mais DRM, é privacidade. Viu? É tecnicamente a mesma coisa, é só o uso que você faz dela, com outros nomes. A tecnologia básica envolve encriptação, chaves públicas e privadas, etc.

Finalizando, em outro artigo na Ars technica Linus afirma:

Tive algumas conversas privadas com várias pessoas sobre isso [DRM], e percebo que muita gente quer usar o kernel de alguma forma para fazer o DRM desaparecer, pelo menos no que se refere ao Linux. Ou por uma decisão política ou por meio de alterações na GPL. Como nas Patentes de Software, eu não necessariamente gosto de DRM, mas ainda me sinto da mesma forma. Não sou um Oppenheimer, e me recuso a fazer política com o Linux, acho que você pode usar o Linux para o que quiser, o que inclui muitas coisas que eu não necessariamente aprovo.

Conclusão

Linus 1 x Stallman 0

Real - perdeu por WO. O Jeff Ayars que me desculpe, mas a era da Real já era. Uma empresa que transformou uma dianteira na internet em incômodo? Foram os primeiros a prover áudio streaming, eram sinônimos de áudio online, produzem um player para Linux que na opinião de muita gente é melhor que a versão Windows mas se perderam.

Hoje o produto deles é um antro de Spyware/ Adware, vivem abrindo popups nojentos e comendo banda baixando publicidade. Seu formato proprietário é antipático e quase ninguém oferece suporte para produção / conversão de conteúdo. Estão apelando para players em celulares e PDAs de 2a linha, mas mesmo assim as alternativas Open Source são muito melhores.

Se você quer salvar sua companhia obsoleta, Jeff, boa sorte, mas não às custas da minha liberdade de escolha como consumidor, ok?

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