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Meiobit não aceita publicidade editorial (ou 8 motivos para o fracasso do PS3)

18 anos atrás

Introdução
Minha filosofia, enquanto usuário de computador e blogueiro, é: se tenho algo pra falar, falo mesmo. Este post eu estou escrevendo sem autorização do meu chefe supremo aqui do Meiobit, o Leo; apenas porque acho que devo escrevê-lo. Se eu não escrever mais por aqui é porque ele não gostou e me mandou embora :-))))Prólogo
O Laker publicou um artigo sobre o novo player de Blu-ray da Sony e alguns leitores sugeriram que o post seria uma prova de publicidade editorial do nosso site. Até surgiu um desafio, de um leitor, para que alguém aqui provasse que não recebemos nada da Sony (ou de qualquer outra empresa) para publicar artigos. Não que isso precise ser feito, mas como eu gosto de uma boa "briga" aqui vou eu.

Todo mundo sabe que a Sony lidera há algum tempo o mercado de consoles domésticos com a plataforma PlayStation. Todo mundo sabe que as promessas em torno do PS3 são grandes, por seu hardware e pelas possibilidades que abre. Decidi então falar sobre como a Sony está errando a mão e abrindo a possibilidade para que um grande rival (a Microsoft) consiga superá-la no mercado de games. Aqui começa esse meu artigo.

8 motivos que podem fazer o Sony PS3 ser um fracasso

1- Um ano de vantagem é muito tempo
O XBox 360 já terá quase um ano de mercado quando o PS3 chegar. Após atrasar a data de lançamento do console para Novembro de 2006 a Sony deu à Microsoft a chance de ouro. Quando o Xbox foi anunciado a Sony fez questão de dizer que o PS3 chegaria no primeiro trimestre de 2006. Os gamers pensaram que não haveira problema esperar apenas 4 meses pelo PS3. Mas agora que a Sony admitiu que quase um ano se passará entre a chegada do concorrente e seu produto pode ser que muitos não esperem tanto assim. O resultado pode ser um crescimento das vendas do XBox e menos consumidores dispostos a comprar um PS3 quando ele chegar. Se isso ocorrer a larga vantagem de mercado do Playstation pode ser fragilizada e a próxima geração de consoles (em 2009 talvez) pode ser dominada pelo produto da Microsoft.

2- Nova tecnologia, novos problemas
O Xbox usa um PowerPC de 3 núcleos a 3.2GHz, o PS3 vai usar o novo STI Cell. A tecnologia do PS3 é mais nova, portanto teoricamente melhor. Na prática ninguém sabe como o novo console da Sony desempenhará de verdade. Enquanto o XBox é uma realidade e está por aí vendendo como água o console da Sony é apenas uma promessa, nada mais. Boatos sobre as dificuldades da Sony em produzir um protótipo funcional da máquina, sobre os problemas do desenvolvimento de softwares que consigam tirar proveito do hardware inovador, sobre a inexistência de sequer um compilador que consiga criar binários para rodar com desemepenho esperado sobre a plataforma Cell (o único que se tem notícia, Octopiler, ainda nem entrou em Alpha) e sobre o descontentamento das produtoras de jogos para PlayStation sobre o que a Sony conseguiu mostrar de real até agora se espalham como gafanhotos na internet. Isso pode estar afetando a imagem de produto que existe na mente coletiva do mercado. Já vi isso acontecer antes e não é nada bom. O que pode ocorrer é que, ao chegar ao mercado, a idéia de que o console não é tudo que se esperava dele, mesmo que seja FUD, pode ser mais forte que o marketing da Sony e encalhar o produto nas lojas.

3- Blu-ray é uma péssima idéia
Lembrem do Betamax. Tecnicamente superior, comercialmente um fracasso. O Blu-ray, enquanto padrão para os nodos discos de mídia, pode até ser superior ao HD-DVD da Toshiba. Mas os problemas comerciais em torno da definição de padrões que envolveram desde estúdios de cinema até empresas de tecnologia são o calcanhar de aquiles. Unidades de reprodução caras, padrões não implementados por toda a indústria e dispositivos contra cópia muito bem implementados são, quase sempre, sinônimos de uma expressão medonha: fracasso comercial. Basta que as unidades de HD-DVD sejam 30% mais baratas que as de Blu-ray e o padrão vai micar. Com ele os discos de jogos de PS3, pois irão tornar-se caros e difíceis de achar. A proteção contra cópia irá impedir que os jogos tornem-se amplamente disponíveis e, de uma hora pra outra, ninguém vai querer um console com Blu-ray. O XBox vai tornar-se uma grande idéia, por usar o DVD comum como formato (altamente pirateável) com jogos baratos e de acesso fácil. Veremos de novo a luta PlayStation x Nintendo 64, onde o console que era tecnicamente superior perdeu a briga porque ninguém queria jogos em cartuchos, só que desta vez a Sony estaria em maus lençóis. Pode acontecer.

4- A Sony é especialista em enterrar bons produtos
Pense de novo no Betamax. E pense no Walkman. O Walkman, criado pela Sony, tirou a empresa do buraco financeiro no qual ela estava no final da década de 70 e imortalizou o estilo de ouvir música de uma geração. Genial a idéia de ouvir rádio ou fitas cassete (o padrão de mídia portátil da época) usando um aparelhinho leve e duas pilhas pequenas. Quando o formato de mídia mudou para o CD a Sony até que conseguiu manter-se em voga, mas já não era sombra de antes (quem aí teve um Discman da Sony?). Mas na terceira geração, com dispositivos de armazenamento de estado sólido, a Sony sumiu do mapa de vez e perdeu seu mercado para uma novata no ramo de música pessoal portátil, a Apple. Agora a SonyEricsson usa a marca Wlakman em celulares, coisa absurda. Agora pense nos consoles. Com o PS original a Sony conseguiu novamente sair do buraco e colocar seu nome novamente nas casas de milhares de pessoas e praticamente destruiu a concorrência. Na segunda geração de seu console já teve que encarar uma novata no ramo de video-games, a Microsoft, com seu horrível XBox. A grande razão pela qual o PS2 foi um sucesso é apenas porque, como console, o XBox era muito ruim. De console ele não tinha nada, era um Pentium III de 700MHz disfarçado que enganou uma parte do mercado. Agora a MS tem um console competente, jogos muito bons e está vendendo como água. Quem compra um PS2 hoje, está fazendo um péssimo negócio. O PS3 vai ter que ser muito bom mesmo para conseguir impedir uma virada do XBox 360 (ou seu sucessor) no mercado mundial. Novamente a dificuldade em copiar jogos de PS3 com Blu-ray e a facilidade de copiar DVDs de XBox 360 deve ser levada em conta. Em 3 dos 6 continentes (América, África, Ásia, Europa, Oceania e Antártida) o console com maior número de jogos piratas disponível será o que atrairá mais atenção do comprador. A Sony parece não ter aprendido isso na guerra com o Nintendo 64.

5- Não esqueça o Revolucionário
Engana-se quem considerar a Nintendo carta fora do baralho nessa briga. O console que pode ser a última cartada da mais antiga empresa de consoles ainda em atividade, o Nintendo Revolution, é uma máquina sobre a qual não se sabe nada. O que parece certo é que ela usará também um processador da IBM e que seu controle será totalmente diferente de tudo que você já viu antes. De resto ninguém faz idéia do que está para sair das mentes prodigiosas da tradicional Nintendo. Talvez embebida por sua liderança de mercado a Sony tenha esquecido que ainda há esse personagem para chegar ao palco. Se lançados na mesma época (fim de 2006) o Nintendo pode trazer surpresas em suas mangas e ofuscar o já problemático lançamento do PS3. Com parte do mercado já no XBox 360 e com holofotes voltados para o Revolution o PS3 pode chegar ao mercado com menos atenção do que gostaria (ou precisaria) a Sony para provocar a explosão nas vendas que é esperada para viabilizar a produção do PS3. Uma performance um pouco decepcionante do PS3 e seu destino pode estar mal-fadado para sempre.

6- Preço importa
Custando US$ 500,00 (ou até US$ 800,00 segundo os menos otimistas) o maior obstáculo do PS3 pode ser seu preço. Quando a Sony lançou o PS2 ele também era o console mais caro do mercado (e ainda é o mais caro de sua classe até hoje) a diferença é que na época ele custava cerca de 50% a mais que um DVD player normal. Entre um simples DVD player e um DVD player com um PS2 acoplado você compraria qual? A habilidade de substituir as máquinas de DVD foi o grande diferencial do produto PS2 e muitas casas optaram por adiar a compra de um DVD player e comprar logo um PS2 para as crianças (de todas as idades) da casa. Para que o PS3 faça o mesmo ele precisa que o Blu-ray como formato de mídia bem consolidado. Isso ainda não aconteceu. Não existe Blu-ray ainda e a pergunta que pode surgir na mente dos consumidores é: Devo comprar um console que usa discos que não encontro nas lojas e que custa 4x mais que um DVD comum? Da resposta dessa pergunta depende o sucesso de mercado do PS3.

7- Jogos, jogos, jogos
Pessoalmente o GT4 é uma grande decepção. O melhor da série, pra mim, ainda é o GT2, pois é mais difícil de pilotar. No GT4 basta frear certinho em todas as curvas que você vai bem. Acho o Enduro do Atari mais difícil de jogar que o GT4, sendo honesto. Para que os consumidores queiram o PS3 seus jogos devem ser mortalmente melhores que os antecessores. A MS conseguiu isso com o XBox (nada difícil aliás, graças à fata de qualidade do XBox original) e o desejo pelos jogos novos levou os donos de XBox à uma busca doentia pelos XBox 360. A Sony precisará mais do que um novo Final Fantasy para causar o mesmo furor nos clientes de PS2, pois este já é um console excelente. Jogos extraordinários serão essênciais para que os consumidores não decidam esperar pela diminuição de preço do PS3 antes de ir às lojas. Desde o primeiro dia o PS3 deverá vender como pão quente para que a Sony recupere o que ela investiu nesse projeto, qualquer coisa menor que isso coloca todo o futuro da plataforma em cheque.

8- Quando a força é a maior fraqueza
A força do PS3, supõe-se, está em seu hardware inovador. É aí que está também sua maior fraqueza. O hardware é tão inovador que é difícil programar pra ele. Para que seja mais fácil programar para ele é preciso que mais software de infra-estrutura seja desenvolvido. Para que isso ocorra é necessário que mais programadores estejam dispostos a programar para esse hardware. Para isso é necessário que mais hardware esteja disponível a preço acessível para os programadores. Esse ciclo de desenvolvimento depende de acessibilidade à plataforma. A IBM já anunciou que pretende que o Cell torne-se um hardware de ampla penetração em diversos nichos de mercado. Desde desktops normais a servidores e muitos outros dispositivos. Mas então o que difere um PS3 com teclado, mouse, HD e rede de um computador de mesa operado pelo Cell? Software é copiável e parece claro que um computador usando o mesmo hardware do PS3 irá, pelas mãos de hackers de plantão, rodar jogos de PS3, cedo ou tarde. Como então vender um console com características de computador a um público que pode comprar um computador com poder de fogo de um console? Sem o abismo de performance existente entre máqiunas dedicadas e genéricas computadores equipados com Cell podem roubar vendas de PS3 no mundo todo. Para evitar isso Sony e IBM podem assinar um acordo impedindo que computadores usando a plataforma Cell fiquem disponíveis ao mercado quando tudo estiver pronto. Isso daria espaço e fôlego para que a Sony vendesse seus consoles. Em contrapartida a falta de ecossistema para programadores criarem e melhorarem o código usado no Cell pode impedir que o hardware demonstre todo seu poder. Isso refletiria-se no desempenho do PS3, que poderia impressionar menos do que o prometido pela Sony até agora. Causando todo o cenário descrito no item 2.

São 8 razões pelas quais o PS3 pode chegar ao mercado e não sair-se tão bem quanto esperado.

Conclusão
Espero ter ficado claro nessa peça que a Sony (ou qualquer outra empresa) não patrocina nosso site de forma alguma porque o Meiobit recusa esse tipo de publicidade. Nosso compromisso é bem informar o leitor e permitir que ele tenha uma visão clara e honesta do mercado de tecnologia. O post original sobre o Blu-ray player só existe porque ele é o primeiro equipamento de sua categoria a estar disponível para o mercado doméstico. Por ser o primeiro, virou notícia. Nada mais.

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